Dólar cai e Bolsa sobe, com inflação dos Estados Unidos norteando apostas sobre juros

Investidores também analisavam números do setor de serviços brasileiro, que fomentou expectativa de alta na Selic

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São Paulo

O dólar apresenta queda nesta quarta-feira (11), com investidores ajustando apostas sobre a taxa de juros dos Estados Unidos após a divulgação de dados da inflação em linha com o esperado.

Às 11h02, a moeda caía 0,38%, a R$ 5,631 na venda. Já a Bolsa avançava 0,12%, aos 134.490 pontos, em dia de recuperação de commodities no exterior.

Os preços ao consumidor norte-americano subiram ligeiramente no mês passado, a 0,2%, depois de terem avançado na mesma taxa em julho. Nos 12 meses até agosto, o PCE (índice de preços de consumo pessoal, na sigla em inglês) desacelerou para 2,5%, o menor aumento anual desde fevereiro de 2021.

Analistas consultados pela Reuters esperavam 0,2% na base mensal e 2,6% na anual.

A imagem mostra várias notas de cem dólares dispostas de forma desordenada, com a face de Benjamin Franklin visível em algumas delas. As notas estão sobrepostas, criando um efeito de profundidade.
Na terça-feira, o dólar fechou em forte alta de 1,32%, aos R$ 5,653, e a Bolsa recuou 0,30%, aos 134.319 pontos - Rick Wilking/REUTERS

O indicador é um dos mais monitorados pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) para balizar a política monetária. A autoridade trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os dados de inflação e emprego para decidir sobre os juros. O objetivo é atingir o chamado "pouso suave", quando índices inflacionários convergem para a meta sem maiores danos ao mercado de trabalho do país.

Embora a inflação continue acima da meta de 2% do banco central, o PCE de agosto perdeu força em relação ao resultado de julho, quando a base anual marcou 2,9%.

Ao mesmo tempo, o relatório de emprego "payroll" (folha de pagamento, em inglês), divulgado na sexta-feira passada, mostrou uma desaceleração ordenada e sem grandes deteriorações nas taxas de ocupação, mas ficou abaixo das expectativas de analistas e não afastou por completo temores de que a maior economia do mundo estaria a caminho de uma recessão.

A leitura do mercado é que o Fed irá cortar os juros de forma gradual a partir da próxima reunião de política monetária, que acontece na semana que vem, entre os dias 17 e 18 de setembro. A taxa está na faixa de 5,25% e 5,50% desde junho do ano passado —o patamar mais restritivo em duas décadas.

"O dado acaba consolidando a ideia de que um corte de juros de 0,50 ponto percentual pelo Fed é muito improvável", disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

"Isso deve mostrar que ainda há tempo para se fazer ajustes graduais da trajetória dos juros no país, e com isso consolida a ideia de que os juros não vão cair tão rápido quanto alguns temiam."

As apostas de um corte de 0,25 ponto percentual reuniam 85% dos operadores na ferramenta FedWatch, acima dos 71% de antes dos dados.

O dólar costuma se depreciar à medida que os juros dos EUA caem, já que a queda nos rendimentos da renda fixa americana estimula a busca por ativos de maior risco. Para o real, há ainda outro fator de relevância: a discussão em torno da taxa básica de juros do país, a Selic, atualmente em 10,50% ao ano.

Desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em julho, dirigentes do BC (Banco Central) têm reiterado que um novo ciclo de aperto está à mesa para levar a inflação de volta ao centro da meta, caso os dados macroeconômicos indiquem necessidade.

Uma bateria de indicadores na semana passada reforçou a hipótese de que a Selic poderá subir no próximo encontro do Copom, também marcado para os dias 17 e 18 de setembro.

O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.

Na terça-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial do país, teve queda de 0,02% em agosto.

Foi a primeira deflação desde junho de 2023, quando a baixa havia sido de 0,08%. O mercado projetava leve variação positiva de 0,01%, de acordo com a agência Bloomberg.

Com os dados de agosto, o IPCA passou a registrar uma inflação menor, de 4,24%, no acumulado de 12 meses. É uma desaceleração ante a taxa de 4,5% até julho, quando estava no teto da meta trabalhada pelo BC.

A deflação, apesar de positiva, não foi o suficiente para reverter as projeções de alta na Selic até o final do ano.

"Apesar de acreditarmos que não faz sentido subir juros nesse contexto [de deflação], a desancoragem das expectativas inflacionárias nos últimos meses terá maior peso sobre o processo decisório do Copom", diz André Valério, economista-sênior do Inter.

É a mesma visão de Bruna Sene, analista da Rico Investimentos. Para ela, o IPCA pode não ser o suficiente para "mudar o racional de alta de 0,25 ponto da Selic, apenas enfraquece a possibilidade de 0,50 ponto" de aperto.

Dados de serviços consolidaram essa visão nesta quarta-feira. A atividade do setor, segundo o IBGE, avançou 1,2% em julho e renovou o patamar recorde, ante expectativa de recuo de 0,1%.

O resultado reforça o cenário de uma economia forte e aquecida, com potencial de gerar pressões inflacionárias nos próximos meses. Com isso, operadores colocavam 91% de chance do BC aumentar a Selic em 0,25 ponto percentual no encontro da semana que vem, segundo a agência Reuters.

Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de "carry trade" —isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

Com Reuters

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