Descrição de chapéu clima

Eventos climáticos que demandam recursos podem deixar de ser extraordinários, diz Haddad

Ministro afirma que recorrência de acontecimentos extremos pode levar a adequações no Orçamento

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São Paulo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira (16) que os eventos climáticos que demandam recursos públicos podem deixar de ser extraordinários com o agravamento da crise do clima.

Ele participou esta noite de um evento do jornal Valor Econômico em um hotel na zona sul de São Paulo.

Haddad começou sua participação afirmando que as questões ambientais, que têm preocupado a população, com o exemplo das queimadas registradas nos últimos dias, não podem mais ser consideradas como eventos fora da agenda.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em encontro do G20 no Rio de Janeiro - Pablo Porciuncula - 26.jul.2024/AFP

"Talvez o extraordinário não seja tão extraordinário daqui para frente, talvez [eu] seja dos primeiros ministros da Fazenda do G20 que tenha colocado os problemas e oportunidades que a questão climática gera no radar", disse Haddad.

Segundo ele, após a tragédia no Rio Grande do Sul, em maio, foram mapeados segmentos e desenhadas ações específicas. Dois meses depois da tragédia, os municípios gaúchos reagiram e os prefeitos começaram a bater recordes de arrecadação.

"Em vez de transferir recursos de cofre público para cofre público, alimentamos a economia gaúcha para que ela fosse a propulsora da recuperação. Agora estamos lidando com outra questão, os focos de incêndio no Pantanal no ano passado foram uma espécie de laboratório para esse problema", diz o ministro.

O titular da Fazenda lembrou que a mudança climática que é o principal problema, mas que também existe o crime associado a ela, e a situação torna-se mais difícil de administrar.

"Vivemos um período longo de negacionismo climático, científico e sanitário que agravou as consequências que seriam previstas. Mas penso que o Brasil está voltando ao bom caminho."

Para o ministro, se os eventos extraordinários tornarem-se recorrentes, será necessário adequar o Orçamento para acomodá-los.

"Não penso que seja uma violação, mas se começar a ter a ocorrência cotidiana disso, se virar uma despesa recorrente, vai ter de ser feita uma adequação do Orçamento prevendo recursos. Seria o mesmo que exigir que a pandemia fosse enfrentada dentro das regras do antigo teto de gastos"

No domingo (15), o ministro Flávio Dino, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a abrir créditos extraordinários para o combate às queimadas na amazônia e no pantanal, realizando despesas fora do limite de gastos do arcabouço e da meta fiscal.

Haddad também comentou as movimentações de juros no Brasil e nos Estados Unidos e a troca de comando no Banco Central. No mês passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indicou Gabriel Galípolo para suceder Roberto Campos Neto no comando da autoridade monetária em 2026.

"[O presidente] Indica pensando que é o quadro que melhor vai responder aos desafios do momento, não é para fazer o que Haddad ou o presidente quer. É para levar em consideração essa trajetória que está sendo observada e reconstruída", disse o ministro.

Segundo Haddad, houve um descompasso dos bancos centrais em todo o mundo. "Desde o ano passado estou acompanhando todas as discussões do BC do G20, todo mundo tinha certeza de que o Fed iria começar a cortar juros em junho, e não veio. Pior, veio uma comunicação torta, que fez todo mundo pensar que poderia subir."

Nesta semana, ocorrem decisões sobre juros no Brasil e nos Estados Unidos. Enquanto no cenário local a previsão é de alta de juros, o Fed deve iniciar um afrouxamento, cortando suas taxas de empréstimo pela primeira vez desde 2020.

O ministro também afirmou que as preocupações com a situação fiscal do país são legítimas, mas que os Poderes vão responder ao desafio, se tiver sido feito um trabalho prévio de esclarecimento.

"Não estamos nos escondendo ou fingindo que as coisas não estão acontecendo, melhoramos muito. Este país estava sendo drenado por vários players que estavam se beneficiando indefinidamente", disse Haddad.

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