Descrição de chapéu G20 g8

Fumaça de incêndios ofusca discurso sustentável de ministros da Agricultura do G20

Evento acontece na região da Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, castigada pela falta de chuvas e atingida por incêndios

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Cuiabá e Chapada dos Guimarães (MT)

Era para ser um cartão-postal: os ministros da Agricultura das principais economias do mundo discutindo os próximos caminhos para um agronegócio ambientalmente responsável ao lado do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso.

Mas a fumaça ofuscou a abertura do evento do G20 no Brasil, que inicialmente seria em Cuiabá, mas foi transferido para o resort de luxo ligado ao ex-senador e ex-ministro Blairo Maggi.

A imagem mostra uma paisagem de floresta com árvores secas e sem folhas, em um ambiente com névoa ou fumaça, criando uma atmosfera de desolação. O céu apresenta uma coloração esverdeada, e o solo é visivelmente seco.
Paisagem de terra queimada, com vegetação seca e fumaça na estrada entre Cuiabá e Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso - Douglas Gavras/Folhapress

Na primeira semana de setembro, 35 focos de calor foram registrados na região. Os incêndios começaram fora da unidade de conservação e se espalharam, devido à estiagem, calor e vegetação seca.

Já no caminho entre a capital e o local do evento, o cheiro de fumaça confunde os sentidos, a paisagem é seca e não há sinais de animais, o céu ganha um tom esverdeado.

"Muitas vezes, o fogo de vem de propriedades no entorno do parque e acaba atingindo os limites. É um grande problema para quem opera com passeios", conta o agente turístico Felipe Campos, 30, há sete anos trabalhando no setor.

Os incêndios na Chapada dos Guimarães levaram o ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) a fechar atrações do Parque Nacional, incluindo cachoeiras e mirantes.

Pontos de visitação, como o morro de São Gerônimo, o Circuito de Cachoeiras e o mais conhecido, o Véu de Noiva, foram fechados.

Os turistas que tinham agendado passeios até o parque foram transferidos para outros locais próximos, como Nobres (a 120 km de Cuiabá).

O turista fica apreensivo, com medo de ir na trilha e ser engolido pelo fogo, conta Campos. Na última segunda-feira (9), ao levar um grupo de visitantes, ele flagrou trechos da chapada em chamas.

"Sim, prejudica os negócios, mas conseguimos dar um jeito. Quem perde mesmo com tudo isso é a natureza", lamenta.

A imagem mostra um cenário de incêndio florestal, com chamas laranjas e fumaça densa. No centro, há uma árvore seca e retorcida, com galhos expostos, cercada por vegetação que está pegando fogo. O fundo é obscuro devido à fumaça.
Chapada dos Guimarães (MT) em chamas, próximo ao mirante do Centro Geodésico - Felipe Campos/Leitor

"A fumaça é mais pesada pela manhã, em tempos normais dá para ver o contorno da chapada de partes da cidade", diz o motorista Júlio Santos, 45, morador da capital.

O cheiro de queimado, que pode ser sentida com mais intensidade nas primeiras horas do dia, agora encurtou o horizonte cuiabano e dificulta a respiração.

Santos não consegui visitar a propriedade rural um amigo na região. A fumaça na estrada não permitia a viagem em segurança.

"Em setembro, já era para ter vindo a chuva, mas ainda não teve. Esperamos que ela, ao menos, chegue em outubro e que fique mais intensa em novembro. Tomara."

Uma diplomata que participa do evento disse que era uma pena não ter podido visitar o parque, mas que o forte cheiro de queimado pode ser um lembrete importante para as delegações, de que a questão climática não é um problema abstrato.

O encontro previa uma visita no sábado (14) a uma fazenda de soja da região, mas que foi cancelada. Segundo o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), o cancelamento se deve pelas reuniões bilaterais marcadas.

A imagem mostra uma paisagem de terra queimada, com vegetação seca e árvores esparsas ao fundo. O céu apresenta uma tonalidade esverdeada, indicando possível fumaça ou poluição. Há uma cerca visível, e o solo é predominantemente seco e árido.
Paisagem de terra queimada, com vegetação seca e fumaça na estrada entre Cuiabá e Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso - Douglas Gavras/Folhapress

Conforme mostrou reportagem da Folha, o local do evento, o complexo Malai Manso em Chapada dos Guimarães tem entre seus sócios André Souza Maggi, filho de Blairo —que também foi governador de Mato Grosso (2003-2010).

Como ministro da área, Fávaro deu a palavra final sobre o local do encontro. Aliado de Maggi, ele recebeu apoio do empresário na sua campanha para o Senado em 2020.

"Estamos vivendo uma seca severa e o Rio Grande do Sul teve uma enchente. Cabe a nós apresentarmos propostas e compromissos de um mundo mais eficiente e equilibrado. Sustentabilidade e agricultura são possíveis, não cabe apontar culpados", disse o ministro, na abertura dos trabalhos desta quinta-feira.

Segundo ele, é uma determinação do presidente Lula (PT) que o Brasil não irá seguir "o modelo que nos trouxe até aqui". "Não precisamos mais avançar sobre florestas e cerrados para intensificar a produção de alimentos."

Na terça-feira (10), a Polícia Civil do estado divulgou que 17 pessoas foram detidas em flagrante, durante investigações para apurar incêndios criminosos em Mato Grosso, entre janeiro e 9 de setembro. Foram instaurados 14 procedimentos para investigar queimadas.

Em sua fala no G20, o governador Mauro Mendes (União Brasil) ressaltou a preocupação por parte do estado com a preservação ambiental.

"Estamos há quase cinco meses sem chuvas, é apenas um exemplo de tantos outros registros ao redor do mundo que demonstram que as mudanças climáticas são uma realidade", disse.

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