Descrição de chapéu REM-F

Cidades do agro enriquecem, mas ficam devendo em eficiência

Segundo ranking da Folha, municípios ligados à atividade entregam menos saúde, educação e saneamento

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São Paulo

Em franca expansão e enriquecimento nos últimos anos, os municípios do Centro-Oeste ligados ao agronegócio tem evoluído rápido, mas ainda devem muito em termos de gestão das prefeituras.

Na região com a maior receita per capita atualmente no Brasil, estas cidades apresentam o segundo menor grau de eficiência, à frente apenas do Norte, mas atrás do Nordeste menos rico. Algo semelhante ocorre no Rio Grande do Sul, estado agrícola que tem a segunda melhor receita per capita do país, mas com municípios menos eficientes em relação aos demais da região Sul.

Loteamento novo ocupa lugar de antigas lavouras na cidade de Sorriso (MT), maior produtor de grãos do país.
Loteamento novo ocupa lugar de antigas lavouras na cidade de Sorriso (MT), maior produtor de grãos do país. - Fernando Canzian/Folhapress - 19.jun.2023

Segundo o REM-F (Ranking de Eficiência dos Municípios - Folha), ferramenta para aferir quanto as prefeituras entregam em saúde, educação e saneamento com menos recursos financeiros, apenas 45,8% dos municípios do Centro-Oeste podem ser considerados "eficientes" ou tendo "alguma eficiência". No Nordeste, eles chegam a 78,6% do total —e são 25,9% no Norte.

Mas cidades do Mato Grosso líderes na produção agrícola como Sorriso, Sapezal e Campo Novo do Parecis aparecem no REM-F como tendo "alguma eficiência" na gestão, apesar de serem relativamente novas.

Visitadas pela Folha no ano passado, elas visivelmente estão enriquecendo rápido e tomando medidas para melhorar a vida da população, sobretudo na infraestrutura. Em 16 anos, o PIB (Produto Interno Bruto) do Mato Grosso cresceu 121,3%, segundo a MB Associados. Como comparação, a evolução do paulista foi de 41,5%.

Em Sorriso, maior produtora de soja do Brasil, a população aumentou de 85 mil para 110,6 mil habitantes desde 2017; e o PIB saltou de R$ 3,9 bilhões para R$ 14 bilhões com a chegada de novas empresas e sedes contábeis de fazendas do Mato Grosso.

Um dos problemas relatados pelo prefeito Ari Lafin (PSDB) é a falta de vagas nas escolas, um dos indicadores do REM-F. Segundo ele, a prefeitura tem se desdobrado para atender o volume de filhos de migrantes que procuram trabalho na cidade.

O maranhense Janildo Oliveira (à dir.) com outros conterrâneos que levou de seu estado a Sorriso, no Mato Grosso, para trabalhar na construção civil.
O maranhense Janildo Oliveira (à dir.) com outros conterrâneos que levou de seu estado a Sorriso, no Mato Grosso, para trabalhar na construção civil. - Fernando Canzian/Folhapress - 19.jun.2023

Em Campo Novo do Parecis, segundo a prefeitura, o total de empresas saltou de 1.454 para 5.518 de 2016 a 2023, e, de acordo com o vice-prefeito Antonio Brolio (Republicanos), a falta de mão de obra é generalizada na cidade de 46 mil habitantes.

Segundo a FGV Social, a renda média per capita do trabalho no Centro-Oeste predominantemente agrícola é hoje a maior do país. Em desigualdade medida pelo índice de Gini (de 0 a 1; quanto menor, melhor), é a segunda região menos desigual (0,57), só atrás do Sul (0,54), agrícola há muitas décadas.

No caso desses municípios mato-grossenses, que têm se tornado centros importantes e com crescimento acelerado, uma das explicações para a melhora da eficiência é que o setor de serviços vai ganhando tração, a reboque da riqueza do agronegócio.

Em cidades em que o valor agregado para o PIB é liderado pelos serviços ou indústria, 88% e 74,3% das cidades, respectivamente, podem ser consideradas "eficientes" ou com "alguma eficiência", segundo dados do REM-F.

Já a atividade agropecuária em si, apesar de sua pujança, geração de riqueza e dólares para o país, reúne o percentual de municípios com menos eficiência: apenas 55% do total (incluindo os de estados como Rio Grande do Sul e Paraná) são "eficientes" ou têm "alguma eficiência".

Mas, em muitos estados agrícolas, a indústria também vai ganhando terreno. Na esteira do boom do agronegócio, o Brasil se consolidou em 2022 como o maior exportador mundial de alimentos industrializados em volume, com 64,7 milhões de toneladas, à frente dos Estados Unidos.

Além da industrialização de produtos tradicionais como açúcar, proteína animal, óleo de soja e suco de laranja, o setor cresce nas áreas de derivados de trigo (como biscoitos), produtos lácteos e café, inclusive em cápsulas, entre outros.

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