Em franca expansão e enriquecimento nos últimos anos, os municípios do Centro-Oeste ligados ao agronegócio tem evoluído rápido, mas ainda devem muito em termos de gestão das prefeituras.
Na região com a maior receita per capita atualmente no Brasil, estas cidades apresentam o segundo menor grau de eficiência, à frente apenas do Norte, mas atrás do Nordeste menos rico. Algo semelhante ocorre no Rio Grande do Sul, estado agrícola que tem a segunda melhor receita per capita do país, mas com municípios menos eficientes em relação aos demais da região Sul.
Segundo o REM-F (Ranking de Eficiência dos Municípios - Folha), ferramenta para aferir quanto as prefeituras entregam em saúde, educação e saneamento com menos recursos financeiros, apenas 45,8% dos municípios do Centro-Oeste podem ser considerados "eficientes" ou tendo "alguma eficiência". No Nordeste, eles chegam a 78,6% do total —e são 25,9% no Norte.
Mas cidades do Mato Grosso líderes na produção agrícola como Sorriso, Sapezal e Campo Novo do Parecis aparecem no REM-F como tendo "alguma eficiência" na gestão, apesar de serem relativamente novas.
Visitadas pela Folha no ano passado, elas visivelmente estão enriquecendo rápido e tomando medidas para melhorar a vida da população, sobretudo na infraestrutura. Em 16 anos, o PIB (Produto Interno Bruto) do Mato Grosso cresceu 121,3%, segundo a MB Associados. Como comparação, a evolução do paulista foi de 41,5%.
Em Sorriso, maior produtora de soja do Brasil, a população aumentou de 85 mil para 110,6 mil habitantes desde 2017; e o PIB saltou de R$ 3,9 bilhões para R$ 14 bilhões com a chegada de novas empresas e sedes contábeis de fazendas do Mato Grosso.
Um dos problemas relatados pelo prefeito Ari Lafin (PSDB) é a falta de vagas nas escolas, um dos indicadores do REM-F. Segundo ele, a prefeitura tem se desdobrado para atender o volume de filhos de migrantes que procuram trabalho na cidade.
Em Campo Novo do Parecis, segundo a prefeitura, o total de empresas saltou de 1.454 para 5.518 de 2016 a 2023, e, de acordo com o vice-prefeito Antonio Brolio (Republicanos), a falta de mão de obra é generalizada na cidade de 46 mil habitantes.
Segundo a FGV Social, a renda média per capita do trabalho no Centro-Oeste predominantemente agrícola é hoje a maior do país. Em desigualdade medida pelo índice de Gini (de 0 a 1; quanto menor, melhor), é a segunda região menos desigual (0,57), só atrás do Sul (0,54), agrícola há muitas décadas.
No caso desses municípios mato-grossenses, que têm se tornado centros importantes e com crescimento acelerado, uma das explicações para a melhora da eficiência é que o setor de serviços vai ganhando tração, a reboque da riqueza do agronegócio.
Em cidades em que o valor agregado para o PIB é liderado pelos serviços ou indústria, 88% e 74,3% das cidades, respectivamente, podem ser consideradas "eficientes" ou com "alguma eficiência", segundo dados do REM-F.
Já a atividade agropecuária em si, apesar de sua pujança, geração de riqueza e dólares para o país, reúne o percentual de municípios com menos eficiência: apenas 55% do total (incluindo os de estados como Rio Grande do Sul e Paraná) são "eficientes" ou têm "alguma eficiência".
Mas, em muitos estados agrícolas, a indústria também vai ganhando terreno. Na esteira do boom do agronegócio, o Brasil se consolidou em 2022 como o maior exportador mundial de alimentos industrializados em volume, com 64,7 milhões de toneladas, à frente dos Estados Unidos.
Além da industrialização de produtos tradicionais como açúcar, proteína animal, óleo de soja e suco de laranja, o setor cresce nas áreas de derivados de trigo (como biscoitos), produtos lácteos e café, inclusive em cápsulas, entre outros.
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