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Inteligência artificial reduz risco de acidente automotivo, mas ciberataques preocupam

Sistemas de segurança e de conectividade precisam de proteção contra invasores, diz especialista

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João Vitor Ferreira
São Paulo

Carros atuais podem trazer mais recursos de conectividade e IA (inteligência artificial) que os motoristas imaginam. As ações ao volante e o mundo ao redor podem ser monitorados, reduzindo o risco de acidentes. Contudo, as tecnologias também trazem riscos cibernéticos.

Do lado positivo, o ADAS merece destaque. A sigla em inglês significa Sistema Avançado de Assistência ao Condutor. O equipamento reúne dados através de câmeras, radares e sensores e, caso necessário emite alertas ao motorista e até interfere nos freios ou na direção em emergências.

A automação é dividida em níveis. No 1 e no 2, o veículo já é capaz de manter a velocidade e a trajetória, fazer frenagens e orientar o motorista nas manobras de estacionamento. Mas em todos os momentos o condutor deve estar presente e com as mãos no volante.

Carro com sistema de frenagem automática (á esq.) passa por teste em pista na cidade chinesa de Qionghai; obstáculo feito de papel e espuma simula um veículo parado à frente - Guo Cheng/Xinhua

No nível 3, a IA já assume total controle do veículo em determinadas situações. Entre os exemplos estão os sistemas desenvolvidos por BMW e Mercedes-Benz, que são capazes de identificar sinais de trânsito e compartilhar dados para interpretar os eventos que ocorrem na rota predefinida, como acidentes ou obras.

Subindo para o nível 4, o controle da IA sobre o veículo aumenta e ela passa a pedir auxílio do condutor apenas em situações de maior complexidade. Já no nível 5, o computador é responsável por todas as ações.

Nos EUA, algumas empresas testam serviços de táxi totalmente operado por inteligência, como o Cruise, da GM. Entretanto, no final de 2023, a montadora encerrou a circulação dos carros devido a acidentes e vem fazendo sucessivos cortes no programa.

Já a Waymo, subsidiária da Alphabet (dona da Google), segue oferecendo os serviços de carros autônomos na Califórnia. Os testes começaram em março, sendo possível solicitar os veículos —modelos elétricos da Jaguar— por meio de aplicativo em uma área de aproximadamente cem quilômetros quadrados.

Para o professor Fernando Osório, do Centro de Robótica da USP (Universidade de São Paulo), a IA consegue operar bem auxiliando um humano, mas existem diversas situações do trânsito que os computadores ainda não conseguem interpretar.

"A inteligência artificial não compreende níveis de reações humanos e flexibilidades em determinadas situações. As pessoas atravessam fora da faixa, sem olhar se está vindo um carro. Essas condições e a má infraestrutura atrapalham o desenvolvimento [da IA]."

Osório imagina uma situação hipotética, onde, ao virar uma esquina, há algo bloqueando a visão do motorista. A tecnologia ajudaria a evitar um possível acidente. "Ele poderia receber um alerta ou até uma imagem do ponto cego vindo de uma câmera pública" Tudo isso ocorreria de maneira quase que imediata, graças à velocidade do 5G.

Mas existe o outro lado da moeda. Ao mesmo tempo que a V2X (sigla que se refere à conexão dos veículos com as demais coisas que ele possa interagir) permite esses avanços, ela abre espaço para que a segurança do motorista entre em risco.

Segundo Murilo Ortolan, diretor de tendências tecnológicas da AEA (Associação de Engenharia Automotiva), a principal vulnerabilidade dos carros modernos está na cibersegurança e na proteção dos dados coletados pelos sistemas. Criminosos estão descobrindo maneiras de hackear os carros remotamente, podendo invadir sistemas e, no pior dos cenários, assumir o controle do veículo.

Já existem casos em que os hackers conseguiram fazer isso. Em 2022, um jovem de 19 anos conseguiu acessar 25 Teslas remotamente em 13 países diferentes, conseguindo abrir as portas, dar partida e utilizar a central multimídia.

Já Kevin Fu, professor de ciência da computação da Northeastern University, nos Estados Unidos, provou que é possível invadir sistemas para manipular câmeras e sensores do ADAS, fazendo com que os recursos fiquem confusos e funcionem de maneira errada.

Para evitar isso, a solução é investir na cibersegurança e na regulamentação dos recursos tecnológicos. O Brasil, por exemplo, assinou um acordo recente para aceitar a regulamentação definida pela Unece (Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa).

Marcelo Ayres Branquinho, CEO da TI Safe, afirma que é preciso ir além e sugere que os carros saiam de fábrica com sistemas antimalware instalados em suas centrais multimídia.

"Como qualquer dispositivo conectado à internet, essas centrais são vulneráveis a ataques cibernéticos", diz o executivo. "O sistema Android, amplamente utilizado, é um alvo popular para malwares devido à sua natureza aberta e à vasta quantidade de aplicativos disponíveis."

Branquinho diz que a melhor forma de manter a segurança é não conectar a central multimídia diretamente a uma rede de internet.

"Caso queiram ou precisem conectar seus veículos à internet, recomendo usar preferencialmente a conexão 4G ou 5G do smartphone. Mas é essencial ter uma boa solução de antimalware instalada no telefone e monitorar o uso para garantir que a conexão permaneça protegida."

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