Professores que têm seus próprios cursos ensinam a empreender

Crise da pandemia leva a aumento no número de docentes que buscam trabalhar por conta própria

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São Paulo

Com a crise, mais professores têm buscado trabalhar por conta própria. Além de saber ensinar, eles precisam aprender noções de gestão e ganhar intimidade com as ferramentas digitais para chegar aos alunos durante a pandemia.

Neste período, mais professores procuraram informações sobre como começar um negócio no Sebrae-SP, segundo Wilson Poit, superintendente da entidade.

A professora Luciana Migliaccio, 47, conhecida como Lucy, teve que adaptar suas aulas para transmissões ao vivo durante a quarentena. Ela inaugurou seu curso de redação, o Margem da Palavra, em São Paulo, no ano passado.

"Essa experiência abriu nossos olhos para essas tecnologias, vimos que não é um bicho de sete cabeças", diz.

Por conseguir oferecer o conteúdo pela internet, Lucy viu uma alta na procura pelos seus cursos durante a pandemia —hoje tem 35 alunos regulares.

Mulher loira com blusa preta sentada em sala com cadeiras amarelas
A professora Luciana Migliaccio, a Lucy, na sala do seu curso, no Brooklin, a zona sul de SP - Danilo Verpa/Folhapress

Ela, que dá aulas há 20 anos num cursinho pré-vestibular, onde também elabora o material didático, criou o Margem da Palavra ao perceber uma demanda dos estudantes por um atendimento individualizado.

"Com tantos anos de carreira, chegou uma hora que eu queria autonomia. O curso e meu trabalho no cursinho são complementares", diz.

Para um professor que já tenha seu nome estabelecido no mercado, é mais fácil conseguir alunos para um curso próprio. Esse reconhecimento pode vir tanto por trabalhar em instituições respeitadas quanto por ter muitos seguidores nas redes sociais.

Captar alunos é um dos desafios. Ao decidir trabalhar por conta própria, o professor deixa de ter toda a estrutura de uma instituição de ensino para ajudá-lo, ressalta Giovana Vieira, professora da FIA (Fundação Instituto de Administração).

Ele precisa pensar em seu público alvo, na infraestrutura, em fazer marketing, gerenciamento financeiro e ainda criar um curso atrativo.

"É uma oportunidade, mas antes de se lançar no mercado, ele tem que pensar se vai estar preparado para fazer a gestão do negócio", diz.

O professor Paulo Jubilut, 40, é dono do Biologia Total, plataforma de ensino virtual que engloba conteúdos de biologia, física, química e matemática. A empresa emprega 40 funcionários e atende entre 150 mil e 200 mil alunos ao ano.

Em 2011, após ser demitido de um cursinho, Jubilut decidiu postar aulas no YouTube, quando poucos faziam isso, e os seguidores começaram a aparecer. Dois anos depois, criou a empresa para vender cursos por assinatura —hoje, o valor é de R$ 16,67 ao mês, o que só é praticável pela quantidade de estudantes.

Ele considera que começar um curso agora é mais difícil do que foi há sete anos. "Hoje, há plataformas bem desenvolvidas, e o estilo caseiro, do professor gravando em casa, não funciona mais."

Para novos empreendedores na área, Jubilut aconselha a não gastar com a criação de uma plataforma própria logo de cara. O melhor seria primeiro construir um nome pelas redes sociais e, então, utilizar sites que hospedam cursos, como o Hotmart.

O professor pensava em ter também um curso presencial, mas, com a pandemia, desistiu da ideia. Sua empresa, que teve uma alta de 4% nas vendas no ano passado, passou a crescer 50% desde março, com o aumento da procura por aulas online.

No pós-pandemia, o modelo que será mais bem-sucedido deve misturar ensino a distância e presencial, na opinião de Giovana Vieira, da FIA.

A possibilidade de oferecer conteúdo pela internet aumentou a quantidade de cursos oferecidos, o que tornou o mercado muito competitivo. Por isso, é preciso ter um diferencial para se sobressair.

O professor Frederico Torres, 33, —mais conhecido como professor Fredão—, formado em estatística, desenvolveu um estilo próprio para gravar seus conteúdos sobre matemática. Nos vídeos, só sua mão aparece, executando ações em um tablet.

Pouco antes da pandemia, Torres começou a investir no YouTube, postando algumas aulas na rede, com a ideia de ampliar a sua presença no mundo digital.

Desde 2017, ele está à frente do curso Mente Matemática, em Brasília. Nele, também leciona com uma metodologia própria: faz análise estatística do desempenho dos estudantes para treinar seus pontos fracos e os ensina a fazer cálculos de cabeça.

Neste período, Torres tem enviado aulas gravadas aos alunos, fornecido material com exercícios e tirado as dúvidas por meio de lives.

Os cursos semestrais custam entre R$ 279 e R$ 319 por mês. Já a mensalidade do programa anual é R$ 259. Ao longo de 2019, o Mente Matemática teve 80 alunos.

Para agosto, Torres planeja o lançamento de uma plataforma virtual para seus cursos. Não pretende abandonar, no entanto, as aulas presencias depois da pandemia.

Ao empreender, professores precisam ser também vendedores, diz Poit, do Sebrae. "Não tenha vergonha. Para todo cliente que você atende, peça indicação de mais dois ou três", afirma.

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