Ambulantes reforçam estoque e evitam megablocos para lucrar no Carnaval

Contratar repositor e escolher bebida conforme o público também são estratégias

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São Paulo

Os vendedores ambulantes da cidade de São Paulo contratam funcionários, escolhem bebidas conforme o público dos blocos, levam estoque reserva e se comunicam por redes sociais para descobrir os cortejos mais lucrativos do Carnaval no município.

No ano passado, os cortejos de rua da capital paulista reuniram 15 mil vendedores de bebidas credenciados junto à Prefeitura, além de número incerto de ambulantes sem credenciamento.

"É a época mais esperada do ano", diz Rogério Morais, 34. Exige trabalho duro, das 7h às 22h, mas pode render R$ 25 mil de lucro –como "em um bom Carnaval", antes da pandemia.

"Se tiver R$ 15 mil pra investir, eu coloco", conta Edinaldo Nascimento, 42, ambulante há 12 anos, "porque bebida não estraga e, na pior das hipóteses, eu vendo depois que o Carnaval acabar". Ele considerou o lucro do Carnaval de 2023 "fraco": R$ 5.000, contando pré-Carnaval e pós.

Mulher negra vestindo colete amaralo segura isopor e guarda-sol
A ambulante Bruna Inácio, 34, trabalha no Carnaval de rua de São Paulo desde 2015 - Lucas Seixas/Folhapress

A ambulante Bruna Inácio, 34, usa a mesma estratégia de investimento. Coloca todo o dinheiro à disposição no ponto de venda montado pela Ambev no bairro da Barra Funda antes do Carnaval.

No mesmo local, ambulantes cadastrados fazem um curso ministrado pela empresa, que é a patrocinadora oficial do evento. "Eles explicam que não pode vender pra menor de idade, não pode ter preconceito [com minorias], e não pode vender garrafa de vidro", diz Rogério.

Ao vencer o edital da Prefeitura, a Ambev ganha o monopólio de venda de bebidas nos blocos de carnaval em São Paulo (SP), o que obriga camelôs a vender apenas produtos da empresa. Neste mesmo local de treinamento e venda de bebidas, eles retiram um guarda-sol e isopor oferecidos pela cervejaria.

Bruna trabalha em portas de estádios, na Virada Esportiva e na Parada Gay ao longo do ano. Ela diz que, durante o Carnaval, organiza as bebidas conforme o público de cada bloco. No cortejo da cantora Pabllo Vittar, os foliões preferem a bebida alcoólica açucarada Skol Beats, afirma. No bloco Bem Sertanejo, do cantor Michel Teló, cerveja.

"Gosto do público universitário", diz Morais, ambulante mais experiente entre os entrevistados. "Mais animados, gostam de bagunça, e bebem até cair." Ele trabalha como motorista de aplicativo durante a semana e, aos fins de semana, vende bebidas na porta de festas noturnas.

"Já percebi que não dá pra ir [nos blocos] dos cantores mais famosos", diz a atendente de telemarketing Thalyta Caroliny, 28, que trabalhará no Carnaval pela segunda vez este ano. "Ano passado, o bloco da [cantora] Lexa tinha mais marreteiro [como são chamados os ambulantes na cidade] do que folião."

Em 2023, Thalyta investiu R$ 800 e lucrou cerca de R$ 1.500 nos quatro dias de Carnaval. Este ano, ela vai trabalhar nos blocos de bairro. "Vou ver nas enquetes do WhatsApp e do Facebook quais blocos vão ter menos marreteiros", explica. "E vou justamente nesses".

Grupos nas redes sociais servem para trocar dicas de trabalho e sugerir blocos mais lucrativos. Pamela Cavalcante, 29, é administradora de um desses espaços –hoje com mil participantes. Ela criou o grupo depois de tomar prejuízo no Carnaval de 2023, quando investiu R$ 1.700 e viu as vendas frustradas pela chuva. O objetivo é ajudar colegas a tomar as melhores decisões de negócio.

Pamela aconselha usar duas maquininhas de cartão (caso uma fique sem sinal) e sugere produzir gelo em casa, dentro de garrafas pet ou potes de sorvete. "Também levo R$ 50 ou R$ 100 de troco pra começar o dia e uso caneta identificadora de notas falsas", conta.

Alguns ambulantes contratam ajudantes para a empreitada de Carnaval. Edinaldo Nascimento, que trabalha no Parque Ecológico do Tietê fora do período de Carnaval, emprega dois auxiliares e um repositor.

Os auxiliares ficam em carrinhos separados, e o repositor cuida do estoque guardado na Kombi branca do patrão –40 fardos de cerveja e 300 quilos de gelo. Edinaldo paga R$ 150 pela jornada diária.

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