Pichadora da Bienal desiste de evento de arte de rua e culpa "cachê baixo"
A pichadora Caroline Pivetta da Mota, presa em flagrante na "Bienal do Vazio", em 2008, desistiu de participar da Street Biennal, evento de arte de rua que acontece até 23 de outubro em São Paulo --e que nada tem a ver com a mostra do pavilhão Ciccillo Matarazzo.
Conhecida entre os pichadores como Carol Susto's, a jovem seria uma espécie de madrinha da Street Biennale. A organização já havia confirmado sua participação e viabilizado a viagem para São Paulo (ela mora na região metropolitana de Porto Alegre). A pichadora deixaria sua marca na obra do artista Mohamed Bourouissa, numa fachada do centro da cidade.
No entanto, um desentendimento acerca do cachê (ou a falta dele) fez com que os planos da mostra em relação a Caroline fossem por água abaixo.
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Zanone Fraissat/Folhapress | ||
Obra do artista francês Mohamed Bourouissa na praça Ramos, no centro de SP |
"O curador [Jéremy Planchon] disse que ia me dar um cachê. Cheguei lá e ele queria que eu subisse numa parada alta, sem segurança nenhuma. Queria me dar R$ 500, e eu disse que não. Quem estipula o cachê sou eu", relata Caroline.
A organização da Street Biennale diz que não havia negociação de cachê, mas de "ajuda de custo" no valor de R$ 500, além do pagamento da viagem e de hospedagem. Segundo eles, Caroline receberia "os mesmos procedimentos de segurança dispensados aos outros artistas e obrigatórios por lei".
"[Caroline] me chamou a um canto e disse que só participaria do evento no dia seguinte se recebesse um cachê de R$ 1.500", diz Mario Canivello, assessor de imprensa do evento. "O pagamento de cachê contrariaria a própria natureza de sua participação", afirma.
A pichadora acabou desistindo de deixar sua assinatura na obra e voltou para o Rio Grande do Sul. "Começaram a dizer que a bebida que eu estava tomando, a cadeira que eu estava sentada, tinham sido pagas por eles. Aí eu disse que não ia fazer porra nenhuma e saí andando. Vai humilhar o capeta! Não pedi nada para esses boys, eles que me queriam lá", rebate Caroline.
STREET BIENNALE E 29ª BIENAL
Outra mostra que tentou colocar pichadores em seu plantel de artistas expositores foi a 29ª Bienal de São Paulo. Logo no primeiro fim de semana da Bienal, o pichador Djan Ivson entrou na obra "Bandeira Branca" --aquela dos urubus, de Nuno Ramos-- para escrever "libertem os urubus e os pichadores de BH". Interceptado por seguranças, conseguiu marcar um "libertem os urubu".
"Adorei", diz Caroline sobre a intervenção, que foi condenada pela curadoria da mostra. "Como diz o Djan, urubus e pichadores têm muito em comum."
Por ordem da Justiça, os três urubus-de-cabeça-amarela foram retirados da mostra na última semana.
Folhapress | ||
Frase escrita por pixador na Bienal de SP em protesto contra os urubus presos na obra de Nuno Ramos |
Em 2008, Caroline ficou 50 dias encarcerada na Penitenciária Feminina de Santana (zona norte) por conta do ataque com spray ao pavilhão vazio da Bienal. Foi condenada a quatro anos de prisão, em regime semiaberto, por formação de quadrilha e destruição de bem protegido por lei. Ela recorre em liberdade.
Para ler todos os bastidores da participação dos pichadores nesta Bienal, clique aqui.
Confira abaixo o trailer do documentário "Pixo", de João Wainer e Roberto T. Oliveira.
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