EUA e México estão à beira de ruptura silenciosa

Após desentendimento entre Trump e Peña Nieto, contatos entre países estão em 'modo de espera'

Clóvis Rossi
São Paulo
Sentado diante de uma parede, Donald Trump, de gravata vermelha e terno preto, gesticula com a mão direita enquanto fala durante reunião na Casa Branca
O presidente dos EUA, Donald Trump, debate os problemas de segurança em escolas com governadores estaduais na Casa Branca - Jonathan Ernst/Reuters

Depois de um destempero do presidente Donald Trump em conversa telefônica com seu colega mexicano Enrique Peña Nieto, as relações entre México e Estados Unidos entraram em um momento de “rompimento secreto", na versão de Carlos Loret de Mola, colunista do jornal “El Universal".

Tradução: os intensos contatos entre os diferentes setores dos dois governos ficaram paralisados, à espera das consequências do entrevero.

Segundo o “Washington Post” de sábado (24), Trump teria se irritado profundamente com Peña Nieto porque o presidente mexicano insistia com o colega para que ele reconhecesse publicamente que o México não pagará pelo muro que os Estados Unidos estão construindo na fronteira.

Como se trata de promessa de campanha de Trump e como o presidente americano detesta ser contrariado, era inevitável que o telefonema fosse truncado abruptamente. Também era inevitável, na sequência, que Peña Nieto cancelasse a viagem que faria esta semana a Washington, a primeira visita oficial desde que Trump assumiu faz um ano e um mês.

O mal-estar entre os dois mandatários coincide com o início (domingo, 27) de mais uma rodada de negociações em torno do Nafta (o acordo de livre comércio entre Estados Unidos, México e Canadá), cuja reformulação é outro dos pontos levantados por Trump durante a campanha.

A mídia mexicana começou a semana repleta de especulações em torno de uma ruptura do acordo por parte dos Estados Unidos, como represália pela recusa mexicana de financiar a construção do muro.

O Nafta é um pacto de importância formidável para os três sócios, mas principalmente para o México: calcula-se que os laços comerciais entre México e Estados Unidos --fortemente adubados pelo Nafta-- ascendam a US$ 1 milhão por minuto.

Quanto ao muro, a mídia mexicana é unânime em considerá-lo uma provocação, de resto inútil, como escreve nesta segunda-feira (26) o colunista Jorge Fernández Menéndez no jornal “Excelsior":

“Desde a época de George W. Bush começou a ser construída uma barreira que já ocupa praticamente a metade da fronteira. Não é útil e há, pelo menos, mil quilômetros de fronteira nos quais não tem nem sequer sentido construí-la. A vigilância fronteiriça, na qual o México colabora, é eletrônica, com drones, informação e inteligência. A maioria dos homens e mulheres que hoje chegam ilegais aos Estados Unidos não o fazem cruzando o deserto de Nogales [fronteira com o Arizona] e, sim, em avião".

Seja como for, há uma semana começou a construção de uma seção de 3,2 km do muro entre as cidades-gêmeas de Calexico (Califórnia) e Mexicali (México). Terá 2 metros de profundidade e 9 metros de altura. “Não houve avaliação do impacto ambiental", queixa-se o jornal “La Jornada".

Tudo somado parece evidente que o bate-boca telefônico foi reflexo direto de um mal-estar que compromete seriamente a relação entre dois vizinhos, com efeitos inevitáveis em toda a América Latina.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.