'Nós não sabíamos', diz família que hospedou suspeito da Flórida

Nikolas Cruz foi morar com a família Snead logo após a morte da mãe

Patricia Mazzei
The New York Times

James e Kimberly  Snead, que hospedaram Nikolas Cruz pouco depois que a mãe dele morreu, em novembro, sabiam que o jovem estava deprimido por causa da morte dela. Mas não tinham ideia, segundo disse James no domingo (18), da profundidade dos problemas de Cruz até o terrível massacre na Escola Secundária Marjory  Stoneman Douglas.

"Não sabíamos que ele tinha um passado tão negativo", disse Snead em uma entrevista por telefone, parecendo cansada e com dificuldade para explicar o que havia acontecido. "Nós simplesmente não sabíamos."

Snead disse que ele e sua mulher deixaram Cruz, o suspeito de cometer a chacina na escola de Parkland, na Flórida, ficar em sua casa no condado de Broward depois que seu filho mais moço, que conhecia Cruz do colégio, perguntou se ele poderia morar com a família. Eles não quiseram dar o nome ou a idade de seu filho.

Cruz, 19, vinha lutando para aceitar a morte repentina de sua mãe, de pneumonia, em 1º de novembro, e estava ficando com uma amiga da mãe no condado vizinho de Palm Beach, segundo Snead.

Mas havia certa "tensão", disse ele, por causa de dinheiro e das armas de Cruz. Ele tinha várias, e não eram seguras. A amiga da mãe de Cruz tinha um bebê, disse Snead, e não queria que houvesse armas perto dele.

Por isso os Sneads, que também possuem armas e as mantêm trancadas a chave, foram até Lantana para apanhar Cruz e seus pertences. No caminho de volta, disse Snead, eles fizeram Cruz comprar um cofre para armas e o levaram em uma caminhonete alugada da loja Home Depot.

Snead disse que pensou que tivesse a única chave do cofre. Ele só soube na quarta-feira (14), depois que 17 pessoas foram mortas a tiros na escola Stoneman Douglas com um rifle semiautomático AR-15, que Cruz tinha uma cópia, segundo disse.

"Nós sabíamos que ele teve dificuldades e alguns problemas, mas nós criamos três meninos e eu achei que poderíamos ajudá-lo", disse Snead, um consultor de construção de 48 anos. "Foi uma coisa muito egoísta que ele fez —além das famílias que feriu, também feriu a família que tentou ajudá-lo e lhe dar uma oportunidade."

Indagado sobre que punição Cruz poderia merecer, Snead disse que não sabia.

Os Sneads começaram a falar em público sobre sua relação com Cruz no sábado (17), em uma entrevista ao jornal "The Sun Sentinel", do sul da Flórida. Seu advogado, Jim Lewis, disse que o casal tem cooperado com os órgãos policiais desde o tiroteio.

Os Sneads não foram "de modo algum" as pessoas que deram uma pista ao FBI em janeiro, afirmando que Cruz possuía uma arma e o desejo de matar, possivelmente na escola, segundo Lewis. O FBI admitiu que falhou ao não investigar a informação.

Snead e sua mulher sabiam que Cruz estava deprimido porque perguntaram a ele sobre isso, segundo Snead. Cruz ficava muitas vezes retraído, e quando lhe perguntavam dizia que estava pensando em sua mãe. Cruz não tomava remédios, segundo Snead, mas a família pretendia que ele recebesse ajuda profissional.

"Ele deveria ir a um psicólogo nesta semana", disse Snead.

Mas a família achava que Cruz estava melhorando.

"As coisas estavam bem", disse Snead.

Na noite antes do tiroteio, Snead disse que não notou nada diferente. A família comeu sanduíches de queijo e carne no jantar —Cruz comeu depois um cookie de chocolate— e assistiu televisão. Cruz foi dormir cedo, como costumava, disse Snead.

Segundo o relato do anfitrião, na manhã seguinte Cruz disse ao filho dele, com quem ele tinha feito o serviço militar júnior no colégio, que não ia à escola porque era o Dia dos Namorados. Em setembro de 2016 a mãe de Cruz havia dito à agência de assistência social que Cruz estava nervoso porque tinha terminado com uma namorada na escola Stoneman Douglas.

Snead disse que não viu Cruz na manhã de quarta-feira, mas supôs que ele estivesse em casa com sua mulher. Kimberly Snead, uma enfermeira profissional que trabalha em uma unidade de tratamento intensivo neonatal, pretendia dormir durante o dia para descansar antes do turno da noite.

Na tarde de quarta-feira, James Snead disse que depois que soube do tiroteio por meio de seu filho um oficial da Swat lhe telefonou para perguntar sobre a localização de Cruz. Snead disse que não sabia.

Ele ligou para o filho e perguntou. Então o filho já tinha ouvido uma descrição do atirador —baixo, ruivo, usando calças pretas— e pai e filho chegaram à mesma conclusão: a polícia suspeitava de Cruz.

"Eu liguei de volta para o oficial da Swat e lhe disse para ir à minha casa, porque ele estava lá com minha mulher, a manhã toda sozinhos", disse Snead, que de repente temeu pela segurança dela.

Kimberly  Snead estava dormindo tranquilamente. A polícia deteve Cruz sem incidentes em uma rua residencial na cidade vizinha de Coral Springs, a cerca de 3 quilômetros da escola. Eles o levaram ao hospital para ser tratado de pequenos ferimentos, e depois o transportaram à delegacia de Broward. Os  Sneads já estavam lá, esperando por seu filho, que falava com os policiais.

Snead disse que sua mulher se virou irritada para Cruz, que ainda usava um avental hospitalar.

"É sério, Nik?", perguntou ela. "Sério?"

Ele disse que Cruz pediu desculpas.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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