Na manhã desta quinta (22), em Lima, três manifestantes caminhavam em fila vestidos com uniformes de presidiários e usando máscaras: uma com o rosto do ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski, outra com o de Keiko Fujimori, a líder do partido fujimorista (Força Popular), e a terceira com o de Kenji, seu irmão mais novo e inimigo político.
Atrás deles, pessoas carregavam bandeiras do Peru, e gritavam: “Que todos vão embora, basta de corrupção”.
Enquanto essa cena ocorria nos arredores da praça diante do Palácio Presidencial —todo o centro da capital peruana está cercado por cordões de isolamento e placas de metal, colocadas pela polícia—, PPK (como é chamado), já com trajes mais informais, voltou a aparecer na escadaria do edifício.
Despediu-se com abraços e apertos de mão dos funcionários, e deixou o local. Não sem antes afirmar que não permitiria “ser pisoteado” pelos congressistas, na sessão que votará tanto a aprovação de sua renúncia como sua vacância do cargo, e que terá início às 16h (18h em Brasília) no Parlamento local. Ele voltou a afirmar ser inocente da acusação de envolvimento no escândalo da empreiteira brasileira Odebrecht.
O presidente do Congresso, o fujimorista Luis Galarreta, disse que havia conversado com os porta-vozes de todas as bancadas e que a tendência seria aprovar o pedido de renúncia de PPK de forma rápida e logo passar a discutir a vacância.
Caso não se consiga concluir o processo ainda nesta noite, a sessão se reiniciaria nas primeiras horas de sexta-feira (23). Apenas depois disso, afirmou Galaretta, estariam terminados os preparativos protocolares que permitiriam dar posse a Martín Vizcarra, até aqui primeiro vice-presidente de PPK.
Vizcarra, que nas primeiras horas desta quinta-feira (22) ainda não havia chegado ao país por dificuldades de encontrar passagens nas escalas desde o Canadá, não se pronunciou até aqui.
Ao longo do dia, políticos opinaram sobre a renúncia apresentada pelo ex-mandatário.
“É preciso que fique claro que o sr. Kuczynski não é uma vítima, está saindo por ser corrupto e imoral”, disse a jornalistas a esquerdista Veronika Mendoza, ex-candidata presidencial em 2016, hoje líder do partido Nuevo Perú, em seu comitê, no centro de Lima.
Mendoza foi crucial para a vitória de PPK nas eleições porque o apoiou nos últimos dias antes da votação, “apenas para que fosse derrotado o fujimorismo”. Agora, ela diz não se conformar com o fato de o ex-mandatário não ter cumprido a promessa de não conceder indulto ao ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000).
Na sessão desta tarde, o Parlamento também decidirá se inicia o processo de retirada do foro privilegiado do congressista Kenji Fujimori e dos demais que aparecem nos vídeos que mostram tentativa de compra de votos e que aceleraram a renúncia de PPK.
Caso isso ocorra, eles podem ser expulsos do Congresso e processados pela Justiça civil.
REAÇÃO INTERNACIONAL
O governo da Colômbia emitiu um comunicado sobre o ocorrido em Lima. “Lamentamos profundamente a renúncia de Pedro Pablo Kuczynski”, diz o texto, que reforça, porém, que o país “está seguro de que se realizará uma transição governamental no marco dos princípios democráticos”.
O governo chileno também lamentou a renúncia de PPK, mas afirmou que “respeita as decisões deste país-irmão, esperando dar continuidade à nossa boa relação”, segundo comunicado da chancelaria de Santiago.
Já na Venezuela, houve festa com fogos artificiais, organizada pelo homem-forte do chavismo Diosdado Cabello. “A vida traz surpresas. Esse era o homem que não queria a Venezuela na Cúpula das Américas [que ocorre em três semanas]. Agora quem não vai estar vai ser ele.”
ECONOMIA
O anúncio da provável posse de um novo presidente já nesta sexta-feira (23) trouxe certa calma ao mercado. O Peru vinha vivendo meses de fuga de investidores estrangeiros e privados desde que começou a crise política.
O ano de 2017 terminou com um crescimento muito abaixo da média peruana dos últimos 15 anos, com apenas 2,7%. Agora, segundo economistas, é possível manter o prognóstico de crescimento de 3,5% para 2018.
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