Descrição de chapéu

O maior defensor da guerra preventiva será principal conselheiro de Trump

John Bolton já defendeu bombardear o Irã e a Coreia do Norte e desdenhou a ONU

Patrícia Campos Mello
São Paulo
Foto é um close de John Bolton comprimindo os lábios
John Bolton, ex-embaixador dos EUA na ONU sob George W. Bush, indicado por Trump como assessor de segurança nacional - Alex Wong-22.fev.18/Getty Images/AFP

“O regime no Irã precisa ser derrubado o mais rápido possível.” 

“Na Coreia do Norte, há duas opções: acabar com o regime —com a reunificação ou com um golpe de Estado— ou eliminar as armas.” 

Essas são algumas das opiniões de John Bolton, indicado para ser o novo conselheiro de segurança nacional de Trump. Bolton sempre foi um entusiasmado defensor dos “ataques preventivos”. 

Durante o governo de George W. Bush (2001-09), ajudou a turbinar as parcas indicações de que o ditador iraquiano Saddam Hussein (1979-2003) teria armas de destruição em massa para justificar a invasão americana no Iraque, em 2003. 

Bolton foi um visionário: na época, disse que os iraquianos comemorariam a chegada dos americanos e que a guerra seria rápida. Durou oito anos —e seus resquícios ainda são visíveis. 

Habitué da rede de TV Fox News, de onde Trump recrutou boa parte de seus recém-contratados, Bolton teve atuação turbulenta como embaixador dos EUA na ONU, também sob Bush. 

Enquanto Trump colocou um cético da mudança climática para chefiar a Agência de Proteção Ambiental, Bush pôs para representar os EUA nas Nações Unidas alguém que dizia que “se o prédio da ONU em Nova York perder 10 andares, não faria a menor diferença”.

Antes disso, foi subsecretário para controle de armas no Departamento de Estado. Nesse cargo, ajudou a enterrar o acordo que o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) havia costurado com Pyongyang para conter o programa nuclear. 

Foi noticiado que Bolton teve de prometer à equipe de Trump que não iniciaria uma guerra e não seguiria literalmente as ordens de Trump quando ele xingasse outros países. Mas, em entrevista após a nomeação, ele disse que seu papel é não deixar que a burocracia trave as decisões do presidente. 

Uma dúvida é o destino do indefectível bigode de Bolton. Em 2016, houve relatos de que ele foi rejeitado para o posto de secretário de Estado porque Trump achava que seu bigode não combinava com o cargo.

Não se sabe se debateram repaginar o visual para o cargo atual.

Ele aconselhará Trump em dois momentos cruciais.

Em maio, o presidente precisa recertificar o acordo nuclear com o Irã. Da última vez, ameaçou não fazê-lo, mas o então secretário de Estado, Rex Tillerson, o dissuadiu. Já Bolton, crítico do acordo, escreveu em artigo no New York Times: “Para frear a bomba do Irã, bombardeiem o Irã”. 

Ele tampouco vê com bons olhos o encontro de Trump com o líder norte-coreano, Kim Jong-un. Dizendo que Pyongyang é uma “ameaça iminente”, mesma linguagem usada para justificar a invasão do Iraque, ele escreveu o artigo “A justificativa legal para atacar primeiro a Coreia do Norte”, no Wall Street Journal, em fevereiro. 

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