Unidade americana da JBS emprega refugiados, mas Trump pode atrapalhar

Plano de presidente é cortar imigração; americanos dispensam emprego em frigorífico no Texas

Fumaça sobe de frigorífico da JBS em Cactus (Texas)
Fumaça sobe de frigorífico da JBS em Cactus (Texas) - Jabin Botsford/The Washington Post
Nick Miroff
Cactus (EUA) | Washington Post

Os DJs das estações de rádio em espanhol costumavam alertar os ouvintes sempre que agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) dos Estados Unidos estavam em ação em Cactus. "Cuidado lá fora", eles diziam. "Os parentes estão na cidade."

Mas não no dia da Grande Batida. Informação nenhuma vazou. A polícia estadual instalou bloqueios nas rodovias que levam à cidade. Os agentes do ICE chegaram com uma frota de ônibus vazios, e se foram com os veículos lotados.

O alvo deles era um grande frigorífico instalado em Cactus, uma cidadezinha que fica nas planícies do norte do Texas. A empresa controladora era a Swift, uma das gigantes do processamento de carnes nos Estados Unidos.

"Todo mundo começou a gritar 'la Migra! La Migra' no meio da fábrica", disse Monica Loya, que trabalhava no frigorífico. "As pessoas tentaram se esconder atrás das máquinas, em caixas, até mesmo dentro de carcaças de bois."

A Operação Wagon Train foi conduzida em fábricas da Swift em seis Estados americanos, no dia 12 de dezembro de 2006, e resultou na detenção de quase 1,3 mil trabalhadores. Na minúscula Cactus, houve 300 detenções - o equivalente a 10% da população da cidade. Foi a maior batida policial já realizada em locais de trabalho americanos.

Cactus e o condado de Moore, onde a cidade se localiza, se recuperaram da operação, e o frigorífico voltou a prosperar, vendendo filés para a Walmart e hambúrgueres para a Burger King. Mas encontrar trabalhadores continua a ser um problema.

A fábrica agora pertence à JBS USA, unidade norte-americana de um conglomerado brasileiro, e nos últimos anos elevou seus salários em quase 25%; mas, como outras empresas do setor frigorífico em todo o país, só sobreviveu porque conseguiu encontrar um conjunto diferente de estrangeiros para fazer o trabalho que costumava ser executado por imigrantes ilegais: os refugiados.

Há cortadores de carne birmaneses, que chegaram aos Estados Unidos depois de alguns anos em campos de refugiados na Tailândia e Malásia; há os chamados "chuckers", sudaneses altos e fortes cuja especialidade é separar a espinha dorsal de uma peça de carne bovina que passa por eles em uma correia transportadora.

Os somalis chegaram à região em tal número que, em dado momento, o condado de Moore tinha a quinta maior porcentagem de muçulmanos dos Estados Unidos em sua população, de acordo com dados de pesquisas sobre afiliações religiosas. No entanto, muitos desses trabalhadores optaram por deixar a cidade, posteriormente, para viver na grande comunidade somali que existe em Minnesota.

Trailers abandonados em Cactus, no Texas (EUA)
Trailers abandonados em Cactus, no Texas (EUA) - Trailers abandonados em Cactus, no Texas (EUA)

Uma década depois da Operação Wagon Train, o governo Trump afirma que está se preparando para tomar medidas repressivas contra os empregadores que recorrem a mão de obra ilegal, e é possível que retome o uso de táticas de policiamento que envolvem detenções em massa, que haviam caído em desuso durante o governo do presidente Barack Obama.

Mas os planos do presidente Donald Trump para interferir no mercado de trabalho americano são mais amplos que isso.

Sob o governo de Trump, os Estados Unidos pela primeira vez em décadas estão buscando restringir severamente a imigração, especialmente a entrada de pessoas com baixa capacitação profissional. O governo afirma que esses imigrantes concorrem com os trabalhadores nascidos nos Estados Unidos e causam queda nos salários.

O governo argumenta que a limitação da imigração e a redução no pool de mão de obra vão gerar alta na concorrência entre os empregadores por trabalhadores, o que os forçará a aumentar os salários dos operários que ficaram na poeira durante as décadas de avanço disparado do capitalismo globalizado.

No condado de Moore, fortemente republicano, Trump obteve 75% dos votos na eleição de 2016, e sua retórica quanto à imigração animou alguns de seus eleitores a expressar livremente suas preocupações quanto ao frigorífico, a cuja presença eles atribuem a culpa por crimes, drogas e pelo declínio cívico da área. O cantinho do norte do Texas que eles ocupam foi transformado, cultural e economicamente, e antes de Trump nenhum presidente havia descrito essa transformação de forma negativa.

No entanto, ninguém afirma que o frigorífico de Cactus virá a ter mão de obra majoritariamente americana, pelo futuro previsível. As pessoas da região nem mesmo têm certeza de que os empregos do frigorífico tenham sido ocupados por americanos um dia. Pelo menos não desde que os vietnamitas e laosianos chegaram à cidade no final dos anos 1970, poucos anos depois da inauguração do complexo de processamento.

"Cactus não existiria sem o frigorífico", disse Aldo Gallego, o administrador municipal, que cresceu na cidade.

Os pais dele vieram do Arizona para Cactus em 1992, empregados pela Swift. Ele estima que cerca de metade dos trabalhadores da fábrica sejam refugiados, e que destes metade sejam hispânicos, a maior parte dos quais imigrantes.

"O frigorífico nunca parou", ele disse. "Todo mundo quer comer filé."

Os operários que trabalham no frigorífico são sindicalizados e recebem em média US$ 17 (R$ 55) por hora, além de benefícios de saúde e aulas gratuitas de idiomas, o que coloca os empregos em Cactus entre os mais bem pagos dos Estados Unidos para pessoas que falam pouco ou nenhum inglês.

Cactus nem sempre foi um harmonioso cadinho de raças no mundo do processamento de carne. Trabalhadores de etnias e idiomas diferentes enfrentam dificuldades para se comunicar, e choques acontecem. O giro de mão de obra é alto, entre os novos contratados. As ruas da cidade exibem pilhas de lixo arrastado pelo vento, e trailers deteriorados, cada um dos quais preso a um veículo empoeirado, estacionado em ângulo estranho, como os dedos abertos de uma mão.

Mas também existe relativa prosperidade por aqui, especialmente em Dumas, 20 quilômetros ao sul, a distância confortável dos odores desagradáveis que emanam do frigorífico. Restaurantes de fast food movimentados ocupam a rua principal de Dumas, que também abriga a única loja da Walmart em raio de muitos quilômetros.

A unidade central do frigorífico é cercada por áreas de confinamento de gado, das quais até cinco mil cabeças são encaminhadas por dia ao "piso de abate", onde operários equipados com rebitadoras iniciam o processamento. A temperatura no piso de abate pode exceder os 32°C. A área de produção é uma vasta câmera frigorífica com temperatura pouco acima do ponto de congelamento. Os cortadores removem a gordura e os músculos usando facas afiadas que ocasionalmente ferem as mãos e os dedos dos operários.

O piso do frigorífico vai se cobrindo de sangue e gordura bovina ao longo do dia, até que equipes de limpeza formadas por operários centro-americanos que trabalham com trajes de proteção completos chegam às 23h e trabalham a noite toda para remover os sangrentos resíduos, usando mangueiras de alta pressão e produtos químicos.

"Nós realmente não vemos trabalhadores norte-americanos nesses empregos", disse Lian Sian Piang, 34, inspetor de qualidade de carne e membro da etnia chin. Ele fugiu do alistamento militar compulsório no exército de Mianmar quando era adolescente e viveu por anos em um campo de refugiados malásio.

Em seus 10 anos de trabalho no frigorífico de Cactus, ele diz ter visto apenas "dois ou três caras brancos" cortando carne.

"O trabalho é muito árduo", ele disse. "A correia transportadora se movimenta muito rápido. A maioria das pessoas não consegue acompanhar."

Gay Ku Paw, 20 (esq.), na casa comprada por seus pais, Lah Eh, 50, e Ter Htoo, 53, em Dumas, Texas
Gay Ku Paw, 20 (esq.), na casa comprada por seus pais, Lah Eh, 50, e Ter Htoo, 53, em Dumas, Texas - Jabin Botsford/The Washington Post

Uma refinaria de petróleo da Valero é o outro grande empregador no condado de Moore, e seus trabalhadores em geral são norte-americanos de origem. O emprego lá requer muito mais capacitação técnica, e inglês fluente. Questionada sobre o que seria necessário para que o número de empregados norte-americanos crescesse no frigorífico, muita gente aqui respondeu que a JBS teria de pagar salários comparáveis aos da refinaria, onde o pagamento médio por hora é de US$ 30 (R$ 97) ou mais.

Os frigoríficos americanos poderiam pagar salários dessa ordem, dizem especialistas do setor. Mas isso significaria carne muito mais cara, e provavelmente levaria a JBS a sair de Cactus.
 
O governo Trump já está colocando suas teorias em teste, restringindo a imigração em um momento de desemprego historicamente baixo. O número de refugiados admitidos pelos Estados Unidos caiu em cerca de 70% desde que Trump assumiu, e seu governo está cancelando os vistos temporários de trabalho de mais de 250 mil haitianos e centro-americanos que trabalham legalmente nos Estados Unidos há anos, com o status de residentes temporários.

O setor frigorífico dos Estados Unidos já enfrentava escassez de mão de obra antes das medidas, tendo inaugurado novas unidades nos últimos anos a fim de acompanhar a forte demanda por exportações, e suprir o mercado dos Estados Unidos, com movimento de US$ 100 bilhões ao ano (R$ 322 bilhões).

Muitas das unidades de processamento do setor se localizam em áreas rurais remotas na região Meio-Oeste, onde os empregadores de quase todos os setores estão enfrentando dificuldade para encontrar mão de obra qualificada, especialmente candidatos que consigam passar por testes de drogas.

Porque os refugiados têm a reputação de usar menos drogas, eles continuam a ser recrutas atraentes para os empregadores.

Questionados sobre se a escassez de mão de obra havia se agravado devido às políticas de imigração do governo Trump, Cameron Bruett, porta-voz da JBS, disse que a empresa "se orgulha em oferecer empregos a qualquer indivíduo qualificado e autorizado a trabalhar nos Estados Unidos".

"O governo está realizando um esforço coordenado para promover o crescimento econômico e para ajudar as empresas a prosperar, por meio da reforma tributária e de uma abordagem sensata quanto à regulamentação", afirmou Bruett em comunicado. "Acreditamos que uma abordagem igualmente pragmática será adotada quanto à disponibilidade de trabalhadores na agricultura e outros setores dependentes de mão de obra."

Foi um reconhecimento de que a solução para a escassez de trabalhadores - "disponibilidade de mão de obra" - terá de vir do exterior.

Imigrantes vêm processando a carne consumida nos Estados Unidos desde o século 19, quando alemães, irlandeses e europeus orientais lotavam os centros fabris de Chicago. Os salários do setor de frigoríficos cresceram com a sindicalização e continuaram altos em relação aos de outros setores industriais, entre os anos 1930 e os anos 1970, um período em que o nível de imigração era relativamente baixo.

Mas quando as empresas começaram a transferir suas instalações para fora das áreas urbanas e para locais mais próximos aos de criação de gado, a participação da força de trabalho nos sindicatos caiu.

A mudança na composição do quadro de trabalhadores do frigorífico de Cactus reflete os padrões de imigração para os Estados Unidos nas últimas décadas. Os refugiados vietnamitas e laosianos que começaram a trabalhar na fábrica foram seguidos por um dilúvio de trabalhadores mexicanos, muitos dos quais imigrantes ilegais, nos anos 1980. Depois vieram os centro-americanos, principalmente da Guatemala, nos anos 1990.

A Swift, como outras empresas do setor, estava tão pressionada para encontrar trabalhadores que oferecia bonificações de US$ 500 (R$ 1.612) a quem a ajudasse a recrutar pessoal novo, o que criava incentivos perversos para a falsificação de documentos, com o uso de números falsos ou emprestados de previdência social.

Esse tipo de delito deixou de ser encarado com leveza depois dos ataques de 11 de setembro de 2001. No segundo mandato do presidente George W. Bush, o ICE conduziu operações em diversas instalações industriais na região Meio-Oeste, em uma campanha que culminou na Operação Wagon Train.

Loya, antiga operária do frigorífico e hoje professora de inglês para os refugiados, se lembra de ter ido de carro à escola primária local, no dia da operação, em resposta a telefonemas de professores apavorados. Havia crianças à espera de que seus pais as apanhassem, mas muitos deles estavam sendo transportados nos ônibus do ICE para centros de detenção.

"Fui à escola, localizei as crianças e comecei a perguntar se tinham irmãos, tios, primos que pudessem ir buscá-las", conta Loya. "Foi uma loucura."
 
Um tornado atingiu Cactus quatro meses depois da operação, virando carros e demolindo casas. Ninguém morreu, mas a piada no condado de Moore era que a tempestade havia passado por lá para concluir o trabalho do ICE.

"Cactus costumava ser uma comunidade agradável", disse Paula Gibson, cuja família chegou ao condado de Moore no final do século 19, uma geração depois de o exército dos Estados Unidos ter derrotado os comanches e outras tribos indígenas nômades que combatiam os colonos brancos.

Homem com cobertor atravessa rua de Cactus, no Texas (EUA)
Homem com cobertor atravessa rua de Cactus, no Texas (EUA) - Jabin Botsford/The Washington Post

Gibson e seu marido, Lee, voltaram ao condado de Moore no final dos anos 1970, depois de estudarem na Universidade West Texas A&M, e ao longo dos anos integraram a fazenda e rancho pecuário de sua família à economia mundial. Criam gado, plantam milho e operam uma bem sucedida operação de compostagem, empregando técnicas que Lee aprendeu na universidade. Mas eles dizem que alguma coisa foi perdida no condado no Moore, e que isso mudou seu cantinho do Texas para pior.

Ladrões invadiram a casa dos Gibson no mês passado, roubando uma arma e mais de US$ 100 mil em joias da família, entre as quais o anel de casamento da avó de Paula Gibson. Os Gibson não culpam os imigrantes e os refugiados, mas o frigorífico e seu giro elevado de mão de obra fizeram do condado de Moore um lugar pelo qual muita gente desconhecida passa sem se fixar.

"No passado, não era preciso trancar a porta de casa ou trancar o carro", disse Gibson. "E fomos disso a uma comunidade com imigração em massa na qual as pessoas nem se incomodam com a aparência de suas casas."

Braden e Brett, os filhos adultos dos Gibson, ajudam a operar a fazenda da família e, como a JBS, os Gibson enfrentam dificuldades para atrair e reter trabalhadores americanos. Na metade do ano passado, eles contrataram três sul-africanos que tinham vistos temporários de trabalho. "É algo que voltaríamos a fazer", disse Lee Gibson.

Braden Gibson, 36, se preocupa com a possibilidade de que seu filho receba menos atenção na escola porque os professores precisam dedicar muito mais tempo a ensinar o básico. "Eles estão sob pressão para que as crianças aprendam inglês e sejam aprovadas nos testes, porque é assim que garantem a verba da escola", disse Gibson.

A família Gibson acha que o condado provavelmente estaria melhor sem o frigorífico, mesmo que isso os forçasse a vender seu gado em outro lugar. Mas eles não têm a expectativa de que as forças da globalização sejam derrotadas com facilidade. "Isso é parte do processo de alimentar o planeta", disse Braden Gibson, dando de ombros. "É o que Estados Unidos fazem. É parte do trabalho."
 
"Esta cidade costumava ser exclusivamente branca", disse Rowdy Rhoades, juiz do condado de Moore e antigo prefeito de Dumas. Ele o diz em tom objetivo, não como se estivesse lamentando por as coisas agora serem diferentes. "Algumas pessoas têm dificuldade para aceitar as mudanças."

Com a chegada de tantos refugiados para trabalhar para a JBS, uma área que costumava ter duas culturas e dois idiomas - inglês e espanhol - subitamente passou a ter 20. O diretor da escola teve de fazer uma reunião com os pais imigrantes de alunos, em dado momento, para lhes explicar como usar banheiros ao modo ocidental. Mas as dificuldades iniciais se reduziram depois que os imigrantes se assentaram, disse Rhoades.

"Estávamos bem", ele disse. "Nós somos texanos e sabemos nos adaptar."

E então surgiu Trump, e as pessoas que não aceitam os imigrantes subitamente começaram a expressar suas opiniões com menos timidez. Quando Piang, o imigrante de Mianmar, levou seu carro a uma funilaria local no ano passado, o proprietário gritou com ele e disse que ele devia voltar para Mianmar, ainda que Piang seja cidadão naturalizado dos Estados Unidos desde 2014. Ele conta que foi embora da oficina e deixou o assunto para trás. "Sei que a maioria dos americanos são boas pessoas", disse.

O condado de Moore mudou muito desde a chegada dos primeiros refugiados, quando Stan Corbin recebeu um pedido de ajuda de de sua igreja. "Os refugiados não falavam inglês, e por isso me pediram que lhes ensinasse", ele disse. "E essa se tornou minha profissão."

Ao longo dos anos, Corbin se tornou um comitê de boas vindas de um homem só, e life coach em tempo integral para levas e mais levas de refugiados. Ele se lembra de quando um grupo de laocianos terminou preso por pescar com redes no riacho local, do dia em que 64 birmaneses chegaram juntos de Dallas, e da ocasião em que  alguns imigrantes arranjaram encrenca por arrancar o carpete de seu apartamento para cozinhar no chão, como costumavam fazer nos campos de refugiados.

Corbin os ajudava a pagar as contas de luz e água e os impostos, a obter carteiras de habilitação e solicitar cidadania, e mantinha listas com seus nomes, datas de nascimento e números de previdência social, para o caso de algum deles perder os documentos.

"Eu os levava ao médico, ao hospital - eles não sabiam fazer coisa alguma", disse Corbin, 80, que dedicava tanto tempo aos refugiados que terminou se distanciando de seu filho.

Recentemente, acompanhei Corbin em uma visita a uma família de refugiados birmaneses da etnia karen, que compraram uma casa em Dumas e pagaram o financiamento em três anos, porque não gostavam da ideia de dever o dinheiro da hipoteca.

"Meu pai vivia ausente quando estávamos nos campos, trabalhando nos arrozais", disse Gay Ku Paw, 20, estudante de enfermagem. No campo de refugiados, a família vivia em um barraco, sem água corrente ou eletricidade, ela disse, e quando não tinham dinheiro para comprar velas ou óleo para a lamparina, conversavam no escuro.

A mãe dela, Lah Eh, 50, é cortadora de carne na JBS, e seu pai, Ter Htoo, 53, opera um grande cortador mecânico para remover os cascos das vacas. "É um ótimo emprego", disse Htoo, que prefere se acomodar no chão de sua sala, em lugar de no sofá. O frio era intenso lá fora, mas, como outros karen, ele gosta de andar descalço pelo carpete. Htoo nos serviu xícaras de chá de jasmin, de uma garrafa térmica.

Há quatro carros na garagem da família. "Nos Estados Unidos, ninguém tenta tomar sua propriedade", disse Htoo. A única coisa de que não gosta no país, diz, é que faltam operários para o frigorífico e a correia transportadora anda rápido demais.

"Sei que alguns não dão valor a essas pessoas", disse Corbin. "A primeira geração de adultos jamais será assimilada plenamente, e talvez nunca aprenda muito inglês. Eles se cansam demais com o trabalho e não conseguem estudar. Mas seus filhos são sua esperança. E os filhos querem ser norte-americanos."

Corbin votou em Trump, mas não concorda com o presidente quando ele diz que o país precisa de um sistema de imigração cuja base seja o mérito, e que favoreça as pessoas mais capacitadas.

"O que precisamos é de gente que trabalhe duro, de pessoas dispostas a trabalhar na JBS", ele disse. "Os filhos dessas pessoas se tornarão engenheiros. Mas no momento, aqui no país, precisamos muito de trabalhadores braçais."
 

 

Tradução PAULO MIGLIACCI

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