Descrição de chapéu Donald Trump

'Cliente secreto' de advogado implica Trump

Âncora da Fox News é atendido pelo mesmo advogado que tentou silenciar atriz pornô

Stormy Daniels (Stephanie Clifford) deixa tribunal em Nova York após audiência relacionada ao advogado de Trump, Michael Cohen - Drew Angerer/Getty Images/AFP
SILAS MARTÍ
Nova York

Nem mesmo uma estrela pornô no auge da fama foi capaz de ofuscar a mais nova revelação do escândalo envolvendo o advogado do presidente dos Estados Unidos.

De tailleur e saia cor-de-rosa, Stormy Daniels, a estrela do strip-tease que diz ter transado com Donald Trump, acompanhou de uma cadeira nas últimas fileiras do tribunal a primeira aparição de Michael Cohen, o faz-tudo do presidente, em Manhattan.

Mas o que deixou boquiaberto o salão cheio de medalhões do noticiário da TV a cabo americana é que um dos colegas deles agora aparece associado ao caso.

O episódio ganha cada vez mais vulto e, na visão de alguns analistas, ameaça mais o governo Trump do que a investigação sobre as suas relações com o Kremlin.

Sean Hannity, apresentador da Fox News, o canal conservador preferido do presidente, também é um dos clientes de Cohen, o advogado que diz ter pago o equivalente a R$ 450 mil, dias antes das últimas eleições, pelo silêncio de Stormy Daniels sobre o seu affair com Trump.

Os advogados de Cohen fizeram de tudo para evitar revelar a identidade de mais um cliente ilustre do defensor de Trump, mas não tiveram alternativa quando a juíza do caso, Kimba Wood, foi irredutível, argumentando que o nome de um cliente não pode ser visto como uma informação privilegiada.

Hannity, que já chegou a ser líder de audiência com seu telejornal noturno, é próximo de Trump e vem fazendo campanha contra Robert Mueller, o procurador especial que investiga as ligações do presidente com os russos.

Não está claro por que o âncora conservador teria contratado os serviços de Cohen, mas a revelação pode solapar o principal argumento dos advogados de Trump para barrar a devassa dos arquivos apreendidos em sua casa, em seu escritório e em um quarto de hotel em Nova York, há uma semana.

Sua equipe jurídica argumenta que a apreensão desses documentos viola a proteção de comunicações entre advogados e clientes e que material sensível não relacionado à violação de leis de financiamento de campanha política, infração pela qual Cohen é investigado agora, pode acabar sendo vazado.

Mas procuradores do tribunal em Nova York, que investigam as circunstâncias do pagamento do advogado à atriz pornô, dizem que Cohen só tem três clientes e que muito pouco do que foi confiscado pode ser enquadrado como informação privilegiada.

Wood, a juíza, atendeu, no entanto, uma parte dos pedidos da defesa de Cohen, que queriam ver cópias de tudo que foi apreendido antes que o material passasse a ser investigado.

Trump e os advogados de suas empresas também terão acesso ao material.

Hannity, agora arrastado para o meio do escândalo, foi um dos maiores críticos à operação de busca e apreensão nos endereços de Cohen. Ele disse depois da audiência que conhece o advogado há muito tempo, mas que ele nunca o representou em ações e não tinham contrato. 

No máximo, o âncora diz ter pago “uns trocados” a Cohen, que parece virar a maior pedra no sapato de Trump.

Isso era evidente na sala de julgamento no 21º andar de uma torre no sul de Manhattan. Além dos procuradores, estavam lá os advogados de Cohen, de Trump e de suas empresas, de jornais como The New York Times e canais de TV como a CNN, e Stormy Daniels com o seu advogado, os mais aguardados até surgir a surpresa sobre Hannity.

Mas Stormy precisou se contentar em ser estrela só no pornô. Em sua estreia no tribunal, ela foi uma coadjuvante. Ficou roendo as unhas meio nervosa e cochichava com Michael Avenatti, o seu advogado, quando não entendia parte das discussões.

Ela entrou muda e saiu calada. No fim do dia, foi uma das primeiras a fugir da sala, entrando no elevador protegida por seguranças fortões.

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