Um chileno que sofreu abuso sexual de religiosos afirmou que o papa Francisco lhe disse, durante uma conversa privada, que Deus o fez gay e o ama dessa maneira, segundo o jornal espanhol El Pais.
O Vaticano não quis comentar. Alguns ativistas consideraram que, se confirmada, a declaração do papa terá sido uma forte demonstração de tolerância em relação à homossexualidade, algo que a Igreja Católica tradicionalmente rejeita.
Em entrevista publicada no domingo (20), a vítima de abuso Juan Carlos Cruz afirmou ao jornal espanhol que o papa lhe disse: "O fato de você ser gay não importa".
"Deus o fez assim e o ama dessa maneira, e para mim não importa. O papa o ama dessa maneira, e você deve ser feliz do jeito que é", disse Francisco, segundo Cruz.
Cruz um dos principais impulsionadores das denúncias de abuso no Chile e uma das vítimas de abuso que foram convidadas para um encontro com o papa neste mês.
Após uma audiência com o pontífice na semana passada, todos os bispos chilenos apresentaram sua renúncia, devido ao escândalo de pedofilia no país.
Desde que foi eleito papa, em 2013, Francisco mudou dramaticamente a linguagem da igreja em relação aos gays.
"Se uma pessoa é gay e busca Deus, quem sou eu para julgar?", afirmou ele em sua primeira viagem internacional, em 2013.
Em 2016, o papa disse que dava a Comunhão a homossexuais que mantinham a castidade.
"Quando uma pessoa chega diante de Jesus, Jesus certamente não vai dizer: Vá embora porque você é gay", afirmou o papa.
Seu predecessor, o papa Bento 16, escreveu em 2015 que a homossexualidade era "uma forte tendência que levava ao mal moral intrínseco".
Francis DeBernardo, diretor-executivo do New Ways Ministry, que defende igualdade para os católicos qu são LGBT, disse que a declaração do papa foi “tremenda” e fará muito bem.
“Seria muito melhor se ele fizesse declarações desse tipo publicamente, porque LGBTs precisam ouvir essas mensagens dos líderes religiosos, dos líderes católicos”, disse.
O jesuíta James Martin pontuou o fato de as declarações terem sido feitas em uma conversa privada e não em um documento ou um pronunciamento público. Mas afirmou que eram de todo modo significativas.
“O papa está dizendo o que muitos biólogos e psicólogos dirão, ou seja, que as pessoas não escolhem sua orientação sexual”, afirmou Martin.
Já outros minimizaram as declarações, dizendo que elas meramente estão de acordo com a atitude pastoral de Francisco.
“O que o papa está dizendo é ‘Deus te ama e te fez como você é, e portanto você deve se aceitar enquanto luta para viver de acordo com o Evangelho”, disse Robert Gahl, teólogo da Pontifical Holy Cross University, em Roma.
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