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Na Turquia, 'terroristas' são todos os que discordam do atual governo

Prender ou matar defensores de direitos humanos é silenciar quem luta contra injustiças

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Dez pessoas perfilam com máscaras com o rosto de Kiliç.
Ativistas da organização Anistia Internacional usam máscaras com o rosto de Taner Kiliç, preso pelas autoridades turcas acusado de terrorismo, em protesto em Berlim - Paul Zinken - 7.fev.18/dpa/AFP
FERNANDO N. FURRIELA

Taner Kiliç é como eu: advogado e pai de duas meninas. Trabalhamos pelos direitos humanos, mostrando o impacto das violações e inspirando grupos e indivíduos a agir diante de injustiças e repará-las.

Há mais de 30 anos fazemos parte de um movimento de pessoas com mais de sete milhões de apoiadores. Atualmente presidimos voluntariamente o Conselho da Anistia Internacional em nossos respectivos países. Eu no Brasil, ele na Turquia. Temos muito em comum, mas há um ano estamos separados por uma grade.

Taner Kiliç foi preso acusado do crime de terrorismo. Atualmente, na Turquia, "terrorista" é toda pessoa que discorda dos métodos e das ideias do governo federal.

Durante toda sua carreira como advogado de direitos humanos, ele atuou em defesa de pessoas refugiadas e ajudou centenas de sobreviventes a recomeçar suas vidas em um novo país.

Segundo a acusação, Taner teria baixado em seu celular um aplicativo para troca de mensagens criptografadas, que para o governo turco é usado por terroristas. Após analisar o aparelho, peritos disseram sob judice que isso nunca aconteceu.

Outras pessoas foram detidas pela mesma acusação e foram soltas. Taner não.

Há três meses, vimos no Rio o brutal assassinato de Marielle Franco, defensora de direitos humanos e vereadora que denunciava violações contra jovens negros, mulheres e pessoas LGBTI.

No Brasil ou na Turquia, ameaçar, prender ou matar um defensor de direitos humanos com a visibilidade de Taner ou Marielle é uma clara tentativa de silenciar um grupo muito maior de pessoas que lutam contra injustiças.

Não são casos isolados.

Taner Kiliç foi preso por defender direitos humanos, por isso é nosso dever nos mobilizar pela sua liberdade. Esperamos que a ausência de provas seja suficiente para que ele seja posto em liberdade definitivamente em breve, para que essa grade que nos separa seja rompida.

Assim, ele estará pronto para rever família e amigos e voltar a defender intransigentemente os direitos humanos, como sempre fez.

Fernando N. Furriela é advogado e presidente do conselho da Anistia Internacional no Brasil

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