Descrição de chapéu Coreia do Norte

Aniversário de 70 anos da Coreia do Norte é chance de Kim projetar nova imagem

Ingressos para festa neste domingo (9) chegam a R$ 3.800, e demanda lotou hotéis de Pyongyang

Josh Smith
Pyongyang | Reuters

As comemorações do 70º aniversário da Coreia do Norte, neste domingo (9), vão procurar projetar a imagem de um país que já montou um arsenal nuclear e agora volta suas atenções a desenvolver sua economia e cultivar suas relações internacionais.

Os eventos do domingo vão deslanchar um mês de apresentações, além de uma feira comercial e outras visitas que visam promover investimentos do exterior e o turismo no país, prejudicado por sanções.

Tendo declarado seu programa nuclear “completo”, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, segundo analistas, vai aproveitar os eventos para destacar seu foco sobre o desenvolvimento econômico e, possivelmente, a campanha diplomática que neste ano lhe rendeu cúpulas históricas com os Estados Unidos, China e Coreia do Sul.

“O domingo será um dia para Kim Jong-un refletir sobre os últimos 70 anos da república. Será uma oportunidade para ele apresentar uma visão de longo prazo para o país, pensando nos mais de dez próximos anos”, disse Hong Min, pesquisador sênior do Instituto Coreano de Unificação Nacional.

“Mas não será fácil para ele neste fim de semana porque ele não realizou nada de inovador ou muito importante desde que mudou a linha política nacional para focar sobre a economia em primeiro lugar.”

As sanções econômicas impostas à Coreia do Norte devido ao desenvolvimento de armas nucleares vêm causando dificuldades ao país pobre, onde cerca de 40% da população, ou mais de 10 milhões de pessoas, precisa de assistência humanitária, e 20% das crianças sofrem de desnutrição, segundo a ONU.

Sob o governo de Kim o país também vem sendo acusado de abusos dos direitos humanos cometidos em grande escala. No ano passado um relatório da ONU estimou que entre 80 mil e 120 mil pessoas estejam detidas em campos de prisioneiros no país.

A imprensa estatal pediu que o domingo seja reservado para “festejar o vencedor e ampliar continuamente os resultados da grande marcha de desenvolvimento econômico”.

Pela primeira vez em cinco anos, Pyongyang voltou a organizar os Jogos das Massas, um enorme espetáculo nacionalista a ser apresentado por até 100 mil pessoas em um dos maiores estádios do mundo.

No centro de Pyongyang, nesta quinta-feira (6), milhares de crianças em uniformes escolares podiam ser vistas ensaiando marchas e tocando música na praça Kim Il-sung e em esquinas em toda a cidade.

Cartazes nas principais ruas divulgavam o aniversário, e equipes de operários foram vistas recapeando a rua entre o aeroporto e o centro da cidade. Um voo da empresa Air Koryo de Pequim a Pyongyang observado pela Reuters estava lotado, principalmente com jornalistas e turistas estrangeiros.

Os eventos, especialmente os Jogos das Massas, oferecem à Coreia do Norte uma oportunidade de levantar divisas junto a milhares de visitantes internacionais que chegarão à cidade, numa época em que o turismo ainda é uma das poucas fontes confiáveis de renda, devido às sanções da ONU que atingem 90% das exportações anuais do país, que movimentam US$ 3 bilhões (R$ 12,3 bilhões)

Os ingressos de edições anteriores dos Jogos das Massas chegaram a mais de US$ 300 (R$ 1.230), mas este ano os lugares VIP para assistir aos Jogos saem por 800 euros (R$ 3.800), disse Simon Cockerell, gerente-geral da agência de turismo Koryo Tours. Os assentos mais baratos custam US$ 100 (R$ 410), e há várias opções intermediárias.

Apesar do custo alto, a demanda por ingressos é grande, disse Cockerell. “Todos os voos estão lotados, todos os hotéis, idem.” Chama a atenção o fato de a Coreia do Norte ter proibido agências de viagens chinesas de aceitar mais turistas até meados de setembro, simplesmente por motivos de capacidade.

O Korea Maritime Institute, um think tank sul-coreano, estima que o turismo gera US$ 44 milhões (R$ 180 milhões) por ano para o país. Cerca de 80% dos estrangeiros que visitam Pyongyang são turistas chineses.

Até agora apenas um chefe de Estado de um país pequeno, a Mauritânia, tem presença confirmada na Coreia do Norte para os festejos do aniversário do país. Pyongyang culpa os EUA por esse fato.

“Os EUA estão forçando outros países a não enviar delegações de alto nível para os festejos do 70º aniversário da fundação da república”, disse o Ministério do Exterior norte-coreano em declaração publicada em agosto pela agência de notícias estatal KCNA.

Após semanas de especulações de que o líder chinês, Xi Jinping, pudesse fazer sua primeira visita a Pyongyang neste domingo, Pequim anunciou nesta semana que a delegação chinesa será comandada pelo presidente do Parlamento, Li Zhanshu.

Ainda neste mês a Coreia do Norte também terá uma feira comercial e outros eventos que visam atrair investidores estrangeiros, mas muitos continuam a recear as sanções que bloqueiam muitos aspectos do comércio com Pyongyang.

Michael Spavor, consultor empresarial canadense que comanda a organização de intercâmbio cultural Paektu Cultural Exchange, disse que está trabalhando com o governo norte-coreano para trazer 25 empreendedores e investidores chineses para visitarem projetos potenciais em Pyongyang, Wonsan e Nampho.

“Vamos participar de sessões com vários representantes governamentais e partes interessadas, além de visitar zonas de desenvolvimento atuais e futuras”, disse Spavor à Reuters.

A programação prevista deste domingo inclui  uma procissão à luz de tochas e um desfile militar. Este será observado de perto para flagrar possíveis sinais de novos mísseis balísticos ou outras armas avançadas.

A Coreia do Norte tradicionalmente aproveita feriados nacionais para exibir sua capacidade militar e os avanços mais recentes em seu programa de mísseis.

O site 38 North diz que imagens obtidas por satélite sugerem que a parte militar do desfile deste domingo pode ser maior que um desfile anterior promovido neste ano, apesar de não terem sido vistos mísseis balísticos de longo alcance ou seus lançadores.

“Sempre foi crucial para o Estado norte-coreano exibir seu poderio militar”, observou o pesquisador Hong Min.

“Mas Pyongyang sabe que, se incluir mísseis balísticos intercontinentais no desfile, a comunidade internacional vai colocar em dúvida sua disposição de se desnuclearizar. É altamente improvável que a Coreia do Norte queira colocar isso em risco."

Tradução de Clara Allain

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