Descrição de chapéu Venezuela

Venezuela busca diálogo com o Brasil

Aloysio Nunes se encontra com chanceler venezuelano, Jorge Arreaza; países estão sem embaixadores

Clóvis Rossi Danielle Brant
São Paulo e Nova York

Para dois países que não têm embaixadores presentes em seus respectivos postos, os chanceleres de Brasil, Aloysio Nunes Ferreira Filho, e da Venezuela, Jorge Arreaza, mantiveram uma conversa bastante amigável nesta sexta-feira (28), em Nova York.

Conversa solicitada pelo venezuelano, o que não deixa de ser surpreendente: afinal, o regime de Nicolás Maduro chamou de volta o embaixador no Brasil, logo que foi aprovado o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Pouco mais tarde, a Venezuela expulsou o embaixador brasileiro, Ruy Pereira.

Os cinco chanceleres (a indiana Sushma Swaraj, à esq., a sul-africana Lindiwe Sisulu, o chinês Wang Yi, o brasileiro Aloysio Nunes e o russo Serguei Lavrov) posam atrás de uma mesa e diante de suas respectivas bandeiras
O chanceler Aloysio Nunes posa em Nova York para foto com seus colegas chanceleres dos Brics, o russo Serguei Lavrov (à dir.), o chinês Wang Yi (no centro), a sul-africana Lindiwe Sisulu (de verde) e a indiana Sushma Swaraj - Qin Lang/Xinhua

Com isso, os dois países só mantêm encarregados de negócio em cada capital, um sinal de congelamento das relações.

Arreaza tratou, na conversa com Aloysio Nunes, de aquecer um pouco o relacionamento. Chegou a dizer que reconhecia a moderação do comportamento brasileiro, na comparação com outros vizinhos, como Argentina e Colômbia, por exemplo, que levaram o caso da Venezuela ao Tribunal Penal Internacional.

Esse passo inicial de um eventual degelo não foi suficiente, de todo modo, para que os dois chanceleres dessem por superadas as divergências entre os dois países, de resto profundas.

Serviu, entretanto, para que conversassem sobre programas bilaterais de cooperação em duas áreas: proteção das fronteiras, para evitar o tráfico de armas e drogas. O Brasil tem acordos desse tipo com todos os demais países com os quais faz fronteira. Falta a Venezuela.

Segundo programa: troca de informações epidemiológicas, ainda mais necessário quando se intensifica a chegada de venezuelanos ao Brasil, fugindo da crise.

A propósito: Arreaza queixou-se de dificuldades no atendimento consular aos venezuelanos que emigram para o Brasil, fugindo da crise.

A jornalistas em Nova York, após se reunir com o homólogo norte-coreano, Ri Yong-ho, Aloysio afirmou que o fluxo de venezuelanos “não constitui um problema dramático”, dada a dimensão do Brasil (estima-se hoje que haja 57 mil venezuelanos no território nacional).

“O problema é sua localização, ali no estado de Roraima. Disse a ele as providências que estávamos tomando e nosso esforço para apoiarmos que os venezuelanos que queiram se dirigir a outros estados da federação possam fazê-lo.”

Ele negou, contudo,  que o governo brasileiro esteja discutindo com autoridades venezuelanas a repatriação desses migrantes. "Nossa fronteira está aberta —se quiserem vir, recebemos; se quiserem voltar, evidentemente voltarão.”

Aloysio e Arreaza  discutiram outro ponto de atrito entre Brasil e Venezuela, as dívidas que cada um tem com o outro. 

O Brasil deve à empresa de energia da Venezuela, mas não consegue pagar porque as sanções impostas pelos Estados Unidos impedem a transferência de recursos. Já a Venezuela deve muito mais ao Brasil, mas não paga porque não tem recursos.

Aloysio propôs um encontro de contas: a dívida brasileira seria deduzida do débito ainda mais da Venezuela. Arreaza ficou de levar a proposta aos setores competentes de seu país.

Arreaza deixou claro ao colega brasileiro que não está no horizonte a saída de Nicolás Maduro, que é o objetivo não tão oculto do governo americano. Para o chanceler venezuelano, Maduro só sai se perder a próxima eleição. 

Aloysio, por sua vez, rejeitou a jornalistas ideia de intervenção e defendeu favorecer um diálogo interno entre o governo e a oposição da Venezuela.

O chanceler Arreaza está tão seguro —ou, ao menos, quer demonstrar segurança— que disse que seu governo está aberto ao diálogo, com quem quiser dialogar (entre os atores internos), desde que aceitem que Maduro tem um mandato que considera legítimo e que quer levar até o fim.

Tão seguras parecem as autoridades venezuelanas que o chanceler disse ao representante brasileiro que a economia venezuelano não vai desmoronar —contrariando as incontáveis análises que consideram o país como virtualmente falido.

O chanceler brasileiro passou a semana nos ligados à Assembleia-Geral da ONU, e disse ter sido consultado por outros ministros sobre o processo eleitoral no Brasil. Segundo Aloysio, ele tranquilizou os colegas sobre a solidez da democracia brasileira. 

“Quiseram muito saber o que vai acontecer na política externa brasileira. E eu disse que a política externa brasileira não faz grandes mudanças de um governo para o outro”, disse.

“Nós temos parâmetros muito seguros que seguimos há muito tempo que, com diferença de ênfase de um governo a outro, tem balizado nossa política externa. Não teria nenhuma ruptura.”

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