Descrição de chapéu Venezuela

Venezuela expulsa principal diplomata dos EUA e critica sanções

Resolução do governo Trump é 'crime contra a humanidade', diz Caracas

Caracas

Um dia após Washington anunciar mais sanções contra a Venezuela, o ditador Nicolás Maduro expulsou o principal diplomata dos EUA do país.

Maduro declarou o encarregado de negócios do país, Todd Robinson, “persona non grata” e deu um prazo de 24 horas para que ele e o chefe da seção política, Brian Naranjo, abandonem o país.

“A Venezuela deve ser respeitada. As sanções planejadas pela oposição e assinadas por [Donald] Trump ofendem a dignidade nacional e o nosso povo”, disse ele.

Todd Robinson, encarregado de negócios na Embaixada dos EUA em Caracas e principal diplomata americano na Venezuela
Todd Robinson, encarregado de negócios na Embaixada dos EUA em Caracas e principal diplomata americano na Venezuela - Carlos Garcia Rawlins/Reuters

A mais nova deterioração nas relações bilaterais ocorre após a eleição do último domingo (20), quando Maduro foi reeleito em votação pelo baixo comparecimento e pelo uso da máquina estatal. Os EUA não têm embaixador em Caracas desde 2010.

Na segunda-feira (21), os EUA, principal parceiro comercial de Caracas, proibiram a compra ou venda de ativos que pertençam ao governo venezuelano em território norte-americano. 

A medida afeta qualquer ativo do país, inclusive os da estatal petroleira PDVSA, dona da rede de postos de combustíveis e refinarias Citgo, uma das maiores dos EUA.

O pleito foi boicotado pela maior parte da oposição, cujos principais líderes, como Henrique Capriles, estão inelegíveis. O principal candidato opositor, Henri Falcón, não reconheceu o resultado.

A oposição exige uma nova eleição no último trimestre do ano e prometeu convocar protestos em todo o país. Com 99% das atas apuradas até esta terça (22), a abstenção estava em 54%. Maduro teve 67,8% dos votos válidos, contra 20,9% de votos de Falcón.

Os Estados Unidos estão entre os países que não reconheceram o resultado de domingo. O Grupo de Lima, que reúne o Brasil e outras 13 nações, anunciou a convocação de seus embaixadores em Caracas para consultas.

No caso brasileiro, não será necessário –o embaixador Ruy Pereira foi expulso de Caracas em dezembro, sob a justificativa de que a ex-presidente Dilma Rousseff foi vítima de um golpe de Estado em 2016.

Por outro lado, China e Rússia, que reconheceram a vitória de Maduro para um novo mandato de seis anos, criticaram as sanções dos EUA.

Pequim exortou Washington e Caracas a resolver suas diferenças por meio do diálogo. Moscou, que também sofre sanções por parte dos EUA, afirmou que as medidas de Trump são contraproducentes.

A China e, em menor escala, a Rússia emprestaram bilhões de dólares à Venezuela nos últimos anos, em acordos a serem pagos principalmente com petróleo.

As sanções norte-americanas ocorrem na maior crise econômica da história venezuelana. A hiperinflação ronda os 13.000%, e o país está em recessão há cinco anos, desde 2013, levando a centenas de milhares de pessoas a emigrar ao Brasil e a outros países.

A Venezuela envia cerca de metade de sua exportação aos EUA. Só que, ao contrário de outros clientes importantes, principalmente China e Rússia, há entrada imediata de dólares, e não o pagamento de dívidas contraídas.

Para o economista Asdrúbal Oliveros, da consultora Ecoanalitica, as novas medidas tem duas dimensões. Por um lado, aumentam as dificuldades da PDVSA para liquidar ativos e contrair dívidas nos EUA.

Outra consequência é que os bancos e outras instituições financeiras sejam mais precavidos ao lidar com a Venezuela. “Eles não querem correr o risco de violar as sanções e ficam mais restritivos.”

Oliveiros lembra que, até agora, as sanções americanas são apenas financeiras, e não petroleiras. Caso estas ocorram, o dano será muito maior.

O economista lembra que 60% das importações de produtos ligados à indústria petroleira vêm dos Estados Unidos. Isso inclui os aditivos e diluentes para misturar à gasolina vendida no mercado interno venezuelano.

A Conatel (Comissão Nacional de Telecomunicações) anunciou um procedimento administrativo contra o jornal eletrônico El Nacional Web, que pertence ao diário oposicionista El Nacional.

O portal é acusado de “desconhecer as autoridades legitimamente constituídas, incitando e/ou promovendo o ódio”.

Somente neste ano, cinco diários oposicionistas deixaram de circular na Venezuela por deixarem de receber papel subsidiado pelo governo. As publicações estatais não registram o mesmo problema.

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