Descrição de chapéu Venezuela Governo Bolsonaro

Colômbia quer redobrar pressão sobre Venezuela, diz chanceler

Carlos Holmes Trujillo afirma que presidente Iván Duque conversou com Bolsonaro sobe o tema

Sylvia Colombo
Nova York

O chanceler colombiano, Carlos Holmes Trujillo, afirma que a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro e as gestões diplomáticas em relação à crise aguda na Venezuela serão mais enfáticas sob o atual presidente, Iván Duque, do que sob o antecessor, Juan Manuel Santos.

Segundo o chanceler, Duque já conversou a respeito da Venezuela por telefone com o presidente eleitor do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL).

O chanceler da Colômbia, Carlos Holmes Trujillo, é cercado por microfones
O chanceler da Colômbia, Carlos Holmes Trujillo, fala com repórteres em Bogotá - John Vizcaino-6.out.18/AFP

Ainda assim, disse Holmes Trujillo em entrevista a Folha por telefone desde Bogotá, a política colombiana para o país vizinho é a de não intervir. 

O chanceler desautorizou declarações de diplomatas no exterior como o que afirmou à Folha que Bogotá apoiaria uma eventual ação de Bolsonaro ou do americano Donald Trump para desestabilizar Maduro com sanções ou ação militar. 

A ideia, que expôs uma cisão no governo de Bogotá, foi prontamente rechaçada pelo futuro ministro da Defesa brasileiro, general Augusto Heleno Pereira.

“O governo colombiano tem uma posição não intervencionista, mas de forte pressão contra a ditadura venezuelana. Quem falar algo diferente disso estará em dissonância com o que pensa o governo”, disse Holmes Trujillo, 67.

O chanceler afirma que, por necessitar de Maduro para concluir o acordo de paz com a então guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colombia), Santos evitou críticas mais duras e sanções ao vizinho. 

Para o uribismo (a corrente política hoje no poder na Colombia, liderada pelo ex-presidente Álvaro Uribe), isso fez com que se perdesse tempo na tentativa de reconstruir a democracia na Venezuela.

 

Qual a saída que o atual governo colombiano tem para a crise na Venezuela?

Não é belicista, é levar as ações diplomáticas a um novo patamar, que inclua pressão e sanções específicas. A Colômbia tem um compromisso com a democracia e a liberdade, assim como seus vizinhos na região, e não tomará decisões solitárias com relação à Venezuela.

Um alto diplomata colombiano disse à Folha, e já declarara a outros veículos sem pedir sigilo do nome, que era favorável à intervenção. O que houve? 

Não há espaço para versões dissonantes nessa questão, e estão sendo tomadas medidas em relação ao funcionário. Qualquer porta-voz da Colômbia no exterior que diga algo que não corresponde ao que o governo colombiano pensa está sujeito a reprimenda.

Mas o eleitor uribista ouviu de Iván Duque na campanha a promessa de que haveria uma solução mais contundente para o fluxo de imigrantes que cruza a fronteira vindo da Venezuela rumo à Colômbia. O que responder a esse eleitor?   

O eleitor do presidente Duque já vê diferença de atuação dele em relação ao ex-presidente Juan Manuel Santos. Já como oposição fomos muito críticos a Santos pela maneira como manteve branda a relação com a Venezuela, fazendo com que perdêssemos tempo. No governo, já de cara assumimos o regime venezuelano como ditadura. 

Com relação a ações mais concretas, o presidente Duque levou ao Tribunal Penal Internacional em Haia, com outros países, denúncias de abusos de direitos humanos na Venezuela. A Colômbia também saiu da Unasul [União das Nações Sul Americanas, que reúne os países da sub-região] e vem atuando em todos os fóruns e cenários possíveis para denunciar os delitos dessa ditadura. O presidente Duque quer continuar trabalhando com todas as forças e órgãos internacionais possíveis.

São a favor de sanções?

Sim, mas sanções pontuais, contra indivíduos e nunca contra a coletividade da população venezuelana.

A Colômbia já recebeu mais de 1 milhão do 1,9 milhão de refugiados que saíram em dois anos da Venezuela. Em Cúcuta, na fronteira, a reportagem testemunhou apoio do governo e de entidades internacionais aos recém-chegados, mas também refugiados serem alvo de recrutamento forçado por facções criminosas, ataques do crime organizado e oportunistas. Qual a solução?

São duas questões diferentes. Nossa posição será a de continuar recebendo os irmãos venezuelanos que busquem nosso território em fuga da ditadura venezuelana. Porém, quando isso se mistura a assuntos de segurança interna, como a ação das facções e do crime organizado, as forças de segurança continuarão atuando contra essas facções. Não é bom que refugiados entrem de modo ilegal. Nosso desejo é que todo migrante seja assistido ao chegar.

Mas isso não é o que se vê em Cúcuta, onde entram muitos venezuelanos sem documentos e onde há atuação de gangues que oferecem transporte, trabalho, em troca de ações muitas vezes ilegais.

Estamos trabalhando para não ser assim, para que o migrante seja acolhido dentro da lei, que seus direitos sejam preservados, e que as facções não possam tirar proveito disso. Estamos e continuaremos fazendo o possível para receber quem sai de território venezuelano com espírito humanitário, porque só isso garantirá a ordem nacional e regional.

Avança a ideia de fundo para recolher recursos aos refugiados? Qual entidade faria a captação?

Isso está sendo discutido no âmbito do Grupo de Lima [que reúne países da região em torno de uma solução para a crise venezuelana] e pode ser o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, a ONU [a captar fundos]. O importante é nos concentremos nos recursos para a recepção dos migrantes nos diversos países. Será uma plataforma financeira regional.

Por que a Colômbia ficou de fora do documento do Grupo de Lima que se declara contra de uma intervenção?

Por questões de prazo e de detalhes com relação aos quais não chegamos a acordo. É questão menor, comum em grupos como esse, que nem todos os países estejam prontos a assinar. Não significa uma guinada a favor de uma solução bélica por parte do governo. Nós seguimos acreditando em soluções diplomáticas, mas incluindo soluções diplomáticas que vão além do diálogo e que incluam, por exemplo, sanções a indivíduos específicos que integrem o alto escalão do governo venezuelano.

O presidente Duque já conversou com o presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), sobre a Venezuela? 

Sim, eles falaram sobre esta e outras questões. O presidente Duque expôs nossa visão do problema assim como descrevi. Esperamos que, em relação ao Brasil, possamos trabalhar nesses termos nessa questão.

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