Trump insinua que 'matadores' podem estar por trás de desaparecimento de jornalista

Secretário de Estado Mike Pompeo irá à Arábia Saudita e à Turquia para tratar do caso

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Ancara e Washington | Reuters e AFP

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (15) que "matadores de aluguel" poderiam estar por trás do desaparecimento do jornalista saudita Jamal Khashoggi, que sumiu após entrar no consulado em Istambul, no último dia 2.

O republicano também disse não saber se é verdadeira a informação publicada pela imprensa de que a Turquia teria áudios que comprovariam a hipótese aventada por Ancara de que o repórter teria sido esquartejado na representação diplomática.

Visitantes deixam o consulado da Arábia Saudita em Istambul nesta segunda (15)
Visitantes deixam o consulado da Arábia Saudita em Istambul nesta segunda (15) - Petros Giannakouris/AP

As declarações foram feitas depois de Trump conversar com o rei Salman, da Arábia Saudita, que novamente negou que o país esteja por trás da morte de Khashoggi e disse desconhecer seu paradeiro. 

"Pareceu-me que talvez possam ter sido matadores de aluguel [que o tenham assassinado], quem sabe", disse, ao comentar o telefonema.

Minutos depois, em um canal oficial, o presidente americano anunciou o envio do secretário de Estado, Mike Pompeo, a Riad para uma reunião com Salman. Depois, ele irá à Turquia, onde ocorrem as investigações do sumiço.

Khashoggi era colunista do jornal americano The Washington Post e morava no estado americano da Virgínia desde o ano passado, quando deixou a Arábia Saudita depois de ter rompido com o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman.

Ele foi ao consulado saudita em Istambul para buscar uns documentos para seu casamento com a pesquisadora turca Hatice Cengiz —os dois planejavam se radicar na cidade. Ela, que o esperava na porta do prédio, foi quem denunciou o desaparecimento.

Na mesma hora em que o jornalista estava no edifício, um grupo de agentes sauditas que havia chegado naquele dia a Istambul e que foi embora horas depois entrou no consulado. A movimentação foi registrada por câmeras de segurança de prédios vizinhos —os sauditas afirmam que as de sua representação estavam desligadas naquele dia.

Nesta segunda, a imprensa americana informou que o regime saudita se prepara para admitir que Khashoggi foi assassinado, mas não por ordem da família real.

​Segundo o jornal The New York Times e a rede de televisão CNN, a versão oficial será a de que Mohammed bin Salman ordenou que seus serviços de inteligência retivessem o jornalista no consulado para um interrogatório ou o detivessem para levá-lo de volta à Arábia Saudita.

Os dois meios de comunicação afirmam que o plano é afirmar que o assassinato teria sido consequência de um excesso de uso da violência dos agentes, que não teria relação com as determinações do príncipe herdeiro.

Os sauditas autorizaram nesta segunda a entrada de investigadores turcos no consulado, após uma semana de discussões sobre qual abrangência poderia ter o procedimento. No entanto, os turcos chegaram horas depois de uma equipe de limpeza entrar no prédio. Não foram reveladas conclusões da inspeção.

A agência de notícias afirma ainda que o rei Salman ordenou que seja aberta uma investigação interna sobre o caso. 

O caso provocou indignação internacional, com o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçando com uma punição severa caso se comprove que Khashoggi foi morto dentro do consulado e aliados europeus pedindo uma investigação confiável.

A Arábia Saudita respondeu dizendo que haverá retaliações a qualquer sanção ou pressão econômica. O tom ameaçador foi reiterado nesta segunda nos jornais locais, controlados pelo regime.

Preocupados com o desaparecimento de Khashoggi, diversas empresas e meios de comunicação abandonaram um evento econômico para investidores internacionais em Riad, entre os dias 23 e 25, visto como uma grande vitrine para o discurso reformista de Mohammed bin Salman.

O último a cancelar sua participação foi o CEO do JP Morgan Chase, Jamie Dimon. Também deixaram o evento os representantes dos fundos de investimento Blackstone e BlackRock, que previam abrir escritórios no país.

Além deles, já haviam cancelado suas participações a Uber, a Viacom, a CNN, o New York Times, o jornal britânico Financial Times e a Bloomberg. O empresário Richard Branson, da Virgin, também rejeitou um investimento de US$ 1 bilhão (R$ 3,77 bilhões) feito pelos sauditas para seu programa espacial.

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