Sauditas enviaram químico para 'apagar' provas de morte de jornalista, diz fonte

Autoridade turca diz que dois especialistas foram até o consulado com esse objetivo

Istambul | AFP

A Arábia Saudita enviou dois especialistas à Turquia para "apagar" as provas do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado de seu país em Istambul no mês passado, disse nesta segunda-feira (5) uma autoridade turca.

A fonte, que pediu anonimato, afirma que um químico e um especialista em toxicologia foram à Turquia “com o único objetivo de apagar as provas do assassinato de Jamal Khashoggi antes que a polícia turca fosse autorizada a fazer buscas nas instalações”, disse, segundo a agência de notícias AFP.

"O fato de uma equipe de 'faxineiros' ter sido enviada da Arábia Saudita nove dias após o assassinato sugere que os líderes sauditas estavam cientes da morte de Khashoggi", acrescentou.

As fonte confirmou informações publicadas nesta segunda-feira (5) pelo jornal turco pró-governo Sabah de que um químico e um especialista em toxicologia chegaram a Istambul em 11 de outubro, nove dias após o desaparecimento do jornalista, para apagar as evidências do assassinato.

Khashoggi foi morto em 2 de outubro no consulado da Arábia Saudita, em Istambul, por uma equipe enviada por Riad, uma morte que o presidente da Turquia disse que foi ordenada por "altos níveis" do governo saudita.

Segundo o Sabah, a partir de 12 de outubro, os dois especialistas, identificados como  Ahmed Abdulaziz al-Jonabi e Khaled Yahya al-Zahrani, "visitaram" regularmente o consulado por uma semana. Eles também apagaram todos os vestígios do assassinato na residência do cônsul, perto do consulado. 

Os dois homens, que de acordo com o jornal vieram com uma "equipe supostamente investigativa" composta por 11 pessoas, deixaram a Turquia em 20 de outubro. 

Segundo o jornal, os investigadores turcos não tiveram acesso ao consulado ou à residência do cônsul até que o químico e o especialista em toxicologia "se livraram" do corpo e apagaram qualquer vestígio.

As buscas no consulado ocorreram na madrugada de 15 para 16 de outubro e na residência do cônsul, no dia 17.  ​

Yasin Aktay, conselheiro do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, insinuou em um artigo publicado na sexta-feira (2) que o corpo pode ter sido dissolvido em ácido.

Nesta segunda-feira (5), o vice-presidente da Turquia, Fuat Oktay, disse que essa informação precisa ser investigada. 

Oktay afirmou à agência de notícias turca Anadolu que já é sabido que o jornalista foi alvo de um assassinato premeditado. "A questão agora é quem deu as ordens. É isso que estamos tentando responder", disse. "Outra questão é onde o corpo está... Há relatos de que o corpo foi dissolvido com ácido agora. Todos esses precisam ser examinados".

Também nesta segunda, a Arábia Saudita afirmou à ONU que a investigação do assassinato será "imparcial". 

A promessa é feita enquanto a situação dos direitos humanos na Arábia Saudita é examinada na sede da ONU em Genebra, em meio à crise gerada pelo assassinato do jornalista.

O chefe da delegação saudita, Bandar Al Aiban, presidente da Comissão de Direitos Humanos, dedicou poucos minutos ao "falecimento do cidadão Khashoggi", e assegurou que o seu país "se comprometeu a conduzir uma investigação imparcial" e que "todas as pessoas envolvidas neste crime serão indiciadas".

Filhos deram entrevista

No domingo, os filhos de Khashoggi deram entrevista ao canal americano CNN e pediram às autoridades sauditas que devolvam o corpo de seu pai para a família.

"Eu realmente espero que tudo o que aconteceu não tenha sido doloroso para ele, ou que tenha sido rápido, que tenha sido uma morte pacífica", declarou Abdullah Khashoggi à televisão norte-americana durante uma entrevista em Washington.

"Tudo o que queremos agora é enterrá-lo em Al Baqi, em Medina, com o resto de sua família", disse seu irmão Salah, referindo-se a um cemitério na Arábia Saudita.

"Falei sobre isso com as autoridades sauditas e espero que isso aconteça rapidamente", acrescentou.

Os filhos do jornalista expressaram preocupação de que o trabalho de seu pai, um colunista do Washington Post, esteja sendo distorcido por razões políticas.

"Eu vejo muitas pessoas agora tentando recuperar seu legado e, infelizmente, algumas estão usando isso de uma maneira política com a qual não concordamos", disse Salah à CNN. "Meu medo é que ele está sendo politizado demais".

"Jamal nunca foi um dissidente, ele acreditava na monarquia, que é o que mantém o país unido", acrescentou.

Os irmãos disseram que se basearam principalmente em reportagens da imprensa para entender a morte de seu pai.

"Há muitos altos e baixos (...) e estamos tentando conhecer a história, partes da história, para completar o filme", disse Abdullah.

"É confuso e difícil. Não é uma situação normal e não é uma morte normal", acrescentou.

Salah enfatizou que "o rei declarou que tudo será levado à justiça", e acrescentou acreditar nisso.

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