Descrição de chapéu Governo Trump

Suposta espiã russa se declara culpada de conspiração contra os EUA

Maria Butina, 30, é acusada de tentar se infiltrar em círculos políticos republicanos

Maria Butina ao dar entrada no centro de detenção de Alexandria, nos EUA - Alexandria Sheriff’s Office - 17.ago.18/AFP
Danielle Brant
Nova York

Maria Butina, acusada de ser espiã russa, se declarou nesta quinta-feira (13) culpada de conspiração para agir como uma agente estrangeira ilegal nos Estados Unidos.

Ela teria atuado em favor do Kremlin de 2015 até ser presa, em julho de 2017. Butina, 30, é a primeira cidadã russa a ser condenada por tentativa feita por um agente estrangeiro de influenciar a política americana antes e ao longo da eleição presidencial de 2016.

A russa fechou um acordo com procuradores federais. Como parte do pacto, admitiu que motivações não eram apenas fruto de uma convicção pessoal em favor da Rússia. 

Butina afirmou não ter agido sozinha. Ela disse ter trabalhado com seu namorado, Paul Erickson, um operador político americano, e sob a direção de Alexander Torshin, ex-senador russo e vice-presidente do banco central russo.

A intenção era forjar ligações com oficiais da NRA (National Rifle Association), líderes conservadores e candidatos nas eleições de 2016, entre eles o republicano Donald Trump, que venceu a corrida.

A um tribunal federal, Butina afirmou que desejava abrir linhas de comunicação não oficiais com americanos influentes na NRA e no Partido Republicano, e convencê-los de que o governo russo deveria ser visto como um aliado, não adversário.

Paul Erickson era um republicano da Dakota do Sul que participou da campanha de Pat Buchanan à Presidência em 1992. Erickson enfrenta acusações de fraude em três estados. Investidores federais querem saber se ele e outros que ajudaram a suposta espiã sabiam das ligações dela com o governo russo.

Nesta quarta, o advogado de Erickson, William Hurd, afirmou que seu cliente era “um bom americano”. “Ele nunca fez e nunca faria nada para ferir nosso país.”

O caso de Butina é parte de um “grande mosaico das operações sobre a influência russa” contempladas em parte na investigação do procurador especial Robert Mueller sobre a interferência da Rússia nas eleições de 2016, afirmou David Laufman, ex-chefe da seção de contra-inteligência da divisão de segurança nacional do Departamento de Justiça.

“O caso joga luz importante na natureza e agressividade das operações de influência russa que tinham como alvo os EUA, uma ameaça contra a qual precisamos de um compromisso inequívoco do governo americano para conter, incluindo o presidente dos EUA, e das duas Casas do Congresso”, afirmou.

Embora Mueller esteja investigando os elos entre esse esforço russo e indivíduos na campanha de Trump à Presidência, Butina foi processada pela Procuradoria dos EUA em Washington. 

No passado, os procuradores foram forçados a recuar da maioria das acusações contra Butina, como a de que ela usava sexo como arma de espionagem.

Nesta semana, eles admitiram em formulários legais que ela genuinamente queria um diploma de graduação, e não estava apenas se passando por uma estudante que morava nos EUA.

Eles também retiraram acusações de que ela seria o contato com agências de inteligência russas, e de que ela apenas estaria usando Erickson para ganhar acesso a outros americanos influentes. 

A maior parte dos esforços da russa de se aproximar das figuras de poder não era secreta e começou em 2015, segundo os procuradores. Em discursos e durante o tempo em que esteve na universidade American, em Washington, ela defendia publicamente políticas favoráveis à Rússia e uma aproximação dos dois países.

A capa do celular de Butina era uma imagem do presidente russo, Vladimir Putin, andando a cavalo sem camisa. 

Torshin dirigia o trabalho da russa, e Erickson a ajudava no chamado “Projeto de Diplomacia.” Ambos ajudaram a suposta espiã a organizar viagens a Moscou de membros importantes da NRA, por exemplo.

“Ao longo da conspiração, Butina escreveu notas a oficiais russos sobre seus esforços e sua análise do cenário político nos EUA antes das eleições de 2016”, afirmaram os procuradores. 

Butina também procurava conselhos do oficial russo sobre se ela deveria se encontrar com determinadas pessoas. “Ela pedia a ele orientação sobre se o ‘governo’ russo estava pronto para encontrar algumas dessas pessoas.”Ela também não escondia sua tentativa de se aproximar de homens mais velhos poderosos.

A russa posava para fotos com republicanos de renome, como o governador Scott Walker, de Wisconsin, e com ex-candidatos à Presidência. Butina conseguiu tirar uma foto com Donald Trump Jr., o filho mais velho do presidente. Ambos se conheceram durante um jantar patrocinado pela NRA em 2016 em Louisville, Kentucky.

O acordo também faz referência a George O’Neill Jr., um escritor conservador ligado à família Rockefeller que ajudou a pagar contas da russa nos EUA. Ele não é acusado de nenhuma irregularidade, mas teria oferecido jantares que deram à russa acesso a indivíduos com capital político.

Por fim, a procuradoria fala do papel do oligarca russo Konstantin Y. Nikolayev, que deu dinheiro para bancar as despesas iniciais de Butina nos EUA --e que nega ter dado ajuda financeira à suposta espiã após 2014.

Pelo acordo, ela deve receber uma sentença de prisão curta e possivelmente ser libertada após cumprir cinco meses na cadeia. Depois, deve ser deportada, segundo documentos que trazem dados sobre o acordo.

Uma nova audiência sobre o caso foi marcada para 12 de fevereiro. 

​Nesta quinta, Putin falou sobre o caso da russa em uma reunião do conselho de direitos humanos do Kremlin. “Eu perguntei a todos os chefes de nossos serviços de inteligência o que está acontecendo, quem é ela. Ninguém sabe de qualquer coisa sobre ela.” 

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