Google e Apple são criticados por aplicativo que permite a sauditas monitorar esposas

Entidades de direitos humanos dizem que empresas ajudam na repressão às mulheres no país

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Londres | Reuters

Um aplicativo criado pelo governo da Arábia Saudita, que permite aos homens monitorar e controlar suas mulheres e filhas com o clique de um botão, deve ser removido lojas online do Google e da Apple. A afirmação é de políticos americanos e ativistas pelos direitos humanos.

Eles argumentam que as gigantes da tecnologia estão permitindo abusos contra mulheres e meninas no país do Oriente Médio, que é considerado ultraconservador pela forma como trata as mulheres e por permitir o aplicativo.

O aplicativo, chamado de Absher, foi criado pelo Ministério do Interior saudita e permite aos homens monitorar suas esposas e outras parentes mulheres quando usam seus passaportes em viagens internacionais. Segundo os especialistas em direitos humanos, o aplicativo também possibilita que os homens recebam atualizações por SMS se o documento for utilizado.

O aplicativo está disponível na versão saudita das lojas on-line do Google e da Apple. "Parte do design do aplicativo permite a discriminação contra as mulheres", disse Rothna Begum, epecialista em direitos das mulheres no Oriente Médio da Human Rights Watch.

"Os guardiões masculinos agora têm controle completo, facilitado com o uso de tecnologia. Isso torna a vida deles mais fácil e restringe a vida das mulheres sauditas."

Nem a Apple nem o Google comentaram o uso do aplicativo.

O CEO da Apple, Tim Cook, disse em uma rádio nos EUA  que nunca tinha ouvido falar do Absher, mas prometeu "dar uma olhada".

As mulheres sauditas devem ter a permissão de um parente do sexo masculino para trabalhar, casar e viajar sob um sistema de tutela rigorosa do país. Grupos de direitos humanos em todo o mundo têm criticado a prática, que consideram abusiva.

O senador americano Ron Wyden, via twitter, apelou para que Apple e Google removam o aplicativo de suas lojas, argumentando que promove "práticas abusivas contra as mulheres".

Suad Abu-Dayyeh, um porta-voz sobre o Oriente Médio para o grupo de direitos das mulheres Equality Now, levanta dúvidas se as empresas vão retirar o aplicativo.

"Poder e dinheiro falam, infelizmente, sem dar qualquer atenção para as violações dos direitos humanos", ele disse.

"Eu realmente espero que eles tomem uma posição concreta no sentido de remover o aplicativo, mas eu não estou esperançoso."

A Arábia Saudita, uma das nações do mundo onde mais acontece a segregação de gênero, ocupa a posição número 138 de 144 países num ranking de 2017 do Global Gender Gap, um estudo desenvolvido pelo Fórum Econômico Mundial sobre a forma como as mulheres se saem na participação econômica, política, saúde e educação em cada país.

O Príncipe saudita Salman bin Mohammed deu sinais no ano passado que poderia acabar com o sistema de tutela masculina, mas não houve continuidade ao processo de anulação do sistema.

Enquanto isso, segundo ativistas, não há evolução em direção à igualdade de gênero na Arábia Saudita. Pelo contrário, há repressão aos que apoiam as mudanças, incluindo a detenção e tortura de ativistas dos direitos das mulheres. 

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