Descrição de chapéu The New York Times

Kim Jong Un renova liderança da Coreia do Norte e promete desafiar sanções

Ditador prometeu construir uma economia autossuficiente para resistir às sanções lideradas pelos EUA

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Kim Jong Un como membros da Assembleia Popular Suprema, em frente ao Mansudae Assembly Hall, em Pyongyang
Kim Jong Un como membros da Assembleia Popular Suprema, em frente ao Mansudae Assembly Hall, em Pyongyang - KCNA via KNS/AFP
Choe Sang-Hun
Seul | The New York Times

O líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un, arquitetou na semana passada uma das maiores renovações já vistas na liderança de seu país, injetando sangue novo em suas equipes econômica e diplomática, e prometeu construir uma economia autossuficiente para resistir às sanções lideradas pelos Estados Unidos.

Em reuniões do Legislativo subserviente norte-coreano e do governista Partido dos Trabalhadores, Kim –agora descrito como “representante supremo de todo o povo coreano”, segundo a imprensa estatal—reafirmou sua liderança e modificou sua equipe de política externa após o fracasso de sua reunião de cúpula com o presidente Donald Trump em Hanói no final de fevereiro.

As discussões em Hanói terminaram abruptamente, obrigando Kim a voltar para casa sem ter conseguido aliviar as lesivas sanções internacionais impostas devido a seu programa de armas nucleares. Kim havia pedido que Trump cancelasse as sanções mais pesadas em troca de um desmonte parcial de seu programa nuclear, mas Trump considerou a oferta insuficiente.

Relatos vindos da Coreia do Norte sobre as reuniões desta semana em Pyongyang, a capital, não mencionam qualquer ameaça de Kim de retomar os testes nucleares ou de mísseis nem de ele fazer críticas diretas a Trump. É um sinal de que Kim quer conservar a via diplomática aberta.

Mas ele tampouco ofereceu qualquer concessão a Washington, dizendo que a Coreia do Norte suportará a dor das sanções. Nas últimas semanas a mídia estatal norte-coreana jurou que a população “sobreviverá apenas com água e ar” ou até morrerá de fome, mas não cederá sob a pressão americana.

Autoridades dos EUA dizem que as sanções das Nações Unidas representam sua ferramenta mais eficaz para exercer influência sobre o Norte, mirando todos os maiores produtos de exportação norte-coreanos, como carvão, pescado e têxteis, além das importações muito necessárias de combustível. Na quinta-feira, quando se reuniu em Washington com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, Trump disse que é importante levar adiante as discussões com a Coreia do Norte, mas também reafirmou que não vai levantar as sanções quanto esse país não se desnuclearizar.

A mudança na liderança efetuada esta semana por Kim parece assinalar que ele se prepara para negociações prolongadas. Ele substituiu altos funcionários mais velhos por figuras mais jovens e agressivas e prometeu várias vezes superar as sanções.

Numa reunião do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores, na quarta-feira, Kim exortou os norte-coreanos a construírem “uma economia nacional autossuficiente” para “travar um golpe decisivo contra as forças hostis que, com os olhos injetados de sangue, se equivocam ao pensar que sanções poderão colocar a RDPC de joelhos”. A informação foi divulgada na quinta-feira pela KCNA, a agência oficial de notícias norte-coreana, usando a sigla do nome oficial do país, República Democrática Popular da Coreia.

Kim aludiu 25 vezes à economia “independente”, “autossustentável” e “autossuficiente”, descrevendo-a como “a eterna corda de salvamento essencial para o destino de nossa revolução”.

Donal Trump e o ditador Kim Jong Un TOPSHOT - US President Donald Trump (L) shakes hands with North Korea's leader Kim Jong Un em reunião em Hanói, Vietnã
Donal Trump e o ditador Kim Jong Un TOPSHOT - US President Donald Trump (L) shakes hands with North Korea's leader Kim Jong Un em reunião em Hanói, Vietnã - Saul Loeb - 27.fev.19/AFP

Na Coreia do Norte, todo o poder se concentra nas mãos de Kim, que em vários momentos passados já realocou funcionários para diferentes cargos de liderança, para testar a lealdade das elites e promover suas metas políticas. Kim tem vários títulos, mas o que ele usa principalmente para governar é o de presidente da Comissão de Assuntos do Estado, o mais próximo que a Coreia do Norte tem de uma Casa Branca.

Esta semana Kim consolidou ainda mais o papel da comissão na estrutura de poder, aparentemente preparando o terreno para tempos econômicos difíceis e negociações diplomáticas incertas com os Estados Unidos.

Em uma reunião na quinta-feira com a legislatura, a Suprema Assembleia Popular, Kim foi reeleito presidente da comissão, segundo a mídia norte-coreana. Ele nomeou um de seus assessores mais leais, Choe Ryong Jae, para a primeira vice-presidência da comissão, consolidando a posição de Choe como líder número dois do país.

A família de Choe é leal à de Kim desde os tempos do falecido avô de Kim, Kim Il Sung, o fundador da Coreia do Norte. Esta semana, Choe, 69 anos, tomou o lugar de Kim Yong Nam, 91, como presidente do Presidium da Suprema Assembleia Popular, papel que tem sido equivalente ao de chefe cerimonial de estado.

Mas na sexta-feira a imprensa norte-coreana aludiu ao presidente da Comissão de Assuntos do Estado –Kim—como “representante supremo de todo o povo coreano”, algo que levou alguns analistas sul-coreanos a especular que Kim pode ter se ungido o chefe formal de estado da Coreia do Norte.

Kim também substituiu o premiê de seu país, responsável pela economia nacional. O premiê substituído, Pak Pong Ju, 80 anos, foi uma figura instrumental no experimento norte-coreano com reformas de mercado. Ele ajudou a dar mais autonomia às empresas estatais e a lançar centenas de mercados não oficiais para suplementar o moribundo sistema público de racionamento.

Esta semana Pak foi nomeado vice-presidente do Partido dos Trabalhadores, fortalecendo sua voz no partido. Além disso, foi reeleito vice-presidente da Comissão de Assuntos do Estado.

Para tomar seu lugar como premiê, Kim escolheu Kim Jae Ryong, que ficou conhecido como chefe do partido na província de Jagang, que sedia muitas das fábricas norte-coreanas de munições. Acredita-se que o novo premiê esteja na casa dos 60 anos.

Outra figura de destaque no troca-troca de posições na liderança é Choe Son Hui, vice-ministra do Exterior que tornou-se a mais nova integrante da Comissão de Assuntos do Estado.

Choe, que teria por volta de 55 anos, é presença regular nas negociações norte-coreanas com Washington nas últimas duas décadas, marcadas por recriminações mútuas e promessas descumpridas.

Em maio passado ela chamou o vice-presidente americano Mike Pence, de linha dura em relação à Coreia do Norte, de “fantoche político”. Isso levou Trump a cancelar temporariamente seu primeiro encontro com Kim, que acabou acontecendo em Singapura em junho. Mais tarde Choe perdeu espaço para Kim Yong Chol, ex-chefe de espionagem e membro da Comissão de Assuntos de Estado que foi o principal representante de Kim em Washington.

Mas o destino de Kim Yong Chol vem sendo objeto de muita especulação desde o fracasso da cúpula em Hanói, e desde então o status de Choe foi fortalecido. Ela se tornou a principal porta-voz da Coreia do Norte, acusando Washington de fazer “exigências de gângster” e avisando que Kim Jong Un pode perder o interesse em dialogar com Trump se os EUA não recuarem na questão das sanções.

A elevação de Choe para a Comissão de Assuntos de Estado pode indicar que Kim pretende iniciar negociações mais prolongadas e duras com Washington para obter um alívio das sanções, disse Cheong Seong-chang, analista sênior do Instituto Sejong, na Coreia do Sul. Sob Kim, a Comissão de Assuntos de Estado tomou o lugar do Ministério do Exterior como centro das negociações com Washington.

“A reorganização mais recente da liderança teria fortalecido a equipe diplomática norte-coreana e reforçado o papel do Comitê de Assuntos do Estado”, disse Cheong.

Tradução de Clara Allai

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