Oposição vence nova eleição em Istambul e impõe maior derrota a Erdogan em 16 anos

Pleito original, realizado em março, tinha sido anulado a pedido do governo

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Istambul e São Paulo | AFP e Reuters

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sofreu neste domingo (23) seu o maior revés desde que chegou ao poder há 16 anos ao ver seu candidato ser derrotado em uma nova eleição para prefeitura de Istambul —o pleito original de março tinha sido anulado a pedido do governo.   

Binali Yildirim, da mesma sigla de Erdogan, reconheceu a derrota pouco depois dos primeiros resultados oficiais mostrarem o nome da oposição, Ekrem Imamoglu, liderando a apuração. 

"De acordo com os resultados, meu adversário Ekrem Imamoglu vai adiante. Eu o felicito e desejo boa sorte", disse Yildirim.

A votação deste domingo é a segunda em menos de três meses na principal cidade da Turquia. A primeira aconteceu em 31 de março e apontou vitória de Imamoglu, do Partido Popular Republicano (CHP), com 15 mil votos a mais em um universo de 10 milhões de eleitores. 

O candidato da oposição à prefeitura de Istambul, Ekrem Imamoglu (no centro, de óculos) acena após deixar colégio eleitoral
O candidato da oposição à prefeitura de Istambul, Ekrem Imamoglu (no centro, de óculos) acena após deixar colégio eleitoral - Bulent Kilic/AFP

Mas a sigla de Yildirim e de Erdogan, o Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) entrou na Justiça alegando uma série de irregularidades na apuração do resultado

O partido conseguiu primeiro uma recontagem dos votos —que manteve a vitória da oposição— e depois conseguiu no início de maio que o Alto Comitê Eleitoral anulasse o pleito, cassasse o mandato de  Imamoglu (ele tomou posse em 17 de abril) e convocasse uma nova eleição para este domingo. 

A decisão causou críticas da oposição e de observadores internacionais, preocupados com os avanços autoritários do governo Erdogan

Os números, porém, mostram que a oposição conseguiu ampliar a vantagem na nova eleição.

Segundo a agência estatal Anadolu, Imamoglu tinha 54% dos votos contra 45% de Yildirim com 99% das urnas apuradas —na primeira votação os dois tinham ficado respectivamente com 48,77% e 48,61%. 

O novo resultado confirma, assim, a derrota de Erdogan, que enfrenta uma série de problemas econômicos, incluindo a alta da inflação e o crescimento do desemprego.  

Além de perder Istambul, o AKP também já tinha sido derrotada em março em Ancara, capital e segunda maior cidade do país.   

"Esta vitória marca um novo começo para a Turquia", comemorou Imamoglu, 49. "Não foi um único grupo ou partido, mas toda a Istambul e a Turquia que venceram estas eleições", acrescentou.

Imamoglu também afirmou estar pronto para trabalhar com o Erdogan para resolver os problemas da cidade.  

No discurso em que reconheceu a derrota e desejou boa sorte ao adversário, o candidato governista também afirmou que o resultado mostra que a democracia continua funcionando bem na Turquia. 

A maior cidade do país é comandada por Erdogan e seus aliados desde 1994, quando ele mesmo foi eleito prefeito. 

O atual presidente, que no início da campanha mostrou-se discreto para evitar inflamar seus oponentes, voltou ao ringue nos últimos dias, multiplicando os ataques contra Imamoglu.

Erdogan passou a se esforçar para minimizar o impacto da votação de março, e chegou a afirmar que essas eleições eram "simbólicas", além de prometer que aceitaria o resultado final. 

Diante disso, Imamoglu apostou em um discurso unificador, repetindo como um mantra seu slogan: "Tudo vai ficar bem". A oposição, no entanto, temia que houvesse fraude e mobilizou um exército de advogados para vigiar as urnas.

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