Descrição de chapéu Governo Trump

Câmara dos Deputados dos EUA aprova moção de repúdio a Trump por comentários racistas

Presidente disse a quatro deputadas para 'voltar e consertar' países de onde vieram

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Washington | Reuters e AFP

A maioria dos deputados da Câmara dos Estados Unidos votou nesta terça-feira (16) a favor de uma moção de repúdio ao presidente Donald Trump pelos comentários racistas que fez sobre congressistas democratas no último domingo (14) em rede social.

O voto, de valor simbólico, tem como objetivo repreender Trump e membros do Partido Republicano que defenderam as declarações. 

"A Câmara de Representantes [deputados] condena energicamente os comentários racistas do presidente Donald Trump, que tem legitimado e incrementado o medo e o ódio contra novos americanos e contra as pessoas de cor", diz o texto.

Além de deputados democratas, que são maioria na Câmara, quatro republicanos e o único independente da Casa votaram a favor da moção de repúdio. O quórum foi de 240 votos a favor e 187 contra.

No tuíte de domingo, o mandatário disse às parlamentares para voltarem aos "países totalmente infestados pela criminalidade de onde vêm". Todas são cidadãs americanas.

Embora não tenha mencionado nomes, Trump parecia estar se referindo a Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, Ilhan Omar, de Minnesota, Ayanna Pressley, de Massachusetts, e Rashida Tlaib, de Michigan --grupo conhecido como "o esquadrão", que tem sido muito crítico ao presidente dos Estados Unidos e também à atual liderança democrata da Câmara.

Apenas Omar, cuja família deixou a Somália como refugiada e chegou aos Estados Unidos em 1992, nasceu fora dos EUA.

A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, defendeu as quatro deputadas durante o debate sobre a moção. 
"Esses comentários [de Trump] são vergonhosos, nojentos e racistas", disse. 

Republicanos argumentaram que as declarações de Pelosi quebraram as regras do debate, levando a votação a um limbo de duas horas. 

"Hoje é o dia sobre o qual todos os historiadores escreverão", afirmou o republicano Kevin McCarthy, acrescentando que as declarações de Pelosi perturbavam "a ordem e a decência" da Casa. 

Em entrevista conjunta, na noite de segunda, as quatro rebateram duramente as acusações do presidente. 

"Não vai nos calar", disse Pressley, pedindo aos americanos que "não mordam a isca". Segundo ela, os ataques são uma maneira de Trump tentar desviar a atenção da população para os verdadeiros problemas do país.

"Com este ataque abertamente racista, Trump busca apenas desviar a atenção. Essa é a agenda dos nacionalistas brancos", afirmou Omar. 

As quatro destacaram que o debate político deve se concentrar em questões como cobertura de saúde e imigração.

Pela manhã, Trump disse que não foi racista nos tuítes e criticou a iniciativa de votação da moção de repúdio. "Esses tuítes NÃO eram racistas. Eu não tenho um só osso racista no meu corpo!", disse em rede social o presidente dos Estados Unidos.

"O que eles chamaram de votação é uma farsa. Os republicanos não devem mostrar 'fraqueza' ou cair em sua armadilha", tuitou. 

Ele também afirmou que os legisladores deveriam se pronunciar sobre a "linguagem chula e as mentiras contadas pelos democratas".

Na corrida pela reeleição em 2020, Trump parece decidido a reavivar as chamas da tensão racial para reforçar sua base eleitoral, majoritariamente branca, mas também para semear divisões entre seus opositores políticos.

Ao ser questionado se ficava preocupado que algumas pessoas pudessem considerar seus comentários racistas, Trump respondeu: "Não me preocupa, porque muita gente está de acordo comigo".

Os ataques do presidente, porém, também causaram críticas em seu próprio partido. A senadora Susan Collins, republicana do Maine, rompeu o silêncio inicial de seus correligionários e pediu ao presidente que apagasse o tuíte: "Foi totalmente fora de lugar".

O senador negro republicano Tim Scott criticou Trump por usar "ataques pessoais inaceitáveis e linguagem racialmente ofensiva".

A estratégia política de Trump parece clara: reforçar as tensões existentes entre os democratas ao atacar quatro jovens da ala mais progressista do partido. Mas suas declarações acabaram unindo o partido em defesa das quatro. 

A sigla vive uma guerra interna entre a ala mais progressista —que inclui as quatro congressistas—, e a liderança (incluindo Pelosi), de tendência mais moderada.

O atrito entre as duas partes ganhou força depois da aprovação de um pacote de US$ 4,6 bilhões destinados a gastos nas fronteiras. O esquadrão criticou duramente o resultado, que teve votos democratas, sob argumento de que ele ajudaria Trump em sua política contrária a imigrantes.

Perguntada pelo The New York Times sobre a revolta do quarteto com a decisão, Pelosi disse que elas não foram capazes de persuadir outros deputados para sua causa. "Essas pessoas têm seu público qualquer e seu mundo no Twitter, mas não geram mobilização. Elas são quatro pessoas e foi essa quantidade de votos que conseguiram."

O esquadrão deu respostas duras à líder do partido. "O público 'qualquer' é o sentimento público", escreveu Ocasio-Cortez no Twitter. "E exercer o poder de mudar é como nós realmente atingimos alterações significativas neste país."

Erramos: o texto foi alterado

A deputada Ilhan Omar vive nos EUA desde 1992, e não 1997, como constava em versão anterior deste texto.

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