Em Hong Kong, ato invade Parlamento e acaba em confronto

Em aniversário da devolução do território, manifestantes tomam sede do legislativo por 3 horas; 54 ficam feridos

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Hong Kong e Pequim | AFP e Reuters

Manifestantes contrários ao governo de Hong Kong invadiram nesta segunda-feira (1º) o Parlamento local, durante protesto que lembrava o 22º aniversário da devolução do território à China, em um novo capítulo da crise política que atinge a região desde o início de junho.   

Já no início da madrugada de terça (2, tarde de segunda no Brasil) a polícia decidiu entrar no local e usou bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta para retirar os manifestante.

Com isso, o confronto se alastrou pelas ruas —parte delas bloqueadas pelos protestos—  e 54 pessoas ficaram feridas, incluindo três em estado grave de acordo com informações do o jornal The Guardian.

Segundo o governo local, 13 agentes de segurança ficaram feridos e tiveram que ser levados para o hospital.  

A líder de Hong Kong, Carrie Lam, condenou a invasão "extremamente violenta" do Parlamento e pediu que a população "volte à calma o mais rapidamente possível". 

Desde o início do dia, o território ficou dividido entre o ato do governo para comemorar o aniversário de devolução —Hong Kong foi uma colônia britânica antes de retornar ao domínio chinês— e o protesto convocado por ativistas pró-democracia. 

Com gritos de "vamos lá, Hong Kong", milhares de manifestantes foram às ruas contra o governo e o controle chinês. Os organizadores afirmaram que 550 mil pessoas participaram do ato, enquanto a polícia afirma que foram 190 mil. 

A maior parte do protesto, que tinha autorização do governo para acontecer, ocorreu de maneira pacífica. Um primeiro confronto foi registrado quando jovens encapuzados ocuparam e bloquearam as três principais avenidas de Hong Kong com grades de metal.

Policiais, equipados com cassetetes e escudos, posicionaram-se diante dos manifestantes. Os agentes usaram gás lacrimogêneo, e os ativistas responderam com lançamento de ovos.   

Depois disso, um pequeno grupo, composto na maioria por estudantes vestidos com capacetes e máscaras, dirigiu-se até a frente do Parlamento local.

Usando um carrinho de metal, barras de ferro, pedaços de andaime e guarda-chuvas (um símbolo do movimento pró-democracia no território), os manifestantes quebraram o vidro reforçado e avançaram contra o complexo do governo. 

A polícia mobilizou uma unidade antidistúrbios dentro do edifício e usou bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta para conter a ação.

Polícia joga bombas de gás lacrimogêneo em manifestantes próximos à sede do governo de Hong Kong
Polícia joga bombas de gás lacrimogêneo em manifestantes próximos à sede do governo de Hong Kong - Anthony Wallace/AFP

Um outro grupo de ativistas tentou impedir a ação dos colegas e se postou na frente dos vidros, mas acabou sendo retirado. Mais tarde, um grupo de parlamentares que apoia os protestos divulgou uma carta criticando a tentativa de invasão do prédio e os bloqueios das ruas. 

Após o confronto, os dois lados chegaram ao impasse, com os manifestantes cercando o Parlamento e a polícia dentro dele tentando impedir a entrada do grupo. Ao longo da noite (manhã no Brasil), cada vez mais pessoas se juntaram aos manifestantes.

Por volta das 21h locais (10h no horário de Brasília), os agentes de segurança deixaram o local —não está claro porque isso aconteceu— e os manifestantes conseguiram entrar no edifício.     

O grupo derrubou portas, destruiu quadros, pichou as paredes do local e estendeu faixa com inscrições como "não há manifestantes, apenas um regime violento" e "Hong Kong livre". 

O Parlamento emitiu um alerta vermelho que exigia que o local fosse esvaziado imediatamente, mas durante três horas o legislativo local ficou sob controle dos manifestantes.

Foi só pouco depois da meia-noite de terça (13h de segunda em Brasília) que a polícia entrou no Parlamento para retirar os manifestantes a força, recomeçando assim o confronto. 

Usando escudos, capacetes e máscaras de gás, a polícia disparou gás de pimenta nos ativistas que estavam do lado de fora do Parlamento —eles usaram guarda-chuvas para se proteger. Às 2h locais (15h de Brasília), os agentes já tinham retomado completamente o controle do invasão prédio.  

As ações foram transmitidas ao vivo, em nove ângulos diferentes, por meio de um esquema montado pelos próprios manifestantes, segundo o Guardian.

As imagens mostravam tanto programas noticiosos da mídia tradicional quanto da imprensa alternativa, no estilo câmera na mão. O número de espectadores de todas as telas, em alguns momentos, era de 100 mil. 

​Segundo o acordo de devolução com Londres, Pequim se comprometeu a respeitar a democracia no território, que possui um sistema legal próprio e certa autonomia política —um arranjo conhecido como "um país, dois sistemas". 

Nos últimos anos, porém, a ditadura do Partido Comunista vem tentando aumentar seu poder sobre o território, levando a oposição pró-democracia a organizar grandes manifestações.

A situação piorou no início de junho, quando o governo de Hong Kong —apoiado por Pequim— apresentou um projeto de lei de extradição que abriria a possibilidade de suspeitos serem enviados à China continental para serem julgados.

Protestos convocados por ativistas pró-democracia contra a nova lei reuniram milhares de pessoas e acabaram obrigando o governo suspender temporariamente o projeto. 

As manifestações, porém, continuaram e passaram a mirar a chefe executiva de governo, Carrie Lam, considerada uma aliada da China.

Lam, porém, se nega a renunciar apesar da onda de protestos, também vista como um desafio ao líder da ditadura chinesa, Xi Jinping. 

No domingo (30), o governo britânico pediu que a China respeitasse o acordo de devolução e mantivesse a democracia no território.

Nesta segunda, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China,  Geng Shuang, respondeu Londres.

"O Reino Unido não tem mais nenhuma responsabilidade sobre Hong Kong. Os assuntos de Hong Kong são uma questão puramente interna da China e nenhum país estrangeiro tem o direito de interferir", afirmou.


Histórico de protestos em Hong Kong

20.dez.1984 Margaret Tatcher e Zhao Ziyang assinam acordo para devolução do território de Hong Kong à China

1º.jul.1997 Hong Kong retorna ao domínio chinês, depois de mais de um século como colônia inglesa

1º.jul.2003 Tentativa de introduzir legislação que proibia subversão contra o governo chinês leva 500 mil opositores às ruas 

2007 Dirigente chinês Hu Jintao promete que em 2017 o legislador de Hong Kong será escolhido por voto direto

29.jul.2012 Estudantes, pais e professores protestam contra tentativa de autoridades de incluir no currículo das escolas de Hong Kong tópicos sobre história e identidade nacional chinesa

14.mar.2013 Xi Jinping toma o poder na China e aumenta o cerco contra as liberdades de Hong Kong

set. a dez.2014 Governo chinês apoia eleições diretas em Hong Kong, mas estabelece que os candidatos precisam antes ser aprovados pelo Partido Comunista. Tal atitude gera o Movimento dos Guarda-Chuvas, protesto pró-democracia

5.ago.2016 Primeiro protesto pela independência do território reúne milhares em frente à sede do governo

set.2016 Geração de ativistas pró-independência ganha assentos no Parlamento

mar.2017 Promessa de voto direto não se concretiza, e Carrie Lam é eleita chefe executiva de Hong Kong entre candidatos apontados por Pequim 

jun.2017 Dirigente chinês Xi Jinping dá posse a Lam e alerta contra aventuras independentistas

set.2018 Partido Nacional Hong Kong, pró-independência, é banido

abr.2019 Governo Lam propõe projeto de lei que facilita extradição de réus para a China continental

abr.2019 Corte de Hong Kong condena nove líderes dos protestos pró-democracia de 2014 

6.jun.2019 Protestos contra projeto de lei de extradição têm início

12.jun.2019 Votação de projeto é adiado após protestos que reúnem milhares

18.jun.2019 Carrie Lam pede desculpas e adia por tempo indefinido projeto de lei de extradição, mas não o cancela por completo

1º.jul.2019 Manifestantes invadem Parlamento

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