Morre líder chinês que comandou repressão contra estudantes em 1989

Li Peng esteve por trás da decisão de enviar tanques para dispersar manifestantes

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Pequim | AFP

​Em 20 de maio de 1989, Li Peng, à frente do governo chinês há pouco menos de um ano, proclamou lei marcial no país. Duas semanas depois, na madrugada de 4 de junho, o Exército usou suas armas para pôr fim ao movimento pró-democracia dos estudantes que protestavam há um mês e meio na praça da Paz Celestial.

A ação deixou centenas de mortos e ficou conhecida mundialmente pela cena em que um homem, sozinho, consegue deter uma fileira de tanques de guerra

A decisão de recorrer à força foi coletiva, mas Li Peng nunca conseguiu se livrar do rótulo de "açougueiro de Pequim". Esse apelido o seguiu até o fim de sua carreira política oficial em 2003. Cada viagem dele ao exterior foi marcada por manifestações contrárias, como aconteceu em Paris, em 1996.

Li Peng, em foto de 1991, quando era premiê da China - Mike Fiala - 9.abr.1991/AFP

Mesmo assim, Li permaneceu por pelo menos 15 anos como membro permanente do Partido Comunista Chinês (PCC), que comanda o país. Nos anos 1990, ocupou o posto de número dois, logo atrás do presidente Jiang Zemin.

Li permaneceu até sua morte, aos 90 anos, como o símbolo odiado da repressão da chamada Primavera de Pequim, um papel que não o impediu de se manter na cúpula do regime por uma década.

Ele morreu na segunda-feira (22), às 23h15 (12h15 em Brasília), "após uma doença cujo tratamento se revelou ineficaz", informou a agência estatal Nova China, que o homenageou como um "notável revolucionário proletário".

Nascido em outubro de 1928 em uma família originária de Sichuan (sudoeste), Li Peng foi levado aos três anos pelo líder comunista Chou Enlai, futuro premiê da República Popular, após a morte de seu pai, considerado um "mártir da Revolução".

Ele se filiou ao PC aos 17 anos e partiu para Moscou em 1948, onde estudou engenharia e eletricidade. Depois de sete anos, voltou para a China, para trabalhar no setor de energia.

Mais tarde, ele seria considerado o pai da barragem de Três Gargantas do rio Yangtsé, a maior do mundo no momento de sua inauguração, em 2009.

O ano de 1979 marca a estreia de sua ascensão na hierarquia do Partido e do governo. Ele se torna ministro da Energia Elétrica e, na sequência, em 1987, premiê.

'Colocar fim à desordem'

Dois dias antes da proclamação da lei marcial em 1989, Li Peng recebeu os líderes estudantis. Eles interromperam sua fala durante uma cena transmitida ao vivo pela televisão. A decisão de obter a ordem pela força já estava tomada.

"Ele tomou medidas decisivas para conter a desordem e aplacar os ânimos contrarrevolucionários", afirmou a Nova China nesta terça.

"Ele estabilizou a situação interna e teve papel importante nesta luta crucial para o futuro do Partido e do país", acrescentou a agência, retomando o ponto de vista do PC, segundo o qual a estabilidade era indispensável para o desenvolvimento econômico.

Nos anos que se seguiram à repressão, Li se esforçará para relativizar seu papel, apresentando-se como um simples executor das ordens de Xiaoping, morto em 1997, como mostram trechos de um suposto diário divulgados em 2010.

Sob o nome de "Tiananmen Papers", documentos secretos do PC tornados públicos em 2001 nos Estados Unidos mostram, porém, que Li Peng foi o instigador da repressão, empenhando-se em convencer Deng Xiaoping a enviar os tanques para a praça.

A autenticidade desses papéis nunca foi comprovada.

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