Uma gravação na qual a chefe-executiva de Hong Kong, Carrie Lam, afirma que deixaria o governo caso tivesse escolha veio à tona nesta segunda-feira (2).
O áudio, de 24 minutos, captado em uma reunião a portas fechadas entre Lam e empresários, foi obtido pela agência de notícias Reuters.
No encontro realizado na última semana, Lam disse que gerou um "caos imperdoável" ao detonar a crise política no território e que agora tem pouco espaço para resolvê-la. "Se eu tiver uma escolha, a primeira coisa é sair e pedir desculpas sinceras", afirmou a mandatária.
Lam sugere que a impossibilidade de escolher seu destino se deve ao fato de que sua administração serve “a dois mestres, pela Constituição”: o governo chinês e o povo de Hong Kong.
Segundo a chefe-executiva, a questão se tornou um imbróglio de segurança nacional e levantou discussões a respeito da soberania chinesa no momento em que o país vive uma guerra comercial com os Estados Unidos.
Para a mandatária, Pequim ainda não atingiu um ponto de virada. Ela ainda disse que o Partido Comunista não impôs prazo para o término da crise antes das comemorações do Dia Nacional, em 1º de outubro, quando se celebra a fundação da República Popular da China.
Lam também afirmou que a China continental "não tem absolutamente nenhum plano" de enviar tropas militares para conter as manifestações nas ruas de Hong Kong.
Líderes mundiais têm observado de perto a possibilidade —caso o Exército seja enviado, há temores de um massacre nos moldes da sangrenta repressão na Praça da Paz Celestial. Na ocasião, centenas de estudantes que defendiam a abertura política foram mortos em Pequim.
Nesta segunda, milhares de alunos de escolas e universidades de Hong Kong boicotaram as aulas e marcharam pacificamente a favor da democracia. O ato ocorre naquele que seria o primeiro dia de aula após as férias de verão.
O boicote se seguiu a um final de semana marcado por alguns dos piores episódios de violência desde o início dos tumultos. Manifestantes queimaram barricadas e lançaram coquetéis molotov, e a polícia reprimiu com canhões de água, gás lacrimogêneo e cassetetes.
Milhares de estudantes se reuniram no campus da Universidade Chinesa.
Eles pedem mais democracia na ex-colônia britânica, devolvida à China em 1997 segundo a fórmula “um país, dois sistemas”, que garante certa autonomia ao território, incluindo o direito de protestar e um Judiciário independente.
Os manifestantes temem que essas liberdades estejam sendo erodidas lentamente por lideranças do Partido Comunista em Pequim, uma acusação que a China nega.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Geng Shuang, reiterou o apoio de Pequim à líder de Hong Kong, Carrie Lam.
O secretário da Educação, Kevin Yeung, disse aos repórteres que as escolas não são lugar para "fazer exigências políticas" ou tentar pressionar o governo.
Os estudantes compareceram em números significativos em protestos recentes e também foram proeminentes durante o movimento dos guarda-chuvas, em 2014, que prenunciou as manifestações atuais.
Desde junho, milhares de pessoas participam de protestos contra um projeto de lei —agora suspenso — que permitiria a honcongueses serem extraditados para serem julgados nos tribunais da China continental, controlados pelo Partido Comunista.
Com a intensificação do movimento, os atos passaram a abrigar demandas por mais democracia em Hong Kong, como maior participação na escolha dos representantes no Parlamento local e a queda de Lam.
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