Os ataques do presidente Jair Bolsonaro (PSL) à ex-presidente do Chile Michelle Bachelet criaram um constrangimento para o chanceler do país sul-americano, Teodoro Ribera, que realiza nesta quinta-feira (5) uma agenda oficial em Brasília.
O ministro das Relações Exteriores do Chile encontrará o chanceler Ernesto Araújo, no Palácio do Itamaraty.
No dia seguinte, o chileno se reúne com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
As falas de Bolsonaro —que acusou Bachelet de defender "direitos humanos de vagabundos" e atacou o pai da ex-mandatária, morto pela ditadura de Augusto Pinochet— geraram forte repercussão negativa no meio político e na imprensa do Chile.
O presidente do Senado chileno, Jaime Quintana, exigiu publicamente uma "resposta contundente" do presidente Sebastián Piñera e da sua chancelaria.
Diante das cobranças, o presidente chileno declarou em um pronunciamento que não compactua com as falas de Bolsonaro.
Interlocutores que acompanham o tema afirmaram que Ribera estava em voo com destino ao Brasil enquanto ocorriam as manifestações de repúdio, no Chile, às declarações de Bolsonaro.
O desconforto gerado foi tamanho que, ao chegar ao Brasil, ele divulgou um vídeo com um desagravo a Bachelet.
Nele, o chanceler chileno diz que a ex-presidente do seu país "teve um papel determinante" na construção do Chile atual.
"E a República do Chile reconhece e valoriza sua contribuição para o país", completou.
Apesar disso, o diplomata chileno afirma no vídeo que as declarações de Bachelet enquanto alta comissária da ONU são um "assunto próprio" da organização internacional.
"O Chile e o Brasil têm interesses comuns e uma relação histórica que transcende conjunturas e governos", afirmou.
Um interlocutor disse à Folha, sob condição de anonimato, que é preciso colocar "panos frios" no tema, principalmente diante da repercussão que o caso ganhou no Chile.
Diplomatas ouvidos pela Folha afirmaram que os ataques de Bolsonaro criaram um ambiente ruim para a realização da agenda oficial.
Bolsonaro reagiu nesta quarta a uma entrevista de Bachelet, alta comissária da ONU para os direitos humanos, que disse que o Brasil sofre uma "redução do espaço democrático", especialmente com ataques contra defensores da natureza e dos direitos humanos.
"Michelle Bachelet, seguindo a linha do [presidente francês Emmanuel] Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares", escreveu o presidente em uma rede social.
"Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece de que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época", prosseguiu Bolsonaro.
Alberto Bachelet, pai de Michelle, era general de brigada da Força Aérea e se opôs ao golpe militar dado por Pinochet em setembro de 1973. Ele foi preso e torturado pelo regime e morreu sob custódia, em fevereiro de 1974.
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