Kais Saied, um professor de direito desconhecido que fez campanha com baixo orçamento, e Nabil Karoui, um magnata da mídia que está preso, foram alçados ao segundo turno da disputa presidencial na Tunísia.
A informação foi confirmada pela comissão eleitoral do país nesta terça (17). Ainda não há data para a realização do segundo turno, mas é provável que ocorra em outubro.
O pleito, segundo da história do país, acontece menos de dois meses após a morte do presidente eleito em 2014, Beji Caid Essebsi, aos 92 anos.
Depois de conquistar sua independência em 1956, a ex-colônia francesa havia sido governada por apenas dois dirigentes.
Se a expectativa de analistas políticos era de que o processo eleitoral testasse a democracia da Tunísia, única a emergir após os eventos da Primavera Árabe, em 2011, os resultados desta terça demarcaram a rejeição do eleitorado aos líderes políticos estabelecidos.
A frustração da população seria efeito das altas taxas de desemprego e da inflação que assolam o país.
"Sou independente, mas estou pronto para trabalhar com todos na construção de uma nova Tunísia", disse o professor Saied. "Os tunisianos escreveram uma nova e brilhante página na história da Tunísia."
O partido Qalb Tounes, de Nabil Karoui, não comentou os resultados.
Karoui foi preso semanas antes da eleição sob acusação de lavagem de dinheiro e sonegação de impostos. Ele nega os crimes.
Segundo a lei tunisiana, é possível que uma pessoa concorra à Presidência mesmo estando numa cela.
Uma vitória de Karoui no segundo turno levantaria questões jurídicas e constitucionais, já que sua prisão foi decretada antes que o caso recebesse um veredicto. Seus apoiadores atribuem a prisão a manipulação política.
Saied obteve 18,4% dos votos, enquanto Karoui, 15,6%. Os dois deixaram para trás 24 candidatos —os quais variavam entre secularistas, islamistas moderados e populistas. Havia também o primeiro candidato abertamente gay e uma apoiadora do ex-ditador Ben Ali.
Durante sua campanha, Saied adotou visões sociais conservadoras e evocou os princípios da insurreição de 2011.
Candidatos conservadores que se viram derrotados, incluindo o ex-presidente Moncef Marzouki, saíram em apoio a Saied após o resultado.
O presidente da Tunísia tem poderes limitados, controlando a política externa e a defesa, enquanto um primeiro-ministro escolhido pelo parlamento administra outras pastas.
As eleições parlamentares estão marcadas para 6 de outubro.
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