Nomeado novamente primeiro-ministro após sua renúncia, Giuseppe Conte oficializou, nesta quarta-feira (4), a formação de um novo governo na Itália.
A notícia apazigua, ao menos por enquanto, a crise política aprofundada em agosto deste ano no país.
O novo governo será uma coalizão entre o movimento antissistema 5 Estrelas e o Partido Democrático (PD), adversários de longa data, e simboliza a derrota de Matteo Salvini, líder da Liga, partido da direita nacionalista.
Salvini é apontado como o principal responsável pela derrubada do governo, uma tentativa de fazer com que ele virasse o próximo primeiro-ministro da Itália.
Se não houvesse acordo para a formação de um novo governo, o presidente da Itália, Sergio Mattarella, teria que convocar eleições três anos e meio antes do programado, e Salvini poderia sair vitorioso.
No último ano, ele se transformou no político mais popular do país e tem cerca de 36% das intenções de voto.
A cerimônia de posse do novo governo acontece nesta quinta-feira (5), no palácio presidencial em Roma.
Roberto Gualtieri, influente membro do PD, chefiará o ministério da Economia, e Luigi Di Maio, líder do 5 Estrelas e vice-primeiro-ministro no antigo governo, foi anunciado como novo ministro das Relações Exteriores.
O posto do Ministério do Interior, então ocupado por Salvini, ficará a cargo de Luciana Lamorgese, funcionária de carreira sem filiação política.
Depois que os ministros forem empossados, o primeiro-ministro Conte precisará conquistar a aprovação das duas casas legislativas para iniciar oficialmente os trabalhos.
O 5 Estrelas e o Partido Democrático também divulgaram nesta quarta um programa de política compartilhada com 26 pontos, o qual tem no topo de sua agenda um orçamento expansionista para 2020 e o compromisso de não colocar em risco as finanças públicas.
As duas partes ainda se comprometeram a introduzir um salário mínimo e a aumentar os gastos em educação, pesquisa e bem-estar social.
O alinhamento entre os dois partidos ocorreu após o fracasso da coalizão do 5 Estrelas com a Liga, ainda que divergências políticas tenham surgido durante as negociações para formar a nova coalizão.
Na última sexta (31), o 5 Estrelas condicionou seu apoio a uma série de exigências que incluíam a redução do número de parlamentares e a aprovação de uma lei para diminuir os resgates marítimos a imigrantes.
A criação de políticas para a imigração era uma das condições do Partido Democrático, de centro-esquerda, para a formação da aliança. Não está claro como esses pontos serão tratados pelo novo governo.
A CRISE PARLAMENTAR NA EUROPA
Espanha
O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) ganhou com folga a eleição legislativa de abril deste ano, mas depende de outros partidos para formar maioria e para que o premiê Pedro Sánchez, líder do partido, inicie seu segundo mandato. Após sucessivas votações, não houve acordo, e Sánchez tem até 23 de setembro para tentar agregar sustentação.
Se sair vitorioso, a Espanha terá seu primeiro governo de coalizão à esquerda desde 1936, quando eclodiu a guerra civil. Se o impasse persistir, novas eleições legislativas, a quarta em quatro anos, terão de ser realizadas em 10 de novembro.
Itália
Os partidos A Liga (direita nacionalista) e Movimento 5 Estrelas (antissistema) conquistaram votação expressiva nas eleições de março de 2018 e formaram governo. Em agosto deste ano, após desavenças, o líder da Liga, Matteo Salvini, convocou uma moção de desconfiança contra o governo e pediu novas eleições. Com popularidade em alta, Salvini almejava o posto de primeiro-ministro.
Em 20 de agosto de 2019, o premiê Giuseppe Conte, um independente, renunciou ao cargo. Após semanas de duras negociações, o 5 Estrelas e o Partido Democrático (centro-esquerda), adversários de longa data, chegaram a um acordo para formar governo e evitar novas eleições, reconduzindo Conte ao cargo de premiê.
A cerimônia de posse nesta quinta (5) apazigua a crise política, ao menos por enquanto, e simboliza a derrota de Salvini.
Reino Unido
Decidido em plebiscito de junho de 2016, o adeus de Londres à União Europeia (UE) foi objeto de negociações formais entre os dois lados por mais de um ano e meio. O pacto fechado pela ex-primeira-ministra Theresa May, no entanto, acabou rejeitado pelos deputados britânicos três vezes, levando à sua renúncia em julho passado.
Seu sucessor, o premiê Boris Johnson, assumiu o cargo prometendo resolver o impasse a qualquer custo até 31 de outubro de 2019, prazo final estabelecido. Mas nesta quarta (4) o Parlamento britânico aprovou projeto que proíbe o país de deixar a UE sem antes ter um acordo com o bloco para regular a relação futura entre eles.
Boris, que já havia decretado suspensão do Parlamento por cinco semanas para evitar reveses, não aceitou a nova regra e tentou convocar novas eleições para 15 de outubro, mas a proposta foi derrubada pelo Parlamento nesta quarta (4).
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