Há quase três meses, o Partido Comunista Chinês está em rota de colisão com a população de Hong Kong devido a um polêmico projeto de extradição que a chefe-executiva do território havia efetivamente abandonado —mas não formalmente.
Enquanto Xi Jinping, o secretário-geral do partido e presidente do Estado, se recusasse a permitir que Carrie Lam retirasse o projeto de lei ou atendesse a outras quatro demandas centrais apresentadas pelo movimento de protesto, a "revolução da água" de Hong Kong provavelmente continuaria indefinidamente.
Pequim espera que a força policial da cidade possa controlar os protestos pelo tempo que seja necessário, mas também começou a contemplar o que era impensável —mobilizar soldados ou a polícia paramilitar chineses nas ruas de um dos mais importantes centros financeiros do mundo.
Na tarde de quarta-feira (4), Pequim piscou primeiro. Lam anunciou a retirada formal do projeto de lei. O problema para Xi e Lam agora é duplo.
A reação da maioria dos manifestantes, especialmente aqueles que muitas vezes se arriscaram a sentenças de dez anos de prisão por tumultos, provavelmente é que essa concessão seja "muito pouco, muito tarde", especialmente se não for acompanhada de aquiescência à sua segunda demanda —um inquérito judicial formal sobre como o governo lidou com a crise e a alegada violência policial.
Mais problemática para Xi, a concessão de quarta-feira reforçou a convicção da maioria dos ativistas radicais de que, quando se trata de enfrentar Pequim, os protestos violentos funcionam de fato, enquanto os pacíficos não.
A própria Lam disse algo parecido em meados de junho, quando se recusou a suspender o projeto de lei depois de uma marcha pacífica dias antes, mas o fez depois do primeiro protesto violento do movimento, no dia 12.
"Você nos disse que os protestos pacíficos não funcionam" foi a frase pintada com spray repetidamente por manifestantes em pontos de ônibus, estradas e prédios do governo.
O melhor que Xi e Lam podem esperar agora é que essa concessão pelo menos faça Pequim ganhar tempo, reduzindo um pouco o vapor dos protestos, que atingiram um pico febril novamente no fim de semana, interrompendo as operações no aeroporto de Hong Kong pela segunda vez em três semanas.
Mas enquanto Pequim não ceder às outras demandas dos manifestantes, incluindo a introdução de eleições genuinamente democráticas em Hong Kong, os protestos violentos deverão continuar indefinidamente.
Isso deixará apenas a fina linha azul que é a força policial do território impedindo uma intervenção histórica das forças chinesas.
Para o mundo exterior, isso representaria a morte da fórmula "um país, dois sistemas", que preservou amplamente as liberdades civis e o sistema judicial independente da antiga colônia britânica desde que voltou à soberania chinesa em 1997.
Ainda na terça-feira (3), entretanto, graduadas autoridades de Pequim argumentaram publicamente que qualquer intervenção seria feita de acordo com as leis da China e de Hong Kong —e, como tal, teria de fato a intenção de salvar o país com dois sistemas do que eles consideram "terroristas" violentos empenhados em destruir Hong Kong.
Esta crise, a ameaça mais grave à autoridade de Xi Jinping desde que ele assumiu o poder, há sete anos, está longe de terminar.
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