Após Maia se reunir com Fernández, Bolsonaro desiste de enviar representante a posse

Presidente da Câmara foi à Argentina semana passada levando mensagem de cooperação do governo brasileiro

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Brasília e Buenos Aires

O presidente Jair Bolsonaro não enviará mais representante brasileiro para a posse do líder argentino eleito, Alberto Fernández, nesta terça-feira (10).

A desistência, que amplia o mal-estar na relação com o futuro governante do principal parceiro comercial na América do Sul, foi noticiada pelo jornal Clarín e confirmada pelo Painel por integrantes do governo brasileiro. Bolsonaro disse neste fim de semana ao ministro da Cidadania, Osmar Terra, que ele não participará mais da solenidade.

Bolsonaro mudou de ideia após o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ter viajado à Argentina e se reunido com Fernández na semana passada.

Como Maia levou ao argentino uma mensagem de Bolsonaro, pregando a cooperação entre os dois países e a preservação dos acordos comerciais, o presidente brasileiro, segundo interlocutores do Palácio do Planalto, avaliou como desnecessário enviar outro representante para repetir um discurso com ênfase no pragmatismo.

O presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, e o presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, Rodrigo Maia, se cumprimentam
O presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, e o presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, Rodrigo Maia, se cumprimentam em Buenos Aires - Divulgação/Assessoria de Alberto Fernández

Antes de ir à Argentina, na quinta-feira (5), Maia se encontrou com Bolsonaro e o informou que faria a visita. No sábado (7), ambos voltaram a se reunir no Palácio da Alvorada e, segundo assessores, trataram do assunto.

Será a primeira vez, pelo menos desde 1989, que o Brasil não envia pelo menos um representante para uma posse na Argentina. Mesmo quando o presidente não pôde ir, chanceleres ou vices compareceram. Exceção feita, apenas, ao período turbulento pós-crise de 2001, quando houve cinco presidentes em questão de dias, até porque as posses durante esse período eram rápidas, assim como as quedas.

Em 2002, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso não compareceu à posse de Eduardo Duhalde, nomeado pelo Congresso Nacional após a renúncia de Adolfo Rodríguez Saá, ainda em meio à turbulência política.

Antes de escolher Osmar Terra, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi cogitado para representar Bolsonaro. O presidente, porém, desistiu porque o chanceler comparou Fernández a uma matriosca, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dentro.

Após a vitória do argentino, Bolsonaro afirmou que não iria a Buenos Aires para a cerimônia e não cumprimentou Fernández pela vitória.

Em novembro, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, comandada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), aprovou uma moção de repúdio a Fernández.

A proposta argumentava que o argentino, ao defender em agosto a soltura de Lula, questionava a lisura do sistema judicial do país. O petista deixou a prisão no início de novembro. Fernández é aliado de Lula e, ainda candidato, o visitou na prisão em Curitiba.

Em sua campanha, Bolsonaro defendeu publicamente a reeleição de Mauricio Macri, o que foi avaliado como um erro estratégico pelo núcleo moderado do Planalto.

Ao saber do resultado das primárias argentinas —47% de Fernández contra 32% de Macri—, Bolsonaro disse que “bandidos de esquerda” estavam voltando na Argentina.

Recentemente, Bolsonaro moderou o tom. Ele disse na semana passada que, apesar de não ter uma afinidade ideológica com o governo eleito, não rasgará contratos e manterá uma relação pragmática.

O porta-voz do governo eleito da Argentina, Juan Pablo Biondi, disse que Fernández não comentaria nem tuítes de Bolsonaro provocando o indicado a ministro da Economia, Martín Guzmán, nem a desistência de enviar Terra à posse.

Enquanto isso, neste domingo (8), uma cena inusual ocorreu em Luján, cidade de peregrinação católica na Argentina. Mauricio Macri e Alberto Fernández estiveram lado a lado durante a “missa pela unidade e pela paz”, organizada pela Igreja para promover a integração a dois dias da transmissão do cargo.

Fernández disse que estava “muito feliz” de se sentar ao lado de Macri e afirmou que isso era um gesto para ajudar a “colocar fim à divisão da sociedade argentina”. No sábado (7), Macri fez outro aceno na Praça de Maio, quando apoiadores vaiaram Fernández. “Temos que estar juntos e confiar que as coisas vão melhorar.”

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