Evo Morales deixa asilo no México e vai para a Argentina

Ex-presidente boliviano recebeu apoio do novo presidente Alberto Fernández

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O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, chegou na manhã desta quinta-feira (12) à Argentina e ficará no país na condição de refugiado, segundo confirmou o chanceler argentino, Felipe Solá. 

Evo viajou num avião venezuelano que havia deixado Cuba na noite anterior —ele estava na ilha caribenha para fazer exames médicos.

Os trâmites burocráticos em relação à permanência de Evo estão sendo realizados no Ministério do Interior, em Buenos Aires. 

A condição para que ele fique no país é se abster de comentários políticos públicos. "Queremos o compromisso de Evo de não fazer declarações políticas na Argentina", afirmou Solá.

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, durante entrevista à Folha na Cidade do México - Ginnette Riquelme - 28.nov.2019/Folhapress

O ex-mandatário boliviano já havia demonstrado intenção de ir à Argentina, onde estão também seus dois filhos. Ele queria estar fisicamente mais próximo da Bolívia e atuar na liderança de seu partido, o MAS (Movimento ao Socialismo), segundo contou em uma entrevista a um programa de TV.

Naquela ocasião, Evo disse que queria estar perto durante o processo eleitoral que deve ocorrer entre março e abril, segundo relatou à Folha a chanceler interina da Bolívia, Karen Longaric.

De acordo com o chanceler argentino, o governo sabe que Evo fará movimentos políticos e participará de reuniões, mas o combinado é que esses eventos não sejam públicos. “A situação da Argentina é complicada e não queremos novos problemas."

A viagem de Evo foi possível depois da mudança de governo na Argentina, com a posse de Alberto Fernández (de centro-esquerda), na terça-feira (10) .

 

O ex-presidente chegou de forma discreta à capital argentina, acompanhado do ex-vice-presidente Álvaro García Linera, da ex-ministra Gabriela Montaño e do ex-embaixador da Bolívia na OEA (Organização dos Estados Americanos), José Alberto Gonzales. Todos também estavam asilados no México.

"Evo está muito agradecido, ele nos disse que se sente melhor aqui do que no México", disse Solá a veículos de comunicação argentinos. 

Em uma rede social, o ex-presidente agradeceu aos dois países que o receberam depois de sua renúncia, em 10 de novembro. "Há um mês cheguei ao México, país irmão que nos salvou a vida. Estava triste e destroçado. Agora cheguei à Argentina, para seguir lutando pelos mais humildes e para unir a #PátriaGrande, estou forte e animado. Agradeço ao México e à Argentina por todo seu apoio e solidariedade", postou ele.

 

Alberto Fernández e sua vice, Cristina Kirchner, não reconhecem a legitimidade da presidente interina  da Bolívia, Jeanine Añez, autoproclamada depois da renúncia de Evo e de sua equipe. Ela não foi convidada para a posse do novo governo. "Para nós, na Bolívia há uma ditadura neste momento, houve rompimento da institucionalidade", disse Fernández. 

 

Na Argentina, há uma comunidade de mais de 600 mil bolivianos registrados e, de maneira informal, estima-se que essa população chegue a um milhão. As filas na embaixada para votar em dia de eleição boliviana costumam ser bastante grandes.

No dia 4 de dezembro, a OEA divulgou um relatório concluindo que houve “ações deliberadas para manipular os resultados das eleições" de 20 de outubro na Bolívia, incluindo alteração e queima de atas de votação e falsificação de assinaturas.

O texto dos observadores aponta que uma série de “ações e omissões” durante o processo eleitoral “impactaram a certeza, a credibilidade e a integridade dos resultados”.

Após uma auditoria preliminar, o secretário-geral da entidade, Luis Almagro, já havia pedido a anulação do pleito que deu vitória (e o quarto mandato) a Evo Morales.

Na época, ele instou o governo a convocar novas eleições —mas o então presidente renunciou no dia seguinte, pressionado pelos militares e pelas manifestações nas ruas.

Evo foi substituído pela então senadora Jeanine Añez, que aproveitou o vácuo de poder e se proclamou presidente, mas sem votação formal no Congresso.

Desde as eleições, o país enfrenta uma onda de protestos que deixaram pelo menos 33 mortos e centenas de feridos.

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