Descrição de chapéu The New York Times

'Guerra dos bagels' em Montreal une arquirrivais em embate contra ambientalistas

Batalha esquentou quando começaram a circular rumores de que fornos poderiam ser proibidos porque geram poluentes

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Dan Bilefsky
Montreal | The New York Times

Irwin Shlafman, proprietário da Fairmount Bagel, orgulha-se de que seus bagels foram os primeiros a chegar ao espaço, quando seu primo astronauta os levou para a Estação Espacial Internacional.

Shlafman também diz que a Fairmount, fundada em 1919, é a mais antiga casa de bagels de Montreal, no Canadá.

Mas não conte isso a seu arquirrival, Joe Morena, dono do St-Viateur Bagel. Este afirma que a sua casa, inaugurada em 1957, é a mais antiga de Montreal, já que a Fairmount ficou fechada durante algum tempo.

“Os bagels dele foram à Lua, claro”, diz Morena. “Mas o mais antigo? Me dê uma prova.”

Eles são concorrentes no ramo local de bagels —pães de farinha de trigo fermentada, em forma de rosca, fervidos em água com infusão de mel antes de serem assados em forno a lenha.

Atualmente, no entanto, Shlafman e Morena estão unidos contra uma ameaça comum: ambientalistas querem interditar os fornos em que os bagels são feitos, porque geram poluentes.

Joe Morena, left, the owner of St-Viateur Bagel, prepares a batch of bagels in a wood-burning oven in Montreal, Quebec, Canada on Nov. 8, 2019. A culinary symbol of Montreal has become ensnared in a battle pitting environmentalists who want to abolish the pollutant-producing ovens against bagel-loving traditionalists. (Chris Wattie/The New York Times)
Joe Morena (esq.), dono do St-Viateur Bagel, e funcionário preparam pães em forno à lenha  - Chris Wattie/The New York Times

A batalha esquentou no final do ano passado, quando começaram a circular rumores de que a autoridade municipal pretendia proibir os fornos porque eles emitem partículas que podem agravar doenças respiratórias como a asma.

Vizinhos furiosos tinham se queixado à prefeitura, e alguns estavam boicotando as lojas de bagels.

Em sua defesa estavam apreciadores que valorizam o lanche como parte essencial da história judaica e da cidade —os pães de Montreal tornaram-se um símbolo culinário global.

O bagel de Montreal tem tal domínio sobre a psique canadense que os temores de seu fim provocaram comoção nacional.

“A morte do bagel de Montreal?”, questionava uma reportagem no ano passado no Globe and Mail, um dos principais jornais do país.

Joseph Rosen, professor de humanidades na região, diz que o assunto é tão polarizador que vizinhos de ambos os lados da rixa não estavam mais se falando.

“As pessoas estavam chocantemente divididas”, disse. “O pãozinho é uma das poucas coisas que une os habitantes.”

Sarah Hanneman, que mora perto da Fairmount, afirma que a fumaça do forno é tão ruim que ela não suporta abrir a janela no verão e tem dificuldade para respirar.

Ela enfatiza que não tem nada contra os bagels.

“Eles devem se livrar dos fornos a lenha e comercializar seus bagels como ‘verdes’”, diz. “Mas toda vez que a cidade sugere proibir os fornos as pessoas choram: ‘Você não pode tirar meus bagels!’.”

No momento, a guerra do pão está num impasse. A prefeitura avalia um regulamento para exigir que empresas com fornos a lenha instalem purificadores.

A Fairmount Bagel disse que já fez isso, enquanto a St-Viateur instalou um filtro em uma de suas sete lojas.

Mas as autoridades da região proibiram novas empresas de instalar esses fornos, causando alarme de que a arte da produção de bagels em Montreal possa desaparecer.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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