Descrição de chapéu Brexit

Suposta piada sobre Trump rouba a cena no Reino Unido

A 8 dias de eleição para Parlamento, Boris Johnson tenta manter distância do presidente dos EUA

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Londres

O vídeo em que o presidente da França, Emmanuel Macron, e os primeiros-ministros Justin Trudeau (Canadá) e Boris Johnson (Reino Unido) se divertem com uma suposta piada sobre o presidente americano, Donald Trump, desbancou das manchetes a eleição para o Parlamento britânico, que acontece no dia 12.

Os comentários dos líderes, supostamente sobre a tendência de Trump de se alongar demais nas entrevistas à imprensa, e a reação do presidente americano, que chamou Trudeau de "duas caras", foram as manchetes dos tabloides vespertinos e telejornais britânicos no início da noite desta quarta (4).

A saia-justa foi mais um capítulo nas divergências entre os países sobre a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, que reúne 29 países comprometidos em se ajudar em questões de defesa e segurança). A reunião da entidade, que completa 70 anos, acontece num momento de crise institucional.

Da esquerda para a direita, o premiê canadense, Justin Trudeau, o premiê do Reino Unido, Boris Johnson, e a princesa Anna, também do Reino Unido, riem de suposta piada sobre Donald Trump durante recepção no Palácio de Buckingham, em Londres, na conferência da Otan - Yui Mok / POOL / AFP

De um lado, Trump tem cobrado mais investimentos dos países membros e dado sinais de que pode reduzir o apoio à entidade. De outro, Macron disse em entrevista há um mês que a Otan estava "em morte cerebral" e que, devido a incertezas sobre as garantias americanas, a Europa deveria assumir a liderança de sua própria defesa. O francês criticou também a intervenção turca na Síria, e o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, contra-atacou dizendo que Macron deveria examinar primeiro sua própria morte cerebral.

 
As posições da Otan em relação à China e à Rússia também não são consenso entre os principais membros.

Marcada para Londres quando a primeira-ministra ainda era Theresa May e a eleição para o Parlamento não havia sido antecipada, a reunião acabou complicando a campanha eleitoral de Boris Johnson, que tenta obter maioria expressiva dos parlamentares para conseguir avançar com seu acordo para o brexit —a saída do Reino Unido da União Europeia, decidida em referendo em 2016 e já adiada por três vezes, de março de 2019 para maio, depois para outubro e agora para 31 de janeiro de 2020.

O primeiro-ministro vem sendo acusado por opositores, principalmente trabalhistas, de estar "vendendo" o serviço de saúde pública britânico, o NHS, a empresas americanas. Em junho, Trump afirmou que o sistema estava sobre a mesa das negociações comerciais entre os dois países, que estão sendo feitas para quando o Reino Unido tiver deixado a UE.

Os opositores de Johnson dizem que a abertura para os americanos vai encarecer os remédios e piorar o atendimento.

Os conservadores temem que essa acusação ganhe peso numa eleição realizada perto do inverno, quando aumenta a procura por atendimento médico e, por consequência, o potencial de atrito.

Para evitar associações com a abertura do sistema de saúde aos norte-americanos, Boris manteve compromissos de campanha em locais afastados dos da reunião da Otan e evitou aparecer ao lado de Trump. Este, por sua vez, declarou nesta terça (3) que os Estados Unidos não têm interesse no NHS "nem se ele for oferecido em uma bandeja de prata".

Embora essas eleições estejam sendo consideradas por analistas como decisivas para o futuro do Reino Unido, quase não há sinais de campanha em Londres. As ruas comerciais da cidade estão tomadas de enfeites natalinos e consumidores com sacolas de compras.

A Folha percorreu a cidade a pé, de trem e de ônibus durante seis horas, e viu apenas dois folhetos de propaganda trabalhista, com os slogans "Vamos reconstruir a Grã-Bretanha para todos, e não para poucos" e "Não dá para confiar em Boris Johnson".

Em frente ao quartel-general da campanha conservadora, há apenas uma faixa de protesto contra a pobreza e o aquecimento climático, sem manifestantes.

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