Museu símbolo do jornalismo fecha as portas nos Estados Unidos

A organização à frente do Newseum comprometeu-se em continuar a promover a importância da liberdade de imprensa

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Rob Lever
Washington | AFP

A poucos passos do Capitólio, em Washington, a estrutura de vidro e aço do Newseum foi, por mais de uma década, um símbolo para a imprensa e a liberdade de expressão.

Mas como reflexo dos problemas enfrentados pela indústria dos meios de comunicação nos Estados Unidos —em contínua luta financeira e sob ataques de líderes políticos— o museu fechará suas portas nesta terça-feira (31).

A fachada do Newseum, que fecha as portas em Washington
A fachada do Newseum, que fecha as portas em Washington - Tim Sloam - 1º.abr.2008/AFP

Com exposições que incluem desde os ataques do 11 de Setembro até o Muro de Berlim, bem como capas de jornal de todo o mundo, o museu anunciou no começo do ano que venderia seu prédio, desenhado pelo arquiteto James Polshek, para a Universidade Johns Hopkins, por US$ 372 milhões.

A organização sem fins lucrativos The Freedom Forum, criada pelo fundador do USA Today, Al Neuharth, comprometeu-se a continuar sua missão de educar o público sobre a importância de uma imprensa livre, mas não informou se abrirá um novo espaço público de exposições.

"O futuro do Newseum é incerto", disse sua porta-voz, Sonya Gavankar. "Levaremos pelo menos seis meses para desmontar as exposições e transferi-las para nossas instalações de arquivo. Uma vez concluído este processo, começaremos a ver o que o futuro nos reserva", afirmou.

O primeiro Newseum foi inaugurado em 1997, em Arlington, Virginia. 

Durante duas décadas, o museu recebeu cerca de 10 milhões de visitantes e sediou centenas de eventos e conferências.

Mas com o preço do ingresso ultrapassando US$ 20 (cerca de R$ 80) em uma cidade com museus de classe mundial gratuitos, o Newseum teve dificuldade para se manter de pé.

"O Newseum teve o papel louvável de lembrar a milhões de visitantes que a história do jornalismo é cheia de glórias, mas também de trabalhos malfeitos, que a informação pode ser libertadora e a desinformação, repressiva, e que a liberdade de imprensa sempre está sob ameaça", escreveu Michael Hiltzik no Los Angeles Times.

O destino do Newseum reflete um setor mergulhado em uma crise cada vez mais profunda.

Milhares de jornais americanos encerraram suas atividades devido a problemas financeiros. O emprego nas redações caiu cerca de 25% na última década em todos os meios, quase metade no setor de jornais, segundo o Pew Research Center.

Público visita exposição sobre as primeiras páginas de jornais no Newseum em Washington
Público visita exposição sobre as primeiras páginas de jornais no Newseum, em Washington - Olivier Douliery - 19.12.2016/AFP

A confiança na imprensa também está diminuindo. Segundo uma pesquisa Gallup divulgada em setembro, cerca de quatro em cada 10 adultos americanos confiam "muito" ou "bastante" nos jornais, TVs e rádios, comparado com 70% na década de 1970. 

O público dos últimos dias do Newseum disse que sentirá falta do local. Cathy Cawley, de Ashland, Virgínia, contou que veio visitar o museu pela segunda vez antes de seu fechamento, por suas exposições "expansivas e bonitas". 

"Estava observando a parede que mostra a exposição sobre jornalistas mortos durante o exercício de sua profissão e percebi o quão importante é uma imprensa livre."

Julia Greenwald, professora de inglês em uma escola de Washington, trouxe um grupo de estudantes antes do fechamento do museu.

"É um dos melhores museus de Washington. É triste que esteja fechando", lamentou.

"No contexto político atual, é muito importante que as crianças aprendam o valor de uma imprensa livre."

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