Ernesto volta a criticar FHC e ex-ministros por artigo que condena política externa de Bolsonaro

Chanceler brasileiro defendeu alinhamento entre Brasil e EUA e criticou a imprensa

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Bauru

Em uma nova série de mensagens publicadas no Twitter neste domingo (10), o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, voltou a criticar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, além de ex-ministros e ex-embaixadores que assinam um artigo publicado na Folha e em outros jornais na sexta-feira (8).

Ernesto classificou o artigo, que condena a política externa brasileira do governo de Jair Bolsonaro, como um "mantra patético", que tenta "compensar com estridência a falta de ideias".

O chanceler também tratou com ironia o espaço dado pela imprensa aos autores. "Uma mentira publicada em quatro 'grandes' jornais vale infinitamente menos do que uma verdade escrita num papel de pão", escreveu o chefe do Itamaraty.

Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, durante seminário em Brasília - Adriano Machado - 21.nov.19/Reuters

O artigo, assinado por FHC, Aloysio Nunes Ferreira, Celso Amorim, Celso Lafer, Francisco Rezek, José Serra, Rubens Ricupero e Hussein Kalout, manifesta "preocupação com a sistemática violação pela atual política externa" dos princípios que orientam as relações internacionais do Brasil, apontando, entre outros motivos de críticas, a subserviência em relação aos Estados Unidos.

"Não se pode conciliar independência nacional com a subordinação a um governo estrangeiro cujo confessado programa político é a promoção do seu interesse acima de qualquer outra consideração."

Para Ernesto, "não há qualquer subserviência" no Brasil.

"Forjamos uma aliança de iguais entre duas imensas democracias, Brasil e EUA, uma aliança que, antes de mais nada, é para defender essa Democracia que vocês [autores do artigo] tanto temem porque já não conseguem manipulá-la. Aliança para promover a liberdade no mundo", argumenta o ministro na rede social.

Na prática, entretanto, o alinhamento entre Jair Bolsonaro e Donald Trump, presidente dos EUA, reforça o cenário apontado pelos autores do artigo. Em abril, por exemplo, a Folha mostrou que o Brasil seguiu os EUA e deixou de apoiar uma resolução da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas que criou um acordo de cooperação internacional contra o coronavírus.

FHC e os ex-ministros condenam ainda, entre outros aspectos da atual gestão do Itamaraty, o "voto na ONU pela aplicação de embargo unilateral" contra Cuba, que rompeu uma tradição de 27 anos da diplomacia brasileira, o "apoio a medidas coercitivas em países vizinhos" e "o desapreço por questões como a discriminação por motivo de raça e de gênero".

Na sexta (8), Ernesto já havia chamado os autores do artigo de "paladinos da hipocrisia" e disse que eles precisavam "aprender como se defende a Constituição".

"Se querem implementar de novo seus falidos projetos de política exterior para servir a um sistema de corrupção e atraso, muito bem", escreveu o ministro, no Twitter, no dia em que o artigo foi publicado.

"Apresentem esse projeto ao povo e disputem uma eleição. Não fiquem usando a Constituição como guardanapo para enxugar da boca a sua sede de poder."

Neste domingo, Ernesto também disse que a política externa do governo Bolsonaro tem defendido a Constituição brasileira da "intromissão de organismos internacionais com agendas próprias e opacas".

"Aqui temos o Brasil com mais prestígio do que jamais teve junto a quem conta, junto a povos e governos de verdade, e não junto à mídia uniformizada mundial, essa grande bolha de bolhas, máquina de propaganda e desinformação a serviço de poderes totalitários."

O ministro, entretanto, não mencionou em que aspectos o Brasil teve um aumento de prestígio no cenário internacional. A gestão de Bolsonaro no enfrentamento à pandemia de coronavírus, por exemplo, tem sido alvo de críticas da imprensa estrangeira.

Editorial do jornal The Washington Post o elegeu o pior líder durante a pandemia. O inglês The Guardian disse que o presidente era um perigo para os brasileiros. O Financial Times, também inglês, o chamou de “crise ambulante”. Outras publicações fizeram charges e ilustrações satirizando o presidente brasileiro.

Para Ernesto, FHC e os outros autores do artigo crítico ao governo Bolsonaro vivem em uma "bolha" e não são capazes de enxergar "como é o Brasil de verdade, como é o mundo de verdade".

"As linhas de batalha estão traçadas: agora é Brasil x Bolha. E me orgulho de dizer que agora, graças ao presidente Jair Bolsonaro, a política externa faz parte do Brasil, o Itamaraty joga no time do Brasil, ajuda a furar essa bolha maligna que nos oprime e despreza."

Encerrando a sequência de postagens, Ernesto publicou uma mensagem de Dia das Mães, com os dizeres: "Feliz dia para ti, mãe gentil, pátria amada".

Acompanhando o texto, uma foto de apoiadores do governo Bolsonaro vestidos com bandeiras do Brasil, durante um dos protestos em Brasília que têm pedido, entre outras coisas, o fim do isolamento social como medida de contenção contra a Covid-19 e o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF).

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