Um polêmico aplicativo que já foi acusado de incentivar perseguição policial contra negros nos EUA agora se tornou uma arma dos manifestantes que protestam contra essas mesmas forças de segurança.
O programa, Citizen (cidadão), permite ao usuário acompanhar informações da polícia, dos bombeiros e de ambulâncias da região onde vive, alertando assim a ocorrência de crimes ou distúrbios nas proximidades.
Agora, ativistas em manifestações usam a ferramenta para saber onde estão os policiais, enquanto quem quer evitar os protestos utilizam o aplicativo para desviar de ruas bloqueadas.
Desde que os protestos contra o racismo e a violência policial eclodiram nos EUA, no dia 25 de maio, o número de usuários da plataforma disparou.
Segundo a revista Forbes, ao menos 600 mil pessoas passaram a usar a ferramenta na última semana, o que elevou o total de usuários ativos do Citizen para cerca de 5 milhões.
De acordo com o site App Annie, que monitora a popularidade de aplicativos, nesta terça (9) o Citizen era o quinto app mais popular na loja da Apple na categoria de notícias —à frente, por exemplo, de gigantes como CNN, Google News e The New York Times. Ele também está disponível para Android.
Foi uma virada e tanto para um aplicativo que chegou a ser banido da loja da Apple em 2016, pouco após o lançamento, acusado de promover uma mentalidade de justiça com as próprias mãos.
Na época, o app se chamava Vigilante e funcionava principalmente para alertar usuários sobre crimes que aconteciam nas proximidades. As pessoas eram estimuladas então a fazerem vídeos do suspeito com o aplicativo.
Entidades de defesa dos direitos humanos, porém, logo alertaram que esse tipo de ação facilitava a discriminação contra negros e outras minorias nos EUA e estimulava o chamado "racial profiling", a perseguição a determinados grupos raciais em abordagens policiais.
Segundo o site Fast Company, o aplicativo então alterou seu nome para Citizen e mudou seu objetivo: deixou de ser uma ferramenta de combate ao crime e passou a ter foco no aumento da segurança dos usuários.
Criado pela startup americana Sp0n, fundada pelo programador Andrew Frame, ex-assessor do Facebook, o Citizen tem interface bastante simples: um mapa em preto e branco com pontos que indicam incidentes que podem ameaçar a segurança do usuário.
Para isso, a ferramenta monitora frequências de rádio de serviços de emergência —o famoso 911— nas 18 cidades americanas em que está disponível.
O software transcreve o áudio das conversas e usa um algoritmo para buscar palavras-chaves. Assim, determina se o incidente em questão é uma ameaça a segurança. Em caso positivo, um analista humano é avisado para decidir se o caso deve ser incluído ou não no mapa.
A plataforma agrega informações de diferentes órgãos e emite alertas de maneira mais rápida que os aplicativos oficiais de emergência usados nos EUA.
Também inclui funções de rede social, que permitem aos usuários incluir comentários e vídeos em cada ponto de incidente.
Ainda que tenha se tornado um sucesso entre ativistas, o app também passou a ser utilizado por agentes de segurança para receberem alertas de casos de vandalismo durante os protestos.
Da mesma forma, jornalistas também aderiram à ferramenta para acompanhar as manifestações.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.