Antes acusado de discriminação, app agora ajuda ativistas durante atos nos EUA

Protestos nos EUA transformam polêmico aplicativo em fenômeno do dia para a noite

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São Paulo

Um polêmico aplicativo que já foi acusado de incentivar perseguição policial contra negros nos EUA agora se tornou uma arma dos manifestantes que protestam contra essas mesmas forças de segurança.

O programa, Citizen (cidadão), permite ao usuário acompanhar informações da polícia, dos bombeiros e de ambulâncias da região onde vive, alertando assim a ocorrência de crimes ou distúrbios nas proximidades.

Agora, ativistas em manifestações usam a ferramenta para saber onde estão os policiais, enquanto quem quer evitar os protestos utilizam o aplicativo para desviar de ruas bloqueadas.

Desde que os protestos contra o racismo e a violência policial eclodiram nos EUA, no dia 25 de maio, o número de usuários da plataforma disparou.

Manifestantes checam seus celulares durante manifestação em Ohio
Manifestantes checam seus celulares durante manifestação em Ohio - Seth Herald - 1º.jun.20/AFP

Segundo a revista Forbes, ao menos 600 mil pessoas passaram a usar a ferramenta na última semana, o que elevou o total de usuários ativos do Citizen para cerca de 5 milhões.

De acordo com o site App Annie, que monitora a popularidade de aplicativos, nesta terça (9) o Citizen era o quinto app mais popular na loja da Apple na categoria de notícias —à frente, por exemplo, de gigantes como CNN, Google News e The New York Times. Ele também está disponível para Android.

Foi uma virada e tanto para um aplicativo que chegou a ser banido da loja da Apple em 2016, pouco após o lançamento, acusado de promover uma mentalidade de justiça com as próprias mãos.

Na época, o app se chamava Vigilante e funcionava principalmente para alertar usuários sobre crimes que aconteciam nas proximidades. As pessoas eram estimuladas então a fazerem vídeos do suspeito com o aplicativo.

Entidades de defesa dos direitos humanos, porém, logo alertaram que esse tipo de ação facilitava a discriminação contra negros e outras minorias nos EUA e estimulava o chamado "racial profiling", a perseguição a determinados grupos raciais em abordagens policiais.

Segundo o site Fast Company, o aplicativo então alterou seu nome para Citizen e mudou seu objetivo: deixou de ser uma ferramenta de combate ao crime e passou a ter foco no aumento da segurança dos usuários.

Criado pela startup americana Sp0n, fundada pelo programador Andrew Frame, ex-assessor do Facebook, o Citizen tem interface bastante simples: um mapa em preto e branco com pontos que indicam incidentes que podem ameaçar a segurança do usuário.

Para isso, a ferramenta monitora frequências de rádio de serviços de emergência —o famoso 911— nas 18 cidades americanas em que está disponível.

O software transcreve o áudio das conversas e usa um algoritmo para buscar palavras-chaves. Assim, determina se o incidente em questão é uma ameaça a segurança. Em caso positivo, um analista humano é avisado para decidir se o caso deve ser incluído ou não no mapa.

A plataforma agrega informações de diferentes órgãos e emite alertas de maneira mais rápida que os aplicativos oficiais de emergência usados nos EUA.

Também inclui funções de rede social, que permitem aos usuários incluir comentários e vídeos em cada ponto de incidente.

Ainda que tenha se tornado um sucesso entre ativistas, o app também passou a ser utilizado por agentes de segurança para receberem alertas de casos de vandalismo durante os protestos.

Da mesma forma, jornalistas também aderiram à ferramenta para acompanhar as manifestações.

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