Justiça colombiana ordena prisão domiciliar de ex-presidente Álvaro Uribe

Ex-mandatário deverá cumprir detenção provisória devido a ações de fraude processual e suborno

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Brasília

A Corte Suprema de Justiça da Colômbia ordenou nesta terça-feira (4) a prisão provisória do ex-presidente Álvaro Uribe, 68, em um processo em que ele é acusado de fraude processual e suborno.

Segundo a decisão, que foi tomada de forma unânime, a medida se justifica pelo risco de que o ex-mandatário obstrua as investigações e comprometa a produção de provas.

Uribe, que governou a Colômbia de 2002 a 2010, cumprirá prisão domiciliar.

O ex-presidente colombiano Álvaro Uribe durante entrevista coletiva em Rionegro
O ex-presidente colombiano Álvaro Uribe durante entrevista coletiva em Rionegro - Fredy Builes - 30.jul.18/Reuters

Em mensagem publicada no Twitter, ele afirmou que a prisão lhe causa "profunda tristeza" por sua esposa, por sua família "e pelos colombianos que ainda creem" que ele fez algo pelo país.

Atualmente no cargo de senador, o líder do Centro Democrático, mesmo partido do presidente Iván Duque, é um dos políticos mais poderosos das últimas décadas na Colômbia.

A detenção de Uribe, a primeira de um ex-presidente do país, é uma reviravolta em um processo movido por ele mesmo em 2012, contra um de seus maiores adversários, o senador esquerdista Iván Cepeda.

Segundo o ex-mandatário, Cepeda teria contatado ex-paramilitares para que envolvessem seu nome em atividades criminosas de grupos de extrema direita que combateram guerrilhas de esquerda do país.

Mas a Corte se absteve de acusar Cepeda e, em 2018, decidiu abrir uma investigação contra o ex-presidente, sob a mesma suspeita: a de manipular testemunhos contra seu opositor.

Caso condenado, Uribe pode pegar até oito anos de prisão.

Ele também é acusado de ter apoiado grupos paramilitares contra guerrilhas, estimulando a prática dos chamados “falsos positivos” —assassinatos de civis para atingir metas de mortes de guerrilheiros.

Segundo essa estratégia, as Forças Armadas distribuíam premiações em dinheiro, promoções e outros benefícios para os oficiais que apresentassem grande eficácia na eliminação de guerrilheiros.

Para receber esses prêmios, militares armavam arapucas no interior do país. Mas, em vez de guerrilheiros, civis eram mortos e vestidos de combatentes em cenários montados para simular os conflitos. Segundo a ONG Human Rights Watch, essa prática fez ao menos 2.500 vítimas.

Uribe foi um dos presidentes que mais concentraram poder no país, durante e depois de seu mandato.

Com índice de popularidade que continuava acima dos 55% oito anos após deixar o cargo, Uribe conseguiu que o acordo de paz entre o Estado e a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) fosse derrotado nas urnas e tivesse de ser aprovado de modo trôpego pelo Congresso.

Sua influência também determinou a vitória de seus dois sucessores, Juan Manuel Santos e Iván Duque.

A decisão pela prisão provisória de Uribe gerou reações divididas no mundo político colombiano.

A senadora Paloma Valencia, do partido de Uribe, afirmou estar do lado do ex-presidente. "Indigna-me como cidadã a perseguição a que ele foi sujeitado; e me dói como democrata a politização que percebo na Justiça. Não apenas creio na sua inocência, sei que é inocente", publicou a parlamentar no Twitter.

Duque, atual presidente, por sua vez, disse em pronunciamento que sempre considerará Uribe um "patriota genuíno" e que, devido a sua luta pelo país, ele se tornou alvo de mentiras. "Sou e serei sempre crente na inocência e na honra de quem com seu exemplo ganhou um lugar na história da Colômbia."

Cepeda, claro, celebrou a decisão. Afirmou em uma entrevista coletiva virtual que não há indivíduos que estejam acima da Justiça, "por mais poderosos que sejam". "É uma data transcendental. Quero reforçar o valor que damos a esta decisão. É uma decisão que nos ajuda a consolidar a democracia."

Reforçou, no entanto, que o processo penal está no começo e que o ex-presidente "tem todos os recursos para garantir seu direito à Justiça".

O senador colombiano Ivan Cepeda participa do debate sobre atividades paramilitares, no Senado colombiano em Bogotá - Germán Enciso - 17.set.2014/Xinhua
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