Descrição de chapéu China

Professora expulsa do Partido Comunista diz que Xi Jinping enfrenta forte oposição interna

Cai Xia, que deu aulas na Escola Central do Partido por 28 anos, acusa líder de 'matar o país'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Pequim | Reuters

A professora Cai Xia, que atuou na Escola Central do Partido Comunista da China durante 28 anos, disse em entrevista publicada nesta terça-feira (18) no jornal britânico The Guardian que o líder chinês, Xi Jinping, enfrenta ampla oposição interna e o acusou de “matar o país”.

Cai, que segundo o jornal não está mais na China, deu a entrevista em junho deste ano, após o vazamento de um áudio no qual ela chama Xi de “chefe da máfia”, e o Partido Comunista chinês, de “zumbi político”.

“Se o Politburo [comitê executivo do partido] tem qualquer senso de responsabilidade em relação ao povo, ao país e ao partido, deveriam substituir Xi”, disse Cai na gravação, ouvida pela agência Reuters.

O líder chinês, Xi Jinping, durante cerimônia em Pequim
O líder chinês, Xi Jinping, durante cerimônia em Pequim - Yan Yan - 31.jul.20/Xinhua

A professora foi expulsa do Partido Comunista nesta segunda-feira (17) em razão das declarações no áudio. Nesta terça, deu autorização ao Guardian para que a entrevista fosse publicada.

Segundo Cai, muitas pessoas de sua geração, que viveram as reformas de Deng Xiaoping, líder da China de 1978 a 1989, “sabem qual é o caminho certo e qual é um beco sem saída”.

A Escola Central do Partido, onde trabalhava, é uma instituição de ensino superior voltada para a formação política de altos oficiais do Partido Comunista. Importantes líderes chineses já foram diretores da instituição, como Mao Tsé-tung, Hu Jintao, líder do país de 2004 a 2013, e o próprio Xi.

Cai era professora da escola desde 1992, na área de políticas democráticas. “O Partido Comunista deixou de ser uma força de progresso na China e se tornou um obstáculo para o progresso”, disse ela. “Eu quis deixar o partido anos atrás, quando não havia mais espaço para falar, e minha voz era censurada.”

A acadêmica diz que Xi “matou o partido e o país” em 2018, quando aprovou a emenda à Constituição que aboliu limites de mandato e permitiu que uma mesma pessoa ficasse indefinidamente no cargo.

“Ele sugeriu a mudança e forçou o plenário nacional a aceitá-la. Mesmo com esses dois graves problemas, ninguém se opôs. O que significa que o partido não é capaz de corrigir erros.”

Cai era parte da elite política e intelectual do país. Ela é neta de um revolucionário que lutou ao lado de Mao na revolução comunista de 1949, responsável pela criação da China moderna.

De acordo com a Escola Central do Partido, Cai foi expulsa após fazer comentários “cheio de problemas políticos sérios” e que “prejudicaram a reputação do país”.

A professora disse que outros membros do partido concordam com ela, mas têm medo de falar e sofrer represálias, como acusações de corrupção. O crime pode levar à pena de morte na China.

“Em um ambiente como esse, o poder sem restrições de Xi leva a erros inevitáveis, como a resposta inicial ao coronavírus em Wuhan.” Pequim culpa políticos locais pela demora em comunicar a expansão do surto.

A expulsão de Cai é a mais recente de uma série de medidas de repressão contra intelectuais críticos ao partido e a Xi. Em julho, Xu Zhangrun, um professor de direito constitucional da universidade Tsinghua, passou dias preso após criticar o governo.

Xu publicou artigos na internet criticando o modo como o líder chinês lidou com a crise do coronavírus e a pressão de Pequim para aprovar a nova lei de segurança nacional em Hong Kong.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.