Em meio a protestos contra monarquia, rei da Tailândia devolve título à sua amante oficial

Enfermeira havia perdido honrarias em outubro de 2019; manifestantes também criticam governo

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Bancoc | Reuters

Enquanto a Tailândia enfrenta uma série de protestos contra a monarquia, o rei Maha Vajiralongkorn, 68, também conhecido pelo título de Rama 10º, restaurou nesta quarta-feira (2) o título de consorte real à sua amante, a enfermeira Sineenat Wongvajirapakdi, 35.

Na monarquia do país, o rei tem relações com outras mulheres além da rainha, que podem eventualmente ser elevadas ao título de consorte, mas isso não acontecia havia quase cem anos.

Vajiralongkorn é rei da Tailândia desde maio de 2019, após a morte de seu pai, Rama 9º, que reinou por 70 anos. Pouco antes da coroação, casou-se com a vice-chefe de sua segurança pessoal, Suthida Tidjai, 42, e a tornou rainha.

Sentado em um trono, o rei da tailândia posa ao lado da consorte real, sentada aos seus pés, no chão.
O rei da Tailândia, Maha Vajiralongkorn, posa ao lado da consorte real Sineenat Wongvajirapakdi em Bancoc - Royal Household Bureau/Reuters

Wongvajirapakdi havia perdido o título de consorte em outubro de 2019, em decisão anunciada por uma nota do palácio que a chamou de “ingrata” por criar uma rivalidade com a rainha Suthida. Após ser removida, Wongvajirapakdi desapareceu da vida pública.

Agora, com comunicado em jornal monarquista que a declara “imaculada”, a enfermeira recuperou o título, honrarias militares e posições dentro do palácio. O tabloide alemão Bild disse nesta quarta que ela havia desambarcado na Bavária, onde o rei da Tailândia passa a maior parte do ano.

A Tailândia tem tido protestos contra a monarquia e o governo nas últimas semanas —manifestantes exigem que o papel do rei e dos militares no governo seja diminuído e que uma nova constituição seja introduzida. Uma mudança à carta em 2016 ampliou os poderes da monarquia, que deixou de governar o país em 1932 após séculos de regime absolutista.

O país sofreu um golpe militar em 2014 e viveu cinco anos de ditadura até o anúncio de um retorno à democracia e eleições em 2019. Entretanto, Prayuth Chan-ocha, o primeiro-ministro do regime militar, venceu o pleito e continua no poder, e a Justiça baniu um partido de oposição em março de 2020, dando ampla maioria ao governo.

Em 16 de agosto, um protesto pedindo a renúncia de Chan-ocha reuniu cerca de 10 mil pessoas na capital, Bancoc, e teve críticas inéditas ao rei: manifestantes o compararam ao vilão Voldemort, aquele que não deve ser nomeado, da saga Harry Potter.

Em resposta, o primeiro-ministro disse que o parlamento consideraria as demandas dos manifestantes. O palácio real não se manifestou.

Na última terça (1), a polícia de Bancoc prendeu a presidente da União dos Estudantes da Tailândia, Jutatip Sirikhan, 21, sob acusações de ter organizado um dos protestos contra o governo e a monarquia em julho deste ano. O país tem uma das leis de lesa-majestade mais severas do mundo, e quem difamar, insultar ou ameaçar a instituição da monarquia pode pegar de 3 a 15 anos de prisão.

As acusações oficiais são de ataque à segurança interna e violar medidas sanitárias de combate ao coronavírus. Além de Sirikhan, dezenas de pessoas foram presas desde que os protestos começaram, em julho.

No dia 25 de agosto, o Facebook bloqueou um grupo antimonarquia com 1 milhão de membros após ordem do governo com base na lei de lesa-majestade. A empresa afirma que vai recorrer à Justiça.

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