Descrição de chapéu Armênia

Azerbaijão cede e admite negociação com Armênia pela primeira vez

Pressão internacional cresce após 11 dias de combates, e presidente azeri fala com Putin

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São Paulo

Na ofensiva desde o domingo retrasado, o Azerbaijão cedeu nesta quarta (7) e admitiu que pode negociar o fim do conflito com a Armênia sobre a disputada região de Nagorno-Karabakh.

Até aqui, Baku afirmava que só cessaria as hostilidades quando os armênios étnicos que comandam Karabakh cedessem o território aos azeris e Ierevan desocupasse os sete distritos em torno da região, que ocupa desde o fim da guerra de 1992-94.

Policial olha casa destruída em bombardeio na capital de Nagorno-Karabakh, Stepanakert
Policial olha casa destruída em bombardeio na capital de Nagorno-Karabakh, Stepanakert - Aris Messinis/AFP

"Quando a fase do confronto militar terminar, naturalmente, voltaremos à mesa de negociações", disse à TV Rússia 1 o presidente azeri, Ilham Aliyev.

Ele havia acabado de falar por telefone com o presidente russo, Vladimir Putin, o principal ator político da crise ao lado do líder turco Recep Tayyip Erdogan.

Putin faz nesta quarta 68 anos, e as congratulações foram a desculpa de Aliyev. Mais cedo, o russo havia dito que o conflito era "uma tragédia" e que a Rússia estava pronta para "cumprir suas obrigações como aliada da Armênia".

O recado foi claro. Moscou tem uma grande base militar, com tanques e caças, em Gyumri, no leste da Armênia. É herança do tempo em que o país fazia parte da União Soviética, e, em troca da permissão para ficar, os russos são obrigados a defender Ierevan em caso de agressão externa.

O quadro em Nagorno-Karabakh é confuso, dado que do ponto de vista internacional é um território azeri que se tornou autônomo. Mas já houve ataques em território armênio neste conflito, o pior desde a guerra ocorrida ao fim do império comunista.

Também nesta quarta, outro líder com peso no Cáucaso, o presidente iraniano, Hassan Rouhani, havia dito que era preciso impedir que o conflito se tornasse uma guerra regional. O Irã tem boas relações com os dois lados, mas apoia tacitamente Ierevan por jogar no time de Putin e para antagonizar-se com a rival Turquia.

A União Europeia expressou preocupações semelhantes e pediu um cessar-fogo incondicional na região.

O motivo é o apoio de Erdogan a Baku desde o começo da ofensiva. Adversária histórica da Armênia, a Turquia tem dado suporte material e militar aos azeris e é acusada tanto pela Rússia quanto pelo Ocidente de transferir mercenários islâmicos da Síria para seus aliados.

A fala de Aliyev indica uma inflexão e confirma que a ofensiva azeri tinha por objetivo descongelar o conflito. O problema todo, como os temores expressos no mundo todo mostram, é que isso saia de controle.

Além disso, há o custo humano. Os dados sobre vítimas dos combates são desencontrados e escamoteados: Baku não divulga suas baixas militares, por exemplo.

As forças armênias em Artsakh, como chamam Nagorno-Karabakh, contam 320 soldados e 19 civis mortos. O Azerbaijão admite 28 civis mortos e acusa a Armênia de bombardear cidades suas fora da região disputada.

Em Karabakh, o governo local estima que 50% dos 140 mil moradores já deixaram suas casas. Muitos deles foram para a Armênia, resultando numa onda de deslocados internos.

Menos poderosa militarmente, a Armênia já havia deixado sua posição de intransigência do começo dos combates e admitira, na sexta (2), que aceitaria um cessar-fogo negociado pelo chamado Grupo de Minsk, que reúne desde 1992 Rússia, Estados Unidos e França.

Além disso, o premiê Nikol Pashinyan admitiu que poderá fazer concessões a Baku. Sem citar, refere-se provavelmente à desocupação dos sete distritos em torno de Nagorno-Karabakh, que Ierevan usa como tampão contra ataques azeris ao território historicamente armênio que os soviéticos deram a Baku na divisão de poderes dos anos 1920 no Cáucaso.

Agora haverá um processo complexo de tratativas, que deverá ser centrado em Moscou. A chancelaria em Baku afirmou, também nesta quarta, que não haveria motivo para a Turquia ficar de fora de quaisquer discussões sobre paz regional.​

Pode fazer sentido, mas terão de combinar com os russos, no caso literalmente. E a relação entre Putin e Erdogan é ciclotímica, alternando parcerias no setor energético com embates militares quase diretos, como nas guerras civis da Síria e da Líbia.

Parece difícil que o russo dê espaço ao turco desta vez, e no mínimo deverá exigir que o processo seja centralizado pelo Kremlin, com um raro apoio ocidental.

Se lograr isso e o conflito terminar, terá ganho um grande presente diplomático de aniversário e resolvido um terço de seus problemas mais imediatos: os outros são a crise política na Belarus e a convulsão nas ruas do Quirguistão.

Mas há muitos obstáculos à frente, a começar pela violência no solo, bastante exacerbada.

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