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Orbán contra-ataca nas redes sociais frente ampla de oposição

Governo do premiê autocrata, no poder desde 2010, controla vários meios de comunicação; corrupção deve ser tema forte em campanha eleitoral

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Bruxelas

O premiê Viktor Orbán não ficou parado assistindo à frente ampla de oposição se organizar. Nos dez dias que se seguiram ao segundo turno em que Péter Márki-Zay foi escolhido como seu rival, ele multiplicou o repasse de verbas para contas de redes sociais pró-governo, de acordo com faturas públicas consultadas pelo site jornalístico independente Telex.

Parte do dinheiro foi para o Centro Megafone, apontado como um "gabinete do ódio" do círculo do premiê. Criado há um ano, o Megafone é "um centro de propaganda projetado para divulgar mensagens do governo", segundo a historiadora húngara Eva Balogh.

Idosa de casaco vermelho segura cartaz onde está escrito "Orbán Viktor A Lav Ju", ou seja, Orbán eu te amo, em letras vermelhas
"Orbán, eu te amo", diz cartaz segurado por manifestante durante "marcha da paz" em Budapeste, para comemorar o 65º aniversário do levante húngaro contra a ocupação soviética - Peter Kohalmi/AFP

A entidade que administra essa plataforma, segundo ela, recebeu no ano passado o equivalente a R$ 180 milhões "por meio de uma das muitas fundações falsas ligadas ao governo".

A campanha contra o opositor Márki-Zay também é feita por políticos e influenciadores ligados ao Fidesz e por dezenas de meios de comunicação controlados pelo governo autocrata.

Nos últimos anos, Orbán cassou a concessão de rádios e emissoras independentes, e jornalistas afirmam que empresários ligados a ele têm comprado jornais e sites noticiosos e interferido em
seu conteúdo
editorial.

Além de amplificar o volume, a campanha orbanista precisou também reorientar o alvo: até então centrada nos pré-candidatos progressistas, foi surpreendida com a vitória de um conservador.

A mensagem do governo agora é que a frente ampla não é mais que uma fachada manipulada pelo ex-premiê Ferenc Gyurcsány, um socialista que caiu em desgraça após o vazamento de um discurso em que ele dizia mentir ao povo húngaro.

"Esse colapso criou o vácuo ocupado em 2009 por Orbán, então um político de centro, que não assustou os húngaros", afirma Marcus Melo, professor de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco e colunista da Folha.

Ele aponta que, em estudos internacionais como a World Values Survey, a sociedade húngara sobressai à direita. O Fidesz, partido de Orbán, era em sua primeira eleição de centro-direita; a ultradireita era o nacionalista Jobbik.

Melo diz que a união das oposições é ainda mais importante na Hungria, não só porque ela é parlamentarista, mas porque, uma vez no poder, Orbán mudou as regras eleitorais do sistema distrital misto, favorecendo o Fidesz.

O fim do segundo turno nos distritos favoreceu seu partido, o maior, e nova regra de compensação desequilibrou ainda mais a representação. Em 2018, Orbán obteve os 66% dos assentos necessários para mudar a Constituição, com menos de 50% dos votos.

Já Jobbik, com 24% dos eleitores, levou apenas uma cadeira, ressalta Melo.

Além da união das siglas, os adversários de Orbán devem apostar na campanha anticorrupção, "um tema que é por excelência do campo da oposição", afirma Melo. O atual primeiro-ministro é acusado de ter montado um Estado mafioso, distribuindo empresas a amigos e a testas de ferro.

Márki-Zay não perdeu tempo ao aproveitar a deixa da jornalista Christiane Amanpour, da CNN, em entrevista na última quarta (20). "Um político cristão nunca pode aceitar a corrupção", respondeu ele quando ela questionou se Orbán também não recorre a valores religiosos para justificar suas políticas pró-família.

Também usou do mesmo veneno contra a campanha recente dos orbanistas, que o descrevem como um esquerdista disfarçado, e lembrou que o premiê militou na juventude comunista antes de migrar para o centro, depois para o conservadorismo e, agora, para o "antiprogressismo".

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