Um dos principais partidos de oposição na Hungria passou neste domingo (29) a apoiar os pedidos para que o primeiro-ministro do país, Viktor Orbán, substitua o chefe de um museu estatal devido a comentários antissemitas que comparam o empresário Geogre Soros ao ditador nazista Adolf Hitler.
Como parte de uma campanha massiva contra a imigração, Orbán, um populista de ultradireita, há anos difama Soros, um judeu húngaro que deixou o país após a Segunda Guerra Mundial. O premiê acusa a União Europeia de forçar a Hungria a aceitar imigrantes sob a influência do bilionário.
Em artigo publicado no sábado (28), Szilard Demeter, que dirige o Museu Literário Petofi e é comissário do governo para cultura, chamou Soros de "Fuhrer progressista" e escreveu que a Europa é a "câmara de gás" do empresário, com "gás venenoso" fluindo da cápsula da sociedade aberta e multicultural.
Demeter publicou um comunicado neste domingo afirmando que removeria o texto e que os críticos estavam certos, pois "o paralelo com o nazismo poderia, sem intenção, machucar a memória das vítimas".
Antes, grupos judaicos da Hungria classificaram o artigo de "imperdoável" e "uma terrível provocação".
O principal partido de esquerda da oposição, a Coalização Democrática, pediu a demissão imediata de Demeter. "Um homem como ele não tem lugar na vida pública, não apenas em um país europeu, mas em qualquer lugar do mundo", afirmaram.
O governo não respondeu a um email da agência de notícias Reuters sobre se as visões de Demeter são compartilhadas por membros da administração húngara.
Em referência ao impasse entre União Europeia, Hungria e Polônia em torno do orçamento do bloco, Demeter disse que poloneses e húngaros eram os "novos judeus", alvos dos progressistas que tentam expulsá-los da UE.
Os dois países firmaram uma aliança para bloquear a aprovação dos planos orçamentários do grupo e de ajuda para o período pós-pandemia devido a uma cláusula que condiciona o recebimento de verbas ao respeito ao Estado de Direito.
Tanto o governo húngaro quanto o polonês (comandado pelo partido de ultradireita Lei e Justiça) têm sido acusados nos últimos anos de tomarem medidas de caráter autoritário. Ambos são investigados pela própria UE por tentativas de interferência no Poder Judiciário e por ameaças à liberdade de imprensa.
A embaixada de Israel publicou no Twitter que rejeita profundamente "o uso e o abuso da memória do Holocausto para qualquer propósito". "Não há espaço para ligar o pior crime da história humana, ou seus perpetradores, a qualquer debate contemporâneo, não importa quão essencial ele seja."
Soros enfenta um embate com o governo de Orbán há anos devido ao apoio que dá a organizações instituições progressistas na Hungria. Em 2019, a Universidade Centro-Europeia, que ele fundou, disse ter sido forçada pelo governo a deixar o país e transferir a maior parte de suas operações a Viena.
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