Em discurso da vitória, Biden prega cura e restauração da alma dos EUA

Democrata manteve tom de união da campanha e afirmou que governará para todos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Wilmington (Delaware)

Foi diante de milhares de pessoas em Wilmington, cidade onde mora desde 1953, que Joe Biden fez seu primeiro discurso como presidente eleito dos EUA. Num pronunciamento de pouco mais de quinze minutos, o democrata disse que vai governar para todos os americanos e pregou a cura e a restauração da alma dos EUA.

"A Bíblia nos diz que para tudo existe um tempo, um tempo para construir, um tempo para colher, um tempo para semear. E um tempo para curar. Esta é a hora de curar na América", disse o democrata, o segundo presidente americano católico, depois de John F. Kennedy.

Joe Biden, presidente eleito dos EUA, faz seu primeiro discurso após vitória nas eleições
Joe Biden, presidente eleito dos EUA, faz seu primeiro discurso após vitória nas eleições - Jim Bourg/Reuters

O roteiro foi o mesmo que Biden tem seguido durante a campanha e desde o início da apuração. Em tom de união, disse que entendia a decepção dos que haviam votado no presidente Donald Trump e pediu uma chance, sob o argumento que é hora de deixar para trás uma era sombria e de divisionismo no país.

"Prometo ser um presidente que não vai dividir, mas unificar", afirmou. "É hora de colocar de lado a retórica dura, baixar a temperatura, nos vermos novamente, nos ouvirmos novamente e, para progredir, temos que parar de tratar nossos oponentes como nossos inimigos. Eles não são nossos inimigos. Eles são americanos."

Sob aplausos e buzinaço de apoiadores que o assistiam no estacionamento de um centro de convenções do maior município de Delaware, o presidente reforçou: "Deixe esta era sombria de demonização na América começar a terminar aqui e agora."

Biden disse que restauraria a alma do país ao reconstruir sua espinha dorsal, a classe média. Em 2016, parte dos trabalhadores se decepcionou com os democratas e preferiu votar em Trump, levando Hillary Clinton a uma amarga derrota.

O presidente eleito também listou suas prioridades iniciais de governo e disse que, a partir de segunda-feira (9), vai criar uma força tarefa para trabalhar sobre um plano de combate à pandemia do coronavírus, que já matou mais de 230 mil americanos e deixou mais de 11 milhões de desempregados.

"Nosso trabalho começa com o controle da Covid-19. Não podemos consertar a economia, restaurar nossa vitalidade ou saborear os momentos mais preciosos da vida até que tenhamos esse vírus sob controle."

De acordo com o democrata, o plano entra em ação dia 20 de janeiro de 2021, a data da posse do novo presidente americano, cumprindo sua promessa de campanha de trabalhar no combate à pandemia desde o "dia 1".

Diante das diversas investidas de Trump em não reconhecer a derrota e contestar na Justiça o resultado da eleição, Biden marcou o que chamou de "vitória clara e convincente", destacando seu número de votos recorde —74 milhões até agora—, a maior marca de um presidente eleito.

Apesar de os índices iniciais não mostrarem que ele conseguiu ampliar o arco para além do voto de eleitores democratas, Biden disse que fará um governo baseado na diversidade, citando progressistas, moderados, conservadores e minorias que diz terem composto sua campanha.

Deu destaque à comunidade de pessoas negras, um dos seus grandes alicerces de apoio, e citou sua vice, Kamala Harris, a primeira mulher negra a ocupar o cargo.

"Especialmente para aqueles momentos em que esta campanha estava em seu ponto mais baixo —a comunidade afro-americana se levantou novamente por mim. Eles sempre estão na minha retaguarda e eu estarei na deles."

Essa foi a terceira vez que Biden se pronunciou após ser declarado presidente. Mas a primeira diante dos eleitores e transmitida ao vivo pela TV.

Minutos depois de sua vitória ser projetada pela imprensa americanas, o democrata divulgou um comunicado dizendo que era hora de deixar a raiva e a retórica dura de lado e unir o país. "A democracia ainda bate fundo no coração da América."

No Twitter, o democrata também disse que se sentia honrado por ter sido escolhido presidente e ressaltou que o trabalho que tem pela frente "será árduo", mas prometeu ser um presidente para todos os americanos —"quer você tenha votado em mim ou não."

A festa em Wilmington, onde Biden vive desde 1953, estava sendo preparada desde quinta (5), quando a vitória do democrata começou a se desenhar.

Mas foi somente neste sábado, após quatro dias de apuração, que os eleitores do democrata puderam, enfim, comemorar: Biden foi declarado eleito.

Entre bandeiras e cartazes com o nome do democrata, centenas de americanos sorriam por debaixo das máscaras, dançavam, cantavam —e buzinavam!—no estacionamento do Chase Center, o centro de convenções da cidade, horas antes do discurso.

As lágrimas e gritos que combinavam alívio e felicidade deixavam para o dia seguinte a preocupação com problemas que não vão desaparecer com a troca de comando na Casa Branca. Mas, naquele momento, todos concordavam, as dificuldades ficariam para domingo (8).

"Hoje é só celebração. Temos que comemorar nossa vitória e amanhã a gente pode pensar como progredir e curar o país", disse Kana Morgan.

Ela resumia o sentimento que se espalhava entre grupos de jovens e velhos, negros e brancos, hispânicos e muçulmanos, que se reuniram para ver o novo presidente.

Em razão da pandemia, os eventos de Biden durante a campanha tiveram o acesso ao público e aos jornalistas bastante restrito, e os comícios de multidões foram trocados por discursos drive-in, com os carros em frente ao palco, tocando buzinas que faziam as vezes de aplausos.

E também foi assim neste sábado. Pouca gente conseguiu entrar de carro, porém, um multidão ficou do lado de fora, a pé e à espera de Biden.

Uma hora antes do discurso, muitas pessoas dançavam, coreografadas, em frente ao telão que reproduziria a fala do democrata. Ele que chegou em comboio às 20h09 (22h09 de Brasília) ao centro de convenções de Wilmington.

Entre guindates que erguiam duas bandeiras gigantes dos EUA, Biden e sua vice, Kamala Harris, a primeira mulher negra a ocupar o cargo, fizeram história.

Em uma disputa acirrada, transformaram Donald Trump no 5º presidente americano em 100 anos a não se reeleger.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.