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Apuração nos EUA dura quatro dias e vai de ilusão vermelha para vitória azul

Biden inicia contagem como favorito, vê crescimento de Trump, mas consolida votos necessários para chegar à Casa Branca

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São Paulo

Em quatro dias, diz a Bíblia, Deus separou o dia da noite, fez o céu, o sol e as estrelas e criou mar e terra. Pois os Estados Unidos demoraram o mesmo tempo apenas para definir quem será seu novo presidente.

Foi com emoção que Joe Biden foi escolhido o 46º líder da nação mais poderosa do mundo. Pesquisas erraram de novo, uma ilusão vermelha inicial se formou no início da apuração e foi seguida de uma longa espera pela contagem dos votos, até ocorrer a vitória azul.

A corrida entre o democrata e Donald Trump terminou apenas neste sábado (7), quando as projeções da imprensa americana deram vitória na Pensilvânia ao ex-vice de Barack Obama.

O novo presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, em discurso na noite de sexta (6)
O novo presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, em discurso na noite de sexta (6) - Angela Weiss/AFP

Em uma disputa marcada por tantas surpresas, foi um final um tanto previsível. As projeções apontavam havia meses uma chance em três de a eleição ser decidida na Pensilvânia —probabilidade maior do que em qualquer outro estado.

Com o resultado ali, Biden finalmente conseguiu ultrapassar a marca de 270 votos no Colégio Eleitoral, número necessário para ser eleito presidente —ele tem no momento 279 votos, depois de também em Nevada, contra 214 do rival.

No sistema eleitoral americano, a votação que define o presidente é, na verdade, um conjunto de 51 pleitos que ocorrem de maneira simultânea, um para cada estado mais o do Distrito de Columbia, onde fica a capital, Washington.

Isso porque cada estado tem número de votos no Colégio Eleitoral proporcional à população. A Califórnia, com 39,51 milhões de habitantes, por exemplo, tem direito a 55 representantes. Dakota do Sul, com 884,6 mil, a 3.

O vencedor em um estado leva todos os votos referentes a ele, com exceção de Maine e Nebraska, que dividem os delegados de maneira um pouco mais proporcional. No fim do processo, é eleito quem conquistar mais da metade dos votos no Colégio Eleitoral —270 dos 538 votos possíveis.

Assim, a senha para vencer é conquistar os estados onde a disputa é mais apertada. Na terça, último dia para os americanos depositarem os votos, as pesquisas não apontavam um favorito em 13 deles.

No resto do país, diga-se, não houve nenhuma surpresa durante toda a apuração. Biden venceu nos 17 estados onde era amplo favorito, enquanto Trump levou 19 dos 20 locais em que estava na mesma situação. A exceção é o Alasca, que está com sua contagem atrasada —o republicano, porém, tem quase 30 pontos percentuais de vantagem ali e dificilmente não sairá vencedor na região.

Com projeções que apontavam 90% de chances de vitória para Biden, seus apoiadores sonhavam com uma resolução rápida da disputa. Logo que a apuração começou, porém, essa esperança esvaiu-se quando a contagem indicou triunfo do republicano na Flórida, ainda na noite de terça.

O resultado contrariou as pesquisas, que apontavam o democrata na liderança. Os levantamentos, aliás, novamente subestimaram o voto no republicano, que teve mais apoio do que o esperado entre latinos no Sul e no geral no Meio-Oeste —região crucial para a vitória há quatro anos.

A partir da vitória na Flórida, o que se viu foi o presidente inicialmente vencendo uma série de estados-chave e, assim, mantendo suas chances de ser reeleito. Foi um feito e tanto para alguém que chegou ao último dia de disputa com 10% de possibilidades de vitória.

Trump também pulou na frente em outras regiões. Em parte, isso pode ser explicado pelo fato de que muitos estados contam o voto presencial —que favorece o republicano— antes dos votos antecipados, que incluem as cédulas enviadas pelo correio e são, em sua maioria, de eleitores democratas.

Diferentemente do que o presidente insinuou algumas vezes, só foi possível votar até a terça-feira da eleição, seja de maneira presencial ou a distância. Alguns estados, porém, aceitam que o voto por correio seja entregue até a próxima semana, desde que ele tenha sido enviado até 3 de novembro.

Ao vencer no Texas, em Iowa e em ​Ohio durante a madrugada, Trump fez muitos apoiadores de Biden temerem uma repetição de 2016, quando o republicano foi eleito ao conquistar a maior parte dos estados-chave, contrariando as pesquisas. Muitas pessoas que foram —ou, ao menos, tentaram— dormir naquele momento, no entanto, acordaram na quarta-feira (4) com um cenário bastante diferente.

A vantagem que o republicano tinha inicialmente construído nos estados que faltavam no Cinturão da Ferrugem —Wisconsin, Michigan e Pensilvânia— derretia conforme aumentava a contabilização de votos antecipados. De quebra, o democrata confirmou seu leve favoritismo em dois estados, Minnesota e New Hampshire. Na sequência, assumiu a liderança e depois teve a vitória declarada em Michigan e Wisconsin.

O pleito chegou à quinta-feira (5) com cinco estados de fato ainda em disputa, com Trump favorito na Carolina do Norte e quatro com margens muito próximas: Nevada, Pensilvânia, Geórgia e Arizona —este último, palco de idas e vindas que serviram para ilustrar todo o drama da apuração.

Os Estados Unidos não possuem um órgão eleitoral como no Brasil, que organiza, apura e divulga o resultado das eleições. Lá, cada estado é responsável pelas votações em seu território, e é a imprensa que agrega os resultados e os soma para que se saiba quem terá o maior número de delegados.

Assim, para declarar o vencedor, os veículos costumam analisar como está a apuração, que regiões do estado ainda precisam ser contabilizadas e as pesquisas de intenção de voto.

No Arizona, porém, houve divisão. Uma série de veículos —incluindo a agência Associated Press, o canal de TV Fox News e o jornal The Wall Street Journal— declarou a vitória de Biden no estado ainda na quarta, enquanto o jornal New York Times e a rede de TV CNN seguem classificando a disputa como indefinida.

Até a manhã de quinta, a AFP, agência de notícias que compila as informações do mapa eleitoral divulgado pela Folha, ainda contabilizava o estado para Biden. Como a vantagem caiu durante a noite anterior, a empresa recuou e voltou a classificar a disputa como indefinida. Isso porque a margem do democrata sobre o republicano despencou durante a madrugada, dando a esperança de uma virada para Trump.

Com Nevada e Carolina do Norte com atraso em suas apurações, as atenções de Biden se viravam para a Geórgia e a Pensilvânia, onde a situação era a oposta do Arizona, com a vantagem do presidente caindo a cada atualização da apuração.

Foi assim ao longo de toda a quinta-feira. Em ambos, a maior parte dos votos que ainda seriam contabilizados era de grandes centros urbanos —respectivamente Filadélfia e Atlanta—, que apoiam majoritariamente Biden.

Mas ninguém se arriscava a prever se e quando a virada aconteceria. Ela veio ainda na sexta (6) em ambos os estados, mas isso não era suficiente para ele garantir a eleição.

Voto a voto, democratas, republicanos e o resto do mundo faziam contas. Até que, no começo da tarde deste sábado, veio o esperado anúncio: Biden estava na frente na Pensilvânia. E foi assim, ao vencer o estado onde nasceu, que ele derrotou Trump e foi eleito presidente dos Estados Unidos.

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