O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy (2007-2012) será julgado na segunda-feira (23) em Paris por corrupção e tráfico de influência no chamado "caso das escutas telefônicas", tornando-se assim o primeiro ex-chefe de Estado a ser julgado por esses crimes na França em 60 anos.
As provas apresentadas no processo foram obtidas durante um inquérito aberto para apurar outras acusações: os procuradores suspeitavam que Sarkozy teria recebido recursos da ditadura líbia de Muammar Gaddafi para financiar a campanha eleitoral que o levou à Presidência, em 2007.
No curso dessa investigação, os juízes autorizaram um grampo no telefone de Sarkozy —foi assim que investigadores descobriram que ele tinha uma linha secreta na qual usava o pseudônimo “Paul Bismuth”.
Segundo os investigadores, algumas das conversas revelaram a existência de um pacto de corrupção. Junto com seu advogado, Thierry Herzog, Sarkozy teria tentado obter informações secretas do "caso Bettancourt" por meio do juiz Gilbert Azibert.
O caso envolve a herdeira bilionária da L'Oréal, Liliane Bettencourt. Sarkozy foi acusado de ter se aproveitado de sua senilidade mental para obter doações acima do teto legal e financiar sua campanha presidencial de 2007. A denúncia contra o ex-presidente nesse processo foi arquivada em 2013.
Azibert também teria tentado influenciar o julgamento de seus colegas magistrados. Em troca, Sarkozy teria prometido ajudá-lo a conseguir um cargo altamente cobiçado no Conselho de Estado de Mônaco.
Se condenado, o ex-presidente pode ter de cumprir uma pena de prisão de até dez anos e multa máxima de 1 milhão de euros (R$ 6,4 milhões). Herzog e Azibert também são réus no caso. O ex-presidente nega todas as acusações.
Grampos telefônicos
"Ele já está trabalhando nisso [ser nomeado]", disse Herzog a Sarkozy em uma ligação no início de 2014.
Azibert já era considerado um dos principais candidatos ao cargo de Mônaco, mas "se você der um empurrão, é sempre melhor", diz Herzog em outra conversa.
"Vou promovê-lo", disse Sarkozy a Herzog, de acordo com o inquérito. Mas, alguns dias depois, Sarkozy diz a seu advogado que não fará mais esse movimento junto às autoridades monegascas.
Segundo os promotores, o recuo do então presidente foi uma indicação de que os dois homens souberam que a linha telefônica estava grampeada.
O ex-chefe de Estado se defendeu novamente na sexta-feira (20) no canal de televisão BFM.
"O senhor Azibert nunca obteve um cargo em Mônaco. O Palácio de Mônaco publicou uma declaração dizendo que 'Nicolas Sarkozy não interveio' e todos os magistrados interrogados disseram que o senhor Azibert não interferiu no processo", disse ele.
No entanto, sob a lei francesa, o crime de corrupção pode consistir em simples ofertas ou promessas.
"Vou me explicar ao tribunal porque sempre enfrentei minhas obrigações", acrescentou Sarkozy. "Não sou corrupto." O ex-presidente há muito acusa o Judiciário francês de persegui-lo.
Ele voltará aos tribunais em março de 2021, junto com outras 13 pessoas, pelo suposto financiamento irregular de sua campanha para as eleições presidenciais de 2012.
A promotoria acusa a equipe de Sarkozy de usar um esquema de faturas falsas orquestrado pela empresa de relações públicas Bygmalion para gastar cerca de 43 milhões de euros (R$ 274,3 milhões no câmbio atual) na campanha, quase o dobro do limite legal.
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